Um exame ginecológico de rotina fez a costureira Eliara Campo da Silva das Chagas descobrir um câncer no colo do útero. Ela contraiu o vírus do carcinoma em uma relação sexual sem preservativo em 2022. O diagnóstico precoce e o tratamento eficaz fizeram com que ela conseguisse levar uma vida comum. As informações são do jornal Extra.
“Tive muito medo de morrer, de deixar minhas filhas”, contou Eliara. “Também fiquei culpada por não ter usado camisinha. O exame preventivo me salvou, porque eu não senti sintoma algum. Se eu não tivesse feito, não sei como teria sido. Na maior parte dos casos, a descoberta já é tarde.”
+ Leia mais sobre Brasil em Oeste
Em março, o Ministério da Saúde incorporou ao Sistema Único de Saúde (SUS) a testagem molecular para investigação da presença do vírus do HPV oncogênico, que pode causar câncer. Esse exame é o mais recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para detecção do câncer do colo do útero.
As vantagens do método incluem o resultado mais preciso e paciente e a paciente só precisa renová-lo a cada cinco anos — no caso do rastreio pelo exame tradicional, o papanicolau, o retorno é em três anos.
+ Acidente de avião me Vinhedo: veterinário perdeu voo por dois minutos de atraso
O exame pode ainda identificar lesões precursoras antes de surgirem alterações celulares significativas. O diagnóstico pode ser antecipado em até dez anos, o que resultaria na queda da incidência e da mortalidade pela doença no Brasil. Atualmente, o número de óbitos passa de seis mil por ano.
Um projeto-piloto desta testagem está sendo desenvolvido em Pernambuco para rastrear as infecções entre mulheres de 25 a 64 anos. O investimento feito foi de R$ 18 milhões. Até julho, quase 10 mil testes foram realizados, sendo 10% positivos para um ou mais subtipos de HPV de alto risco.
Os casos foram encaminhados para atenção especializada a fim de confirmar se era câncer. Se trata de uma parceria com a Secretaria de Saúde pernambucana, que faz o projeto Útero É Vida.
Conforme a Saúde, a intenção é que, daqui a alguns anos, a experiência do Pernambuco ajude a implantar uma estratégia nacional para controlar e, até mesmo, eliminar o câncer de colo de útero como um problema de saúde pública. Um grupo de trabalho está sendo o responsável pelo plano de ação.
Inca estima 17 mil novos casos de câncer
O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima em 17 mil novos casos da doença por ano. Trata-se do terceiro tipo de câncer mais frequente entre as mulheres no paós, sendo a quarta causa de mortes femininas pela doença. As vítimas, na maioria, são negras, pobres e com baixa escolaridade.
Ainda há discrepâncias de Estado para Estado, segundo o médico na Especialidade de Oncologia da Rede de Hospitais São Camilo, de São Paulo.
“As diferenças regionais são marcantes no Brasil”, relatou o médico. “As regiões Norte e Nordeste apresentam as maiores taxas de incidência e mortalidade, enquanto as regiões Sul e Sudeste possuem taxas menores.”
“Isso pode ser atribuído a fatores socioeconômicos, acesso desigual a serviços de saúde e diferenças na implementação de programas de rastreamento e vacinação contra o HPV, além de variações na conscientização e educação sobre a doença”, continuou.
O oncologista ressaltou a importância da detecção no começo do ciclo da doença para um tratamento bem-sucedido e a recuperação completa. “Quando diagnosticado precocemente, o câncer de colo de útero tem uma alta chance de cura: a taxa de sobrevida em cinco anos pode ultrapassar 90%”, relatou. “Isso, graças à possibilidade de intervenções cirúrgicas eficazes e tratamentos complementares.”
A tecnologia, que é desenvolvida no Brasil, tem capacidade de identificar 14 tipos do vírus HPV que podem causar lesões malignas. Flavia Miranda Corrêa, ginecologista e consultora médica da Fundação do Câncer Flavia Miranda Corrêa, apontou que uma estratégia que se espalhe pelo Brasil e inclua o novo teste rápido tem grandes vantagens, incluindo em termos de redução das desigualdades.
“A utilização dos testes traz uma série de benefícios”, explicou. “Em primeiro lugar, o novo método é mais custo-efetivo para os sistemas de saúde. Outro ponto é que teremos um aumento na detecção de lesões precursoras, possibilitando um encaminhamento mais efetivo para o tratamento e acompanhamento das pacientes.”
“E vai contribuir para a redução das desigualdades no acesso ao diagnóstico e tratamento do câncer do colo do útero”, continuou. “Com isso, o Brasil reforça seu compromisso com a prevenção e o enfrentamento do câncer, alinhando-se a estratégias preconizadas pela OMS para a erradicação do câncer do colo do útero, que recomenda que 70% das mulheres em todo o mundo sejam submetidas regularmente a um teste de alto desempenho.”