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O Brasil não é Lula e os EUA não são Trump

Nos últimos anos, a política internacional tem sido contaminada por personalismos que confundem líderes momentâneos com a essência de suas nações. Isso ficou evidente no recente embate entre o governo brasileiro e a administração norte-americana, especialmente com o presidente Donald Trump de volta ao poder e impondo tarifas abusivas contra o Brasil. No meio disso tudo, há uma narrativa perigosa ganhando força: a ideia de que o Brasil é sinônimo de Lula e os EUA, de Trump.

Essa confusão de identidades é um erro estratégico. Um erro que enfraquece a capacidade do Brasil de se defender como nação soberana, e que transforma disputas institucionais legítimas em brigas pessoais que não interessam ao povo, nem à economia.

O Brasil é maior que qualquer governo

O Brasil tem instituições, uma Constituição, um sistema produtivo robusto, uma população trabalhadora e uma base industrial e agrícola que vai muito além dos limites ideológicos de qualquer presidente. Reduzir o país a um projeto de governo, seja ele progressista ou conservador, é ignorar a diversidade de interesses que formam o tecido nacional.

Hoje, produtores rurais, empresários, exportadores e trabalhadores estão sendo atingidos por medidas retaliatórias motivadas por conflitos políticos entre o Palácio do Planalto e a Casa Branca. É inaceitável que a imagem e os interesses do Brasil no exterior sejam afetados por disputas que dizem respeito apenas ao campo político-partidário.

Os EUA não são Trump

Da mesma forma, os EUA são uma superpotência baseada em instituições centenárias, com um Congresso atuante, um sistema judiciário independente, uma economia descentralizada e uma sociedade plural. Donald Trump, com todos os seus excessos e posturas erráticas, não representa a totalidade da sociedade americana.

A tentativa de Trump de proteger aliados ideológicos fora dos EUA, não representa o consenso nem entre os próprios norte-americanos. Além disso, o uso de tarifas e sanções como forma de pressionar outros países, inclusive o Brasil, revela mais uma estratégia de chantagem comercial do que uma verdadeira política de Estado.

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Confundir a relação entre dois países com a simpatia (ou antipatia) entre dois líderes é infantilizar a diplomacia. O Brasil precisa se posicionar no cenário internacional com maturidade, defendendo seus interesses estruturais, como comércio justo, soberania sobre seus recursos naturais, e o fortalecimento de sua indústria e agricultura.

A crise recente envolvendo tarifas dos EUA sobre produtos brasileiros, supostamente motivada por perseguições judiciais a aliados de Trump no Brasil, é apenas mais um exemplo de como o personalismo gera distorções. O que está em jogo não é apenas o preço da carne ou da soja. É a soberania comercial do Brasil, o emprego de milhões de brasileiros e o respeito ao nosso sistema legal.

Conclusão

É hora de o Brasil assumir sua identidade como nação. Uma identidade que não pode ser sequestrada por governos de ocasião, tampouco serve de palco para disputas externas travadas por interesses que não nos representam. O Brasil não é Lula. Os EUA não são Trump.

Ao separar governos de Estados, recuperamos a lógica estratégica da diplomacia. Defendemos nossa economia com pragmatismo. E protegemos o futuro do país, com independência, maturidade e responsabilidade.

Miguel DaoudMiguel Daoud

*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural


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