Rafael Satiê – 08/04/2025 12h22

Dia 2 de abril de 2025 ficará marcado nos livros de história como o “Dia da Libertação da América”. No forte discurso do presidente Trump, ele fez questão de ressaltar que as tarifas não serão renegociadas até os países pagarem uma boa quantia para os Estados Unidos, em compensação aos anos em que só os EUA ofereciam vantagens comerciais.
Impondo tarifas a todos os países ao redor do mundo, Trump tem como objetivos renegociar a impagável dívida americana (esse que é o maior problema interno americano), reindustrializar os Estados Unidos e reativar as fábricas na região conhecida como cinturão de ferro e, por fim, mas não menos importante, mudar a dinâmica de comércio global.
Mais de 50 países já entraram em contato com os EUA para renegociar as tarifas. Muitos já ofereceram tarifas zeradas, como o presidente Javier Milei, que tem um grande interesse em fazer um acordo bilateral com os Estados Unidos.
Para a maioria dos países, incluindo o Brasil, as taxas foram de 10% com o intuito apenas de ajustar a balança comercial entre esses países.
Se, de fato, as tarifas fossem recíprocas, o Brasil seria tarifado em muito mais do que 50%. Durante anos, produtos brasileiros entraram nos Estados Unidos com baixíssimas taxas de importação, enquanto a maioria dos produtos e empresas americanas são severamente taxadas quando oferecem seus produtos e serviços no Brasil.
Além disso, diferentemente da taxa da blusinha da Shein, imposta pelo presidente brasileiro, Trump pretende criar uma relação de igualdade entre os EUA e os seus parceiros comerciais.
Qual tipo de negociação ou vantagem Lula tentou negociar com os parceiros comerciais quanto tributou em 94% produtos importados? Nenhuma. Foi apenas uma medida para encher os cofres públicos em cima do cidadão que já paga ISS, ICMS, IPI, IPTU, IPVA, IRPF e afins.
Voltando aos EUA, foi necessário apenas uma semana depois do anúncio das tarifas para gerar um sentimento de incerteza capaz de gerar um prejuízo de 2,1 trilhões de dólares na bolsa americana. A bolsa americana perdeu, em um dia, tudo que o Brasil produziu durante todo o ano de 2023. O sentimento de incerteza é tão grande que ativos como ouro e juros futuros começaram a variar como na crise do subprime de 2008.
Para Trump, a política tarifária pode custar grande parte do apoio do seu eleitorado, pois, 70 milhões de americanos possuem fundos de previdência e juntos eles possuem 11 trilhões de dólares, dos quais 6 trilhões estão alocados em ações e isso representa seis vezes a riqueza total do Brasil.
Com o anúncio das tarifas, em apenas um dia, essas pessoas perderam 300 bilhões em investimentos, algo como 4 mil dólares que sumiram da aposentadoria de cada um deles. Diferentemente do brasileiro a maioria dos americanos coloca suas reservas em ações da bolsa e, nesse momento, estão vendo suas economias serem reduzidas.
Se a política tarifária continuar vigorando, o consumo mundial tende a cair e gerar uma recessão; com isso, Trump pode renegociar grande parte da dívida de 36 trilhões de dólares dos EUA. Caso isso não aconteça, o outro grande objetivo dos EUA tende ser o afogamento econômico da China através das taxas e do deslocamento das fábricas, negociando zonas de livre comércio com aliados e isolando os chineses.
O resultado a longo prazo? Produtos mais caros e menos consumo no mundo todo. A longo prazo? A quebra da China.
A política econômica de Trump vai mudar a dinâmica do comércio mundial para sempre e, a curto prazo, pode ser um remédio amargo demais para o povo americano. A guerra fria entre EUA e China (e outros países que nada tem a ver com a disputa dos titãs econômicos) já tem uma vítima certeira: suas populações.
Nesses tempos, vale a pena lembrar o que Ronald Reagan falava sobre tarifas: “A história nos ensinou uma lição importante: o comércio livre serve à causa do progresso econômico e à causa da paz mundial. Quando os governos se envolvem demais no comércio, os custos econômicos aumentam e as disputas políticas se multiplicam. A paz é ameaçada”.
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Rafael Satiê é vereador pelo Rio de Janeiro. |
* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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