
Os carrapatos continuam entre os maiores inimigos da bovinocultura, provocando perdas financeiras que afetam diretamente a renda do produtor rural. Pesquisas recentes da Embrapa Pecuária Sul mostraram caminhos promissores para enfrentar essa praga, apresentando animais mais tolerantes e produtivos.
A raça brangus, utilizada como base no estudo, vem demonstrando resultados consistentes em campo ao reduzir infestações e diminuir a dependência de produtos químicos. Esse avanço representa uma alternativa de baixo custo e grande impacto econômico para quem trabalha com cria, recria e engorda.
A iniciativa começou em 2009, quando a equipe de pesquisadores buscou soluções acessíveis para atender às demandas de pecuaristas brasileiros. Como o brangus já apresentava certa tolerância natural ao parasita, a raça foi escolhida como base para desenvolver linhagens resistentes.
O grupo utilizou ferramentas de mapeamento genético para identificar regiões do genoma associadas à defesa contra o carrapato. A partir dessa seleção, foi possível multiplicar indivíduos com maior capacidade de resposta imune e menor infestação.
Os cientistas destacam que a resistência ao carrapato depende de vários fatores combinados. A reação do animal à picada, a força do sistema imunológico e até a habilidade de se limpar sozinhos influenciam diretamente o resultado.
Com mais de 100 mil marcadores genéticos avaliados, a pesquisa identificou os genes favoráveis à tolerância e direcionou cruzamentos. Assim, a tecnologia oferece uma forma eficiente de melhorar o desempenho do rebanho, sem elevar custos operacionais.
Genética resistente reduz infestações e garante mais produtividade
A raça brangus tem história na Embrapa desde a década de 1950, quando foi criada a partir do cruzamento de angus com zebuínos como brahman e nelore. Com o passar dos anos, o rebanho evoluiu e ganhou destaque pela rusticidade, adaptação climática e boa performance no campo. Agora, a nova resistência ao carrapato agrega ainda mais valor a essa genética, tornando-a uma opção estratégica para diversas regiões do país.
Testes realizados em campo comprovaram que animais resistentes apresentaram até um terço a menos de infestação. Para chegar a esse número, os pesquisadores realizaram uma infestação controlada de larvas do carrapato Rhipicephalus microplus e fizeram a contagem de parasitas sobreviventes após determinado período. Essa metodologia permite comparar indivíduos da mesma raça, identificar os mais eficientes e selecionar os melhores reprodutores.
Os prejuízos causados pelo carrapato impressionam pela dimensão global. Estima-se que o parasita cause perdas de até US$ 30 bilhões por ano no mundo. Além disso, cada carrapato presente no bovino reduz o ganho de peso diário em 1,37 grama. Quando se calcula esse impacto ao longo de todo o ciclo produtivo de um novilho, o resultado chega a aproximadamente R$ 750 a menos por animal. Essa redução no desempenho influencia diretamente a rentabilidade da fazenda, prolongando o tempo até o abate e encarecendo a produção.
Tecnologia já chega a produtores
Com os resultados positivos comprovados, reprodutores com genética resistente ao carrapato já começam a ser multiplicados em propriedades rurais. A perspectiva é que a adoção desse material genético cresça rapidamente, especialmente entre produtores que enfrentam dificuldades para controlar a praga de forma química. Além de reduzir custos com produtos veterinários, os animais apresentam ganho de peso mais rápido e maior segurança sanitária.
A estimativa da Embrapa mostra que um único touro resistente pode gerar até R$ 28 mil adicionais na renda da fazenda ao longo de sua vida útil. Esse valor representa o ganho distribuído entre os descendentes que herdam a característica, trazendo mais peso, menor custo e eficiência reprodutiva. Como consequência, o pecuarista passa a trabalhar com mais previsibilidade e maior retorno por hectare.
Outro benefício importante está na redução do uso de produtos químicos. Com menor necessidade de aplicações, o produtor economiza e diminui o risco de resistência parasitária, problema comum quando o tratamento é repetido por longos períodos. Ao mesmo tempo, a pecuária se torna mais sustentável, atendendo às exigências de mercados que valorizam boas práticas ambientais e sanitárias.
Inovação genética coloca a pecuária em novo patamar
A combinação entre pesquisa avançada, seleção genética e validação a campo coloca a pecuária brasileira em posição de destaque. A adoção de animais resistentes ao carrapato não apenas reduz prejuízos, mas também melhora o bem-estar do rebanho e fortalece a competitividade do setor. Em um cenário em que produtividade e sustentabilidade caminham juntas, tecnologias como essa mostram que inovação é caminho direto para maior rentabilidade.
Com a genética evoluindo rapidamente, o produtor ganha ferramentas para enfrentar desafios históricos com mais eficiência. A resistência ao carrapato representa uma mudança concreta dentro das porteiras, ajudando a construir uma pecuária mais forte, moderna e preparada para o futuro.
*Sob supervisão de Hildeberto Jr.


