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O financiamento rural está repleto de fragilidades: é necessário modernizá-lo

A retração registrada no Plano Safra 2024/25, com desembolso de R$ 373,2 bilhões frente aos R$ 421 bilhões do ciclo anterior, evidencia fragilidades importantes no modelo atual de financiamento do agronegócio brasileiro.

Apesar de o governo ter anunciado um volume recorde de recursos, apenas 78,3% do total programado foi efetivamente aplicado, revelando entraves de acesso, execução parcial do orçamento e limitações na estrutura de crédito. Esse cenário coloca em debate a sustentabilidade do modelo vigente e aponta para a necessidade de modernização dos instrumentos de financiamento rural.

Um dos principais pontos críticos é a forte dependência de linhas de crédito subsidiadas, que acabam restritas pelo teto fiscal e pelas condições orçamentárias do governo federal. Em anos de restrição fiscal ou alta nas taxas de juros, como ocorreu recentemente, a capacidade de atender à demanda dos produtores é comprometida, gerando frustração nas expectativas do setor.

Essa limitação afeta tanto o pequeno produtor, que precisa de capital de giro imediato para o custeio, quanto o grande, que busca financiamento para expansão e modernização tecnológica. Além disso, a burocracia e a lentidão no acesso ao crédito representam gargalos que desestimulam os produtores. Muitos enfrentam dificuldades em atender às exigências documentais e garantias impostas pelas instituições financeiras, especialmente agricultores familiares e cooperativas.

Esse quadro cria desigualdades dentro do próprio setor agropecuário, privilegiando os grandes grupos já estruturados e dificultando a inserção plena de pequenos e médios produtores nas cadeias de valor.

Outro aspecto que evidencia a fragilidade do modelo atual é a falta de diversificação das fontes de financiamento. Embora o crédito rural oficial seja um instrumento essencial, ele não tem sido suficiente para atender ao crescimento do agronegócio.

A baixa integração com mecanismos de mercado de capitais, fundos privados, seguros agrícolas e títulos verdes limita a capacidade de mobilizar recursos em larga escala e de forma contínua. Essa concentração torna o sistema mais vulnerável a crises fiscais e políticas, prejudicando o planejamento de longo prazo no campo.

A retração também aponta para a urgência de alinhar o financiamento com os novos paradigmas de sustentabilidade e inovação. Muitos produtores têm buscado investir em agricultura de baixo carbono, energias renováveis e práticas conservacionistas, mas a falta de linhas específicas, com juros acessíveis e prazos compatíveis, trava avanços mais significativos.

Uma coisa é certa: sem incentivos claros, o Brasil corre o risco de perder competitividade frente a países que já articulam crédito verde e fundos internacionais voltados para a produção sustentável.

A retração no desembolso do crédito rural não pode ser vista apenas como um efeito conjuntural, mas como um sinal das fragilidades estruturais do modelo de financiamento vigente. Para garantir a continuidade da liderança do agronegócio brasileiro, será fundamental ampliar as alternativas de crédito, simplificar o acesso, estimular parcerias público-privadas e integrar de forma mais efetiva o setor financeiro às demandas do campo.

Somente com um sistema de financiamento robusto, diversificado e inovador será possível sustentar o crescimento produtivo, a modernização tecnológica e a transição para uma agricultura cada vez mais sustentável e competitiva.

Tirso Meirelles, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp)Tirso Meirelles, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp)

*Tirso Meirelles é presidente do Sistema Faesp/Senar-SP. Economista e produtor rural, atua há décadas no fortalecimento da produção paulista


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