Marisa Lobo – 03/06/2025 12h58

A recente legalização e incentivo à jogatina no Brasil — como vemos com a popularização do chamado “jogo das bets” e outras formas de apostas — levanta uma grave preocupação social e psicológica. O que, para muitos, parece ser apenas entretenimento, para outros se transforma em uma verdadeira armadilha emocional, mental e financeira.

Como psicóloga, tenho acompanhado de perto o sofrimento de homens, mulheres e até jovens que perdem o controle sobre seus impulsos e mergulham num ciclo devastador de apostas, perdas e desespero. Famílias inteiras estão sendo afetadas. Pessoas usam até mesmo o valor do Bolsa Família para apostar, na esperança de multiplicar o pouco que têm.

E esse “sonho de riqueza fácil” está cobrando um preço altíssimo: pobreza, desestruturação familiar, endividamento, depressão, ansiedade e, em alguns casos, pensamentos suicidas.

O que acontece no cérebro de um apostador?
A resposta está na neurociência do vício. As apostas ativam o sistema de recompensa do cérebro, liberando dopamina — o neurotransmissor do prazer e da motivação.

Esse mesmo sistema é ativado em vícios como o uso de drogas, álcool e pornografia. Assim, o cérebro passa a associar a jogatina à sensação de prazer e expectativa de recompensa, mesmo quando as perdas são evidentes.

O fenômeno é conhecido como “reforço intermitente” — o jogador perde, perde, perde… e de vez em quando ganha. Essa vitória ocasional é suficiente para manter o vício, pois gera uma falsa sensação de controle e esperança.

Isso é extremamente perigoso, pois o cérebro continua buscando o prazer da possível vitória, ignorando os prejuízos reais.

Um vício mascarado de diversão
As casas de apostas online e os jogos legalizados vendem a ilusão de que “qualquer um pode ganhar”. Com isso, milhares de pessoas são atraídas diariamente para esse universo; muitas delas já em vulnerabilidade emocional e financeira.

Assim como os antigos cassinos, os jogos de apostas modernas estão criando uma nova geração de dependentes, aprisionados em um ciclo de falsas promessas e culpa profunda.

É importante frisar que o vício em jogos de azar (jogatina) é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um transtorno mental — o chamado Transtorno do Jogo Patológico. Trata-se de um impulso incontrolável de continuar jogando, mesmo quando isso afeta negativamente a vida do indivíduo em várias esferas: emocional, relacional, social e financeira.

Impactos emocionais e espirituais
Além do dano psicológico e neurológico, precisamos considerar também o impacto espiritual. O desejo pelo “lucro fácil”, a fuga da realidade e a compulsão por apostas contrariam princípios como responsabilidade, equilíbrio e confiança em Deus como provedor.

A Bíblia nos alerta sobre isso:

“O que ajunta dinheiro com mãos enganosas diminui-o, mas o que o ajunta com trabalho terá aumento” (Provérbios 13:11).

“O amor ao dinheiro é a raiz de toda espécie de males…” (1 Timóteo 6:10).

Um alerta à sociedade e aos governantes
É urgente que psicólogos, líderes comunitários, autoridades e principalmente o governo compreendam a gravidade da legalização desenfreada das apostas. Não estamos diante apenas de um jogo, mas de uma política pública que pode fomentar o vício, a pobreza e a doença mental.

É hora de cuidar das famílias, dos jovens e das crianças que crescem vendo os pais perderem o salário em frente ao celular, apostando tudo, inclusive a esperança. Precisamos de campanhas de prevenção, tratamento acessível e, acima de tudo, valores morais que orientem nossas escolhas.

Que não nos calemos diante de uma nova forma de destruição social, agora travestida de diversão legalizada.

Marisa Lobo atua como psicóloga e psicanalista, é pós-graduada em Psicanálise; Gestão e Mediação de Conflitos; Educação de Gênero e Sexualidade; Filosofia de Direitos Humanos e Saúde Mental; tem também habilitação para magistério superior.

* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.

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