Produtor! Abre o olho, porque o que eu vou te contar hoje não é achismo de WhatsApp nem previsão de guru de Instagram. É um número frio, vindo de quem acompanha o mercado de perto: IBGE, Cepea, Conab, Safras & Mercado, Itaú BBA e até o que o pessoal está falando nos leilões físicos e virtuais. E o recado é um só: nos próximos 4 a 6 meses, o boi gordo vai ficar mais caro. Muito mais caro.
E o melhor: você, pecuarista, tem o poder de lucrar como há muito tempo não se via, desde que entenda o jogo e não caia na armadilha de vender tudo agora achando que “já subiu bastante”.
Vamos por partes, como quem explica pro vizinho no bar do sindicato.
O ciclo virou, e virou de verdade durante quatro anos a gente abateu fêmea que nem louco. Resultado? Rebanho encolhendo e abate em 2025 já caindo 5,6% (quase 2 milhões de cabeças a menos). Em 2026, a queda prevista é de 7,5%. Traduzindo: tem menos boi gordo chegando no gancho todo santo dia. Quem segurou matriz e novilha em 2024 e 2025 está rindo à toa. Quem não segurou… vai ter que comprar bezerro entre R$ 3.800 e R$ $4.200 em 2026 para repor.
A China não largou o osso de janeiro a outubro exportamos 2,79 milhões de toneladas, 16,6% a mais que em 2024. Ela sozinha levou 53,7%. E sabe o que aconteceu com a tarifa americana de 50%? O boi que ia pros EUA foi redirecionado para a Ásia. Resultado: menos carne sobrando no mercado interno. Em 2026, a produção brasileira de carne bovina deve cair para 10,37 milhões de toneladas. Disponibilidade para brasileiro? Apenas 51,3 kg/ano. É o menor volume em anos.
A arroba já bateu R$ 340 e ainda tem fôlego Em São Paulo, a referência está entre R$ 335 e R$ 340 para o boi China. Tem região pagando R$ 345–R$ 350 no boi precoce. E o varejo? Cortes de primeira já passaram dos R$ 60/kg em várias capitais. O consumidor reclama, mas continua comprando, o emprego está baixo (5,4%) e o churrasco de fim de semana ainda é sagrado.
O que esperar de dezembro 2025 até março 2026?
Dezembro: tradicional alta de fim de ano + menor oferta de pasto = arroba testando R$ 350–R$ 360 em SP.
Janeiro/Fevereiro: período crítico de seca + abate de fêmeas menor = oferta ainda mais curta.
Março: entrada da safra de pasto pode dar uma aliviada… mas só um pouco. A maioria dos analistas aposta em arroba entre R$ 370 e R$ 400 até o meio do ano.
O que você, pecuarista, precisa fazer AGORA :
- a) Segure o boi gordo que tiver condição. Cada arroba a mais vale ouro nos próximos 90 a 120 dias.
- b) Trave preço no mercado futuro ou faça parcerias com frigoríficos. Tem planta oferecendo bônus de R$ 15 a R$ 20 sobre a referência para entrega em fevereiro/março.
- c) Continue segurando fêmea. O bezerro em 2027/2028 vai valer muito mais do que hoje.
- d) Cuidado com o boi magro. O repasse da alta da arroba para o magro já começou. Quem comprar bezerro agora vai pagar caro e engordar caro.
Produtor, esse é aquele momento que aparece uma vez a cada 8 a 10 anos: o ciclo está do seu lado. Não é o governo, não é o frigorífico, não é o varejo que está mandando no preço agora. É a lei da oferta e da procura, e a oferta está minguando.
Então respira fundo, faz as contas no papel, conversa com seu técnico e com o comprador que você confia, e toma a decisão certa.
Porque, como diz o velho ditado da pecuária: “Quem vende boi no fundo do poço chora. Quem vende no topo do ciclo conta dinheiro até cansar.”
E o topo do ciclo, meu amigo, está chegando.
“O boi tá do seu lado, companheiro… agora é só não fazer aquele show de mágica clássico: pisar no próprio casco , dá três cambalhotas para trás, chutar o balde de dinheiro pro meio do curral e ainda levar um coice da vaca que você vendeu baratinho ano passado!”

*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural
O Canal Rural não se responsabiliza pelas opiniões e conceitos emitidos nos textos desta sessão, sendo os conteúdos de inteira responsabilidade de seus autores. A empresa se reserva o direito de fazer ajustes no texto para adequação às normas de publicação.


