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OPINIÃO: 4 x 0 no Peru: não é hora de suspirar, mas de respirar

Até a metade do primeiro tempo, não foi o jogo que se queria, mas o que se temia. Brasil com a bola, tentando usar a extensão do campo para desorganizar um adversário recuado e exultante com o resultado. A necessária movimentação de jogadores para que essa ideia funcione aconteceu, mas a circulação da bola, crucial, não foi correspondente. Um chute de Raphinha no travessão, aproveitando a bola que chegou a ele por casualidade, foi o mais perto que a seleção chegou de destravar o sistema de defesa peruano até Igor Jesus ser lançado por Gerson e Zambrano tocar na bola com a mão ao ser driblado. Pênalti que Raphinha converteu, na desconfortável posição de ser obrigado a se comportar como se quisesse vencer o jogo em Brasília.

Encontros como esse costumam ser entidades totalmente distintas, separadas pelo evento do primeiro gol. Desde que, é claro, o time em vantagem siga pressionando e trabalhando para fazer valer sua superioridade técnica. Em geral, quem defende o 0 x 0 com a vida não sustenta essa organização quando se vê em desvantagem, e o resultado tende a ser uma atuação com mais falhas e gols cedidos. O gol de Raphinha aconteceu no minuto 37, de modo que o Brasil tinha todo o segundo tempo para apresentar um futebol agradável que acompanhasse a vitória e encerrasse a data Fifa com sensações otimistas. Em casa, diante de um oponente débil e com meio caminho já percorrido, é difícil imaginar um cenário mais atraente.

Não demorou mais do que cinco minutos. Em um contra-ataque, uma impossibilidade até então, Savinho recebeu passe de Raphinha e foi derrubado por Zambrano na área. Outro pênalti, outro gol de Raphinha, e o placar já era suficiente para diminuir a pressão até os encontros com Venezuela e Uruguai, no mês que vem. Ficou ainda melhor com o aproveitamento dos espaços pela qualidade dos jogadores do Brasil, como se viu nas jogadas do terceiro – cruzamento de Luiz Henrique, voleio de Andreas Pereira – e quarto – mais um lance individual de Luiz Henrique, finalizando de pé esquerdo – gols. Não foi exatamente “um segundo tempo” melhor da seleção, mas tudo o que aconteceu após o 1 x 0, de fato, o instante decisivo da noite.

É correto mencionar a fragilidade do adversário para não correr o risco de supervalorizar uma atuação e um resultado que, sim, ambos, eram necessários para melhorar a classificação e a imagem da seleção. Mas só é possível vencer um oponente por vez e, se golear uma das piores seleções do continente é o que se espera da seleção brasileira, deixar de fazê-lo certamente seria um motivo para o retorno do mau humor – e da análise convenientemente preguiçosa – que tem caracterizado a cobertura recente dos jogos do Brasil. Por cerca de um mês, talvez, a ladainha a respeito da “falta de nível” do grupo atual será pausada, o que ao menos poupa ouvidos e olhos já cansados desse pachequismo tolo.

Não é o momento de suspirar, mas de respirar. Se a data Fifa não terminasse com seis pontos somados, a atual gestão da CBF sentiria um desejo irresistível de conceber mais uma mudança na comissão técnica, dando sequência à sabotagem que atrapalha a seleção há quase dois anos.

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