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O Nobel e o agro brasileiro

O Prêmio Nobel de Economia de 2025 foi concedido a Joel Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt, em reconhecimento a seus estudos sobre como a inovação — especialmente por meio do que se chama de “destruição criativa” — estimula o crescimento econômico sustentado.

Mokyr analisou os pré-requisitos culturais, institucionais e tecnológicos que permitem que as sociedades cresçam ao longo do tempo. Aghion e Howitt formularam modelos teóricos mostrando que empresas e tecnologias obsoletas são progressivamente suplantadas por novas, mais eficientes, criando ciclos de renovação produtiva.

Esse mote do Nobel ressoa fortemente com a trajetória do setor agropecuário brasileiro ao longo dos últimos 50 anos. O Brasil, que era visto como dependente de importações para praticamente tudo, investiu em pesquisa, extensão rural, melhoramento genético, agroindústria e logística. Instituições como a Embrapa, universidades, empresas privadas e produtores familiares introduziram inovações que transformaram solos, sementes, práticas de manejo e integração produtiva.

Resultado: hoje somos potência global em grãos, carnes, café, açúcar etc., com produtividade muito acima do que se via décadas atrás, e com melhor eficiência de uso de terra, água e insumos. Essa inovação tem sido a base de nossa segurança alimentar interna, abastecendo populações urbanas e rurais em todos os rincões do país, e de nossa capacidade de contribuir para alimentar o mundo.

Conforme expliquei numa palestra no evento Rio+Agro, no Rio de Janeiro, a inovação tornou-se um elemento importante na construção da nova realidade no campo. A missão do Sistema Faesp/Senar é exatamente aproximar os pequenos produtores das inovações tecnológicas e a sua capacidade de se adaptar com velocidade será o diferencial de competitividade. Estamos construindo oito centros de excelência, que irão fomentar as melhores práticas em agricultura familiar, turismo rural, agroindústria e irrigação, entre outros temas.

As ideias de Mokyr, Aghion e Howitt sugerem lições importantes para políticas públicas no agro: manutenção de ambientes regulatórios que favoreçam pesquisa, incentivo à competição saudável, estímulo ao empreendedorismo, proteção ao investimento em ciência e infraestrutura.

Quando o Brasil estimula universidades e centros de estudos, financia melhoramento genético e tecnologias de adaptação climática e apoia acesso a crédito para inovação, então o agro brasileiro não apenas consolida sua liderança mundial, mas também desempenha papel estratégico no combate às mudanças climáticas. Métodos como a integração lavoura-pecuária-floresta, sistemas de plantio direto, controle biológico e agricultura de precisão são exemplos concretos dessa capacidade transformadora.

Com esse foco, o agro deixa de ser visto apenas como fonte de matérias-primas, passando a ser protagonista de um modelo de desenvolvimento sustentável, justo e resiliente.

Frente a características naturais e emprego cada vez mais forte de tecnologia no campo, o resultado do Prêmio Nobel demonstra que o caminho para uma produção de alta rentabilidade e aproveitamento das áreas de cultivo passará, indubitavelmente, pela ciência. O emprego desta é irreversível, e estados e empresas privadas que não estiverem em acordo com essa prática ficarão para trás — não importa se em lucro, sustentabilidade ou práticas que poderão ser empregadas nas próximas décadas ou até mais.

*Tirso Meirelles é presidente do Sistema Faesp/Senar-SP. Economista e produtor rural, atua há décadas no fortalecimento da produção paulista


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