António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), reconheceu que o volume de reuniões e relatórios produzidos pela entidade internacional se tornou insustentável.
Em 2024, a organização realizou cerca de 27 mil reuniões com 240 órgãos diferentes. O resultado foi a emissão de aproximadamente 1.100 relatórios — a maioria ignorada pelo próprio sistema.
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“Muitos desses relatórios não são amplamente lidos”, disse Guterres. “Cerca de 5% dos documentos são baixados mais de 5.500 vezes, enquanto um em cada cinco relatórios recebe menos de 1.000 downloads. E baixar não significa necessariamente ler.”
A crítica veio acompanhada de um alerta. Segundo o secretário-geral, a avalanche de demandas e documentos está levando a ONU ao limite.
Guterres apresentou os dados com base em um relatório produzido pela força-tarefa ONU80, criada em março para mapear como os funcionários da entidade aplicam as decisões emitidas por instâncias como a Assembleia Geral e o Conselho de Segurança.


ONU propõe reforma estrutural para reduzir burocracia
A ONU80 propôs uma reforma estrutural, com foco na redução da burocracia e no aumento da eficiência. Entre as sugestões, está o corte no número de reuniões e a produção de relatórios mais enxutos, que atendam de fato às diretrizes relevantes.
Desta forma, a proposta vem em um momento delicado para organização, que completa 80 anos sob forte pressão orçamentária. A ONU enfrenta uma crise de liquidez desde 2017. Nem todos os 193 países-membros têm cumprido o pagamento integral e pontual de suas contribuições obrigatórias.
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A força-tarefa também identificou que os gargalos não se limitam ao financiamento. O acúmulo de decisões pouco claras, a duplicação de funções e o excesso de formalismos tornaram o funcionamento da ONU mais lento e ineficiente.
Nesse sentido, Guterres defende mudanças profundas. Segundo ele, a organização precisa recuperar a capacidade de ação em vez de se perder em documentos relegados.