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o papel do ‘primeiro risco absoluto’ e das cooperativas

O seguro rural ainda é pouco difundido no Brasil. Apesar de sua importância para proteger o produtor contra eventos climáticos extremos, pragas e oscilações de mercado, muitos agricultores não têm acesso a esse instrumento por causa do custo elevado, da burocracia e da falta de informação.

A nova legislação sobre seguros cooperativos (LC 213/2025) e o modelo de primeiro risco absoluto (PRA) despontam como alternativas viáveis para mudar esse cenário.

O que é o primeiro risco absoluto (PRA)

O PRA é um modelo de seguro simplificado:

  • O produtor define uma importância segurada (IS), que é o valor máximo a ser indenizado.
  • Se ocorrer uma perda menor que a IS, a indenização é total; se for maior, o produtor arca com o que ultrapassar o limite.
  • Esse formato evita cálculos proporcionais e cláusulas complexas, facilitando a contratação e reduzindo o custo do seguro.

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Como funciona o cálculo

Para estruturar o seguro rural no modelo PRA, é preciso considerar:

  • Importância segurada (IS): valor máximo indenizável, calculado com base na produtividade esperada × área × preço de mercado.
  • Probabilidade de sinistro (p): chance de ocorrência de um evento climático ou de mercado.
  • Severidade (s): intensidade média da perda em caso de sinistro.
  • Prêmio puro: IS × p × s.
  • Prêmio bruto: inclui custos administrativos e margem da seguradora.
  • Subvenção pública: parte do prêmio financiado pelo governo para reduzir o custo ao produtor.

Exmplo prático: milho

  • Área: 100 hectares
  • Produtividade esperada: 8 t/ha
  • Preço estimado: R$ 1.200/tonelada
  • IS: R$ 960.000
  • Probabilidade (p): 10%
  • Severidade (s): 50%

→ Prêmio puro: R$ 48.000
→ Prêmio bruto: R$ 60.000 (com 20% de custos)
→ Subvenção de 50%: produtor pagaria R$ 30.000

Esse cálculo mostra como o PRA pode tornar o seguro mais transparente e acessível.

Cooperativas podem ser decisivas na expansão do seguro rural:

  • Reduzem custos administrativos, por conhecerem de perto a realidade dos associados.
  • Ajudam na coleta de dados de produtividade e zoneamento agroclimático, essenciais para cálculos atuariais mais justos.
  • Pela LC 213/2025, podem oferecer diretamente seguros mutualistas, criando uma rede de proteção com menor custo.

Apesar dos avanços, ainda há barreiras:

  • Assimetria de dados sobre perdas e clima.
  • Alto custo de operação para seguradoras.
  • Risco moral (produtores podem relaxar em medidas preventivas sabendo que estão segurados).
  • Necessidade de ampliar subvenções públicas.

Políticas de incentivo

  • Especialistas defendem medidas como:
  • Subvenção escalonada para pequenos e médios produtores.
  • Seguros cooperativos regionais.
  • Prêmios reduzidos para quem adota boas práticas de manejo e mitigação de risco.
  • Melhoramento do zoneamento agroclimático.
  • Produtos modulares simplificados.
  • Vinculação ao crédito rural, tornando o seguro condição para financiamento.

O modelo de primeiro risco absoluto, aliado à força das cooperativas e a políticas públicas bem estruturadas, pode ser a chave para expandir o seguro rural no Brasil. Ao reduzir custos, simplificar cálculos e aumentar a previsibilidade, o PRA oferece estabilidade de renda ao produtor e diminui a necessidade de socorro emergencial pelo Estado.

Miguel Daoud

*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural


Canal Rural não se responsabiliza pelas opiniões e conceitos emitidos nos textos desta sessão, sendo os conteúdos de inteira responsabilidade de seus autores. A empresa se reserva o direito de fazer ajustes no texto para adequação às normas de publicação.

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