O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Mark Rutte, afirmou nesta segunda-feira, 14, que países como Brasil, China e Índia poderão ser atingidos por sanções secundárias caso mantenham relações comerciais com a Rússia sem pressionar o governo de Vladimir Putin por um cessar-fogo na guerra contra a Ucrânia.
De acordo com Rutte, Trump demonstrou frustração com a postura do presidente russo nas recentes tentativas de negociação de paz. “Trump estava realmente irritado com esse último telefonema com Putin, que parece não estar levando a sério os acordos de paz e as negociações de cessar-fogo”, afirmou, em entrevista à emissora Fox News.
Nesse contexto, o presidente norte-americano estipulou um prazo de 50 dias para que novos avanços ocorram, sob pena de sanções não apenas à Rússia, mas também a países que fazem negócios com Moscou. “Se você está em Pequim, ou em Délhi, ou está no Brasil e sabe que isso está vindo para você, talvez queira ligar para Vladimir”, disse.
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Segundo Rutte, os representantes destas nações deveriam pressionar os russos a encerrarem a guerra. “‘Ei, amigo, ainda estamos comprando coisas de você, mas você precisa ficar sério quanto às negociações de cessar-fogo ou de paz’”, afirmou. “‘Caso contrário, seremos atingidos pelas sanções secundárias.’”
A medida, segundo ele, faz parte de uma estratégia de pressão coordenada: “Haverá também um efeito direto na Rússia, é claro, mas isso é realmente significativo e foi inteligentemente planejado pelo presidente.”
Rutte ressaltou que o apoio dos países europeus ao fornecimento de armamentos à Ucrânia continua a crescer. Ele elogiou a decisão dos aliados de aumentarem seus orçamentos de defesa, com meta de elevar os gastos militares a 5% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2035. “Esse é um dos maiores sucessos da política externa do presidente Trump”, avaliou.
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Segundo o secretário-geral, o envio de armas aos ucranianos por meio de países europeus, em vez de diretamente pelos Estados Unidos, tem razões logísticas e financeiras. “A Otan é boa em logística”, explicou. “Então, conseguimos levar as armas para a Ucrânia de forma que elas possam ser usadas com máxima eficácia.”
Quanto ao custeio, Rutte afirmou: “Trump disse, e eu entendo totalmente, que quer entregar essas armas à Ucrânia, mas a Europa precisa pagar por isso”, afirmou. “E acho que isso é justo.”
Para o chefe da Otan, a estratégia atual visa a deixar a Ucrânia na posição mais forte possível quando eventuais negociações de paz forem retomadas. Ele também destacou que o impacto econômico da guerra sobre a própria Rússia já está em curso e que as medidas adicionais devem intensificar essa pressão.


Rutte denunciou ainda o risco de uma ação coordenada entre Rússia e China em eventual conflito em Taiwan, ao mencionar a possibilidade de Putin ser mobilizado por Xi Jinping para abrir uma nova frente na Europa.
“Se Xi atacasse Taiwan, ele provavelmente faria uma ligação ao seu parceiro muito júnior nisso tudo, Putin, dizendo: ‘Ei, vou fazer isso e preciso que você os mantenha ocupados na Europa atacando o território da Otan’”.
O secretário-geral encerrou a entrevista com um elogio à liderança de Trump e à sua abordagem direta. “Os outros 31 líderes [da Otan] reconheceram que ele é alguém absolutamente claro sobre o que quer alcançar, está comprometido com a Otan (…) e esse compromisso com a Otan é inabalável.”
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