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Pesquisadores do Paraná criam gel cicatrizante à base de tilápia

Pesquisadores da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) desenvolveram um gel cicatrizante que trata feridas em animais.

O gel é produzido a partir de um ativo à base da pele da tilápia, por alunos e professores do Departamento de Ciências Farmacêuticas (Defar) e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas (PPGCF).

Os resultados mostram diminuição na área machucada a partir de uma semana de tratamento.

O coordenador da pesquisa na instituição, professor Flavio Luís Beltrame, afirma que atualmente utilizam o gel no tratamento de feridas em gatos e cachorros, com resultados positivos.

“Estamos aplicando o gel contendo o hidrolisado do colágeno da tilápia na parte machucada do animal, fazendo uma reestruturação da pele”. Flavio destaca que a pesquisa não sacrifica tilápias vivas para a extração do produto.

Do colágeno da tilápia ao gel cicatrizante

O gel é produzido a partir de um hidrolisado de peptídeos – que são pedaços de proteína do colágeno,  obtidos pelo processo de hidrólise (quebra de uma molécula em partes menores pela adição de uma molécula de água).

Este material vem do laboratório do professor Eduardo César Meurer, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Campus de Jandaia do Sul.

Na UEPG, ele chega na forma líquida. O grupo da Universidade, então, faz a secagem e transforma o material em um pó, utilizando-o como ativo farmacêutico em forma de gel.

Uma pesquisa promissora

A ideia surgiu há cerca de quatro anos, a partir da pesquisa do grupo do professor Meurer, que é químico e queria testar o produto extraído na UFPR.

“Como dentro do nosso grupo trabalhamos com ensaios biológicos e atividade terapêutica, iniciamos essa parceria”, recorda Flavio Luís Beltrame. A pesquisa iniciou com o então mestrando do PPGCF, Rodrigo Tozetto, que é médico-veterinário.

O estudo propôs avaliar a atividade antimicrobiana cicatrizante do produto.

Segundo Tozetto, as análises ocorreram in vitro e in vivo, para a elaboração do gel: “observamos que, com a aplicação do gel, a cicatrização de feridas e queimaduras foi mais rápida, comparado a outros fatores”.

De acordo com o professor Beltrame, os ensaios clínicos e testes pré-clínicos com ratos e camundongos, todos sob autorização do Comitê de Ética em Pesquisa, obtendo resultados de cicatrização significativos.

Agora, a equipe também estuda outras frentes, analisando a estabilidade físico-química da formulação do gel, além de ensaios clínicos do produto com finalidade veterinária.

“Estamos analisando o tratamento de feridas que os veterinários chamam de primeira e segunda intenções, que são aquelas feridas feitas por uma incisão numa castração do animal, ou quando o animal sofre algum trauma, por exemplo”.

Resultados positivos nos animais

Assim, os pesquisadores da UEPG transformam o hidrolisado de peptídeos de colágeno da tilápia em pó pela facilidade na manipulação do material.

A mestranda Ana Carolina Ventura destaca que o processo de secagem permite transformar a substância em várias formas farmacêuticas.

“No caso do meu projeto, estou testando um hidrogel, e é importante agora sabermos o prazo de validade deste produto, e como ele se comporta em condições de temperatura e umidade, por exemplo”.

A testagem ocorre também em alguns animais. “Aplicamos esse hidrogel duas vezes ao dia nos animais que estamos acompanhando, e já observamos uma melhora, uma retração desse tecido ferido a partir de uma semana”.

Além disso, algumas variáveis podem influenciar no tempo de tratamento, a depender do estado de saúde do animal. Os pesquisadores avaliam que o tratamento completo pode durar em torno de 35 dias.

O grupo já acompanha cerca 44 animais tratados, dentre cães e gatos. Um desses pets é a Pixy, gata de aproximadamente dois anos, que foi resgatada da rua com feridas nas pernas e barriga.

Foto: Jéssica Natal/UEPG

A doutoranda Anna Claudia Capote acompanha a gatinha desde o primeiro dia de tratamento. “Foi difícil vê-la machucada nos primeiros dias, mas foi muito interessante ver a evolução, o fechamento da ferida. Agora ela está muito alegre e brinca com a gente”, conta.

Próximos passos

Em 30 de setembro, a equipe recebeu reconhecimento no Programa de Propriedade Intelectual com Foco no Mercado (Prime), de iniciativa da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti).

A ação premiou pesquisadores que tiveram iniciativas de destaque. Em parceria com a Fundação Araucária e o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Paraná (Sebrae-PR), o Prime nasceu com a missão de aproximar o conhecimento acadêmico do mercado.

Foi a primeira vez que o prêmio veio para a UEPG. O projeto recebeu um certificado de excelência e um cheque simbólico no valor de R$ 200 mil.

“A partir desse valor, planejamos fazer todo o processo, desde a extração da proteína da pele da tilápia, aqui na UEPG, até a produção de mais produtos, para dar mais variedade em nosso portfólio”, acrescenta o professor Flávio.

“Acreditamos nas patentes que geramos desta tecnologia e esperamos encontrar universidades e empresas parceiras para a comercialização”, completa.

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