John Lennon demonstrando seu profundo desagrado por uma das canções antigas dos Beatles não era nada incomum. Durante os anos 1970, ele parecia encontrar grande prazer em se sentar com jornalistas e discursar sobre como os Beatles não eram tão bons assim no início, insinuando que ele, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr teriam conseguido enganar o público de maneira histórica.
Isso não quer dizer que ele criticava tudo, mas se desse a Lennon tempo suficiente, ele conseguia identificar falhas em quase qualquer música do vasto catálogo dos Beatles. De fato, seria possível montar uma playlist interessante só com as faixas que ele julgava aquém do padrão do grupo. Lennon, aliás, fez uma dura crítica ao álbum solo de estreia de Paul McCartney, chamando-o de “um lixo” – uma expressão que Lennon frequentemente utilizava em suas avaliações.
Embora suas críticas pudessem parecer aleatórias, Lennon geralmente mirava nas canções que ele considerava menos autênticas em relação a sua visão artística. As críticas mais severas eram frequentemente direcionadas às músicas que ele e seus colegas escreveram. Chamar “Good Morning Good Morning” de “lixo” ou considerar Abbey Road como “bobagem” era uma coisa, mas menosprezar o trabalho de outros artistas era outra história.
Nos primeiros anos, os Beatles não eram grandes compositores, e como muitos grupos da época, passaram boa parte desse período fazendo covers de clássicos do rock and roll. Lennon e o restante da banda admiravam profundamente artistas como Chuck Berry e Buddy Holly, sempre tecendo elogios a essas lendas. Por isso, quando Lennon resolveu criticar uma das performances mais memoráveis dos Beatles, ele mais uma vez voltou a crítica para si mesmo.
Uma das maiores influências dos Beatles, especialmente no começo e meio de sua carreira, foi o R&B americano. Paul McCartney, por exemplo, inspirava-se muito no baixista da Motown, James Jamerson, e George Harrison tinha o desejo de gravar o álbum Revolver no famoso estúdio Stax Records, em Memphis. Além disso, a banda incluiu inúmeros covers de soul, R&B e rock and roll em seu repertório ao longo dos anos. Nomes como Little Richard, Arthur Alexander, Smokey Robinson e Larry Williams foram creditados em seus discos, e Lennon acreditava que essas escolhas não eram aleatórias.
Não é surpresa, então, que um dos primeiros grandes sucessos dos Isley Brothers tenha entrado para o repertório ao vivo dos Beatles na forma de “Twist and Shout”. Lennon liderava essa performance com intensidade, e o sucesso foi tanto que a banda gravou a faixa durante as sessões de Please Please Me. Naquele dia, Lennon estava com a voz debilitada, então eles conseguiram registrar apenas uma única tomada, capturando uma energia crua que exemplificou o auge da banda.
Segundo o Ultimate Classic Rock, “Twist and Shout” foi registrada em uma exaustiva sessão de gravação do álbum de estreia Please Please Me (1963), que tomou boa parte do dia dos integrantes. No livro Beatles Anthology, o produtor George Martin revelou que estava ciente de que a música exigia vocais mais potentes, por isso decidiu deixá-la para o final da sessão. Apesar dessa tática, Lennon não conseguiu impedir que sua voz sofresse com o esforço.
“[‘Twist and Shout’] quase me matou […] Minha voz não foi a mesma por muito tempo. Toda vez que eu engolia, era como uma lixa. Sempre tive uma vergonha amarga disso, porque eu poderia cantar melhor do que isso, mas agora não me incomoda,” falou Lennon em uma entrevista divulgada no Beatles Anthology.
O artista deu continuidade: “Você pode ouvir que sou apenas um cara frenético fazendo o melhor. Cantamos por 12 horas, quase sem parar. Estávamos resfriados e estávamos preocupados em como isso afetaria o disco.”
De acordo com Martin, os Beatles fizeram dois takes da música e, ao término da gravação, Lennon estava completamente sem voz. No entanto, o esforço pareceu compensar, já que “Twist and Shout” foi selecionada para encerrar o icônico álbum de estreia dos Fab Four.
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