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O povo come pão, não ideologia

Durante anos, todo mês de julho, a Universidade de Coimbra, em parceria com o Parlamento Europeu, promove um curso de férias. Fui durante muitos anos convidado para dar uma palestra no evento, que contava com a presença de autoridades e professores de diversos países.

Em um desses anos, minha palestra foi ao lado do ex-presidente de Portugal Mário Soares. Depois de nossas apresentações, fomos almoçar. Minha falecida mulher, a advogada Ruth Vidal da Silva Martins, que sempre me acompanhava e também era cidadã portuguesa por conta de nossos ancestrais, aproveitou o almoço para indagar o ex-chefe do Poder Executivo lusitano.

Ela perguntou: “Senhor presidente, como o senhor, que sempre defendeu teorias socialistas e marxistas conseguiu, ao assumir a Presidência de Portugal, dialogar com todas as correntes políticas e ser considerado um presidente extremamente conciliador? Como o senhor conciliou sua ideologia com o exercício da presidência?”.

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A resposta do ex-presidente foi simples. “Minha senhora, o povo come pão, não come ideologia”, disse Soares. “Tive que ser presidente de Portugal, independentemente das minhas convicções, e tenho a sensação de que ocorre o mesmo no relacionamento com seu marido. Nós nos damos muito bem, apesar de termos correntes de pensamento diferentes. Sempre procurei dialogar, pois a política é feita de diálogo.”

Mário Soares foi um presidente que, depois a Revolução dos Cravos e já na fase mais aguda da Revolução de 25 de abril, quando foi eleito, deixou a Presidência com admiração total do povo português. Mesmo em suas visitas ao Brasil, quando esteve na Ordem dos Advogados, e em nossas idas a Portugal, sempre dialogava, apesar de suas convicções ideológicas.

A fala sobre o povo

O presidente dos EUA, Donald Trump, comenta as tarifas impostas a outros países no Rose Garden da Casa Branca, em Washington, DC, EUA - 2/4/2025 - Foto: Carlos Barria/ReutersO presidente dos EUA, Donald Trump, comenta as tarifas impostas a outros países no Rose Garden da Casa Branca, em Washington, DC, EUA - 2/4/2025 - Foto: Carlos Barria/Reuters
O presidente dos EUA, Donald Trump, comenta as tarifas impostas a outros países no Rose Garden da Casa Branca, em Washington, DC, EUA — 2/4/2025 – Foto: Carlos Barria/Reuters

A fala do ex-presidente de Portugal, de que “o povo come pão, não come ideologia”, é uma profunda reflexão e exatamente o que precisamos aplicar no Brasil. Atualmente, enfrentamos uma grave crise com o governo dos Estados Unidos. Estou convencido de que o principal fator para isso foram os discursos agressivos e gratuitos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra o seu homólogo norte-americano, Donald Trump.

Ao contrário, o presidente Javier Milei, da Argentina, por exemplo, não sofreu nenhuma represália. Assim, o hermano tem tido benefícios do governo norte-americano, inclusive em nível de tarifas. Nós poderíamos ter vantagens semelhantes por estarmos no mesmo continente, mas isso se nosso discurso fosse mais coerente com o de um país ocidental e de livre iniciativa, tal qual prevê a Constituição brasileira em seu artigo 170. Desse modo, não estaríamos vivenciando essa terrível crise.

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Sinto, ao conversar com cada empresário, as grandes dificuldades que eles enfrentam ao buscar canais próprios para solucionar a questão do tarifaço de 50% aos produtos brasileiros e convencer o presidente Trump a ouvir o Brasil. Isso pesar dos ataques de Lula.

Não é verdade que estamos discutindo questões relativas à soberania nacional, pois ninguém está invadindo o Brasil. O que está em pauta é o comércio internacional: tarifa é matéria econômica, mas pode trazer consequências gigantescas para um país com um Produto Interno Bruto de apenas US$ 2,1 trilhões se entrar nessa guerra inútil com uma nação cujo o PIB está em torno de US$ 30 trilhões.

É fundamental que tentemos levar o governo a conversar e dialogar. É preciso não agir como o presidente Lula, que fica gritando, atacando e chamando o governo Trump de imperador do mundo.

Precisamos de diálogo. Como disse acima, a questão é econômica, não estando em discussão a soberania nacional. Vale, pois, refletirmos sobre isso.

Leia também: “Lula e mais 50% de problemas”, artigo de Adalberto Piotto publicado na Edição 278 da Revista Oeste

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