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Petrobras mira o agro e transforma o Matopiba em prioridade estratégica até 2050

A Petrobras decidiu assumir de vez que o futuro da empresa passa pelo campo. Ao anunciar que pretende crescer ao menos 60% no fornecimento de energia primária até 2050, a presidente Magda Chambriard deixou claro que a estatal só conseguirá manter sua fatia de 31% da matriz energética brasileira se acompanhar o ritmo do agronegócio, hoje o maior consumidor de diesel do país. É por isso que regiões como o Matopiba, onde a fronteira agrícola avança e a demanda por energia cresce mais rápido do que a infraestrutura disponível, se tornaram prioridade absoluta da companhia.

Mesmo com restrições legais para atuar no mercado de distribuição tradicional até 2029, a Petrobras quer ampliar a venda direta de combustíveis para grandes consumidores do agro, cooperativas, tradings, transportadoras e produtores com alto volume de consumo. Isso abre uma porta importante para o setor, especialmente em áreas onde o abastecimento ainda é instável e os custos logísticos pressionam a rentabilidade. No Matopiba e no Centro-Oeste, onde a produção cresce e a logística patina, ter a Petrobras como fornecedora pode significar mais segurança, mais concorrência e, potencialmente, menor custo no tanque e no frete.

A aproximação, porém, não é apenas comercial, é estratégica e estrutural. A estatal sabe que o Brasil não fará uma transição energética rápida. Diesel, biocombustíveis e gás continuarão sendo a espinha dorsal das próximas duas décadas. E sabe também que não existe transição energética sem o agronegócio, porque a substituição gradual dos combustíveis fósseis por combustíveis renováveis depende diretamente da produção agrícola. Etanol, biodiesel, biogás, SAF (combustível sustentável de aviação) e diesel coprocessado são todos produtos que conectam a indústria energética ao campo. A Petrobras precisa do agro para produzir biomassa em escala, e o agro precisa da Petrobras para transformar essa biomassa em energia limpa, competitiva e disponível.

Essa interdependência redefine a relação entre energia e produção rural. Crescer com o agro significa crescer com o Brasil real, o Brasil que planta, colhe, exporta e movimenta a economia. Para o produtor rural, isso se traduz em previsibilidade, segurança de abastecimento e, ao longo do tempo, em novas oportunidades no mercado de combustíveis renováveis, que podem gerar renda adicional e estimular práticas produtivas mais sustentáveis.

A expansão da Petrobras para o Matopiba reforça também o reconhecimento de que essa região, antes vista como periferia, hoje é um dos motores da agricultura brasileira. Mas escancara desafios: sem infraestrutura sólida, mesmo combustíveis mais acessíveis não resolvem gargalos de estradas ruins, armazéns insuficientes e distâncias longas até portos. A energia chega, mas o escoamento precisa acompanhar.

Ainda assim, o movimento tem lógica e traz oportunidade. A Petrobras se reposiciona como fornecedora estratégica do campo num momento em que o mundo cobra mais produção de alimentos, mais segurança energética e mais estabilidade logística. Se conseguir equilibrar expansão, governança e responsabilidade ambiental, a estatal pode se tornar não apenas uma gigante da energia, mas uma parceira fundamental na modernização do agronegócio brasileiro.

E para o agro, essa parceria não é apenas bem-vinda, é indispensável para manter o Brasil competitivo, sustentável e preparado para liderar a transição energética nos próximos anos.

Miguel Daoud

*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural


Canal Rural não se responsabiliza pelas opiniões e conceitos emitidos nos textos desta sessão, sendo os conteúdos de inteira responsabilidade de seus autores. A empresa se reserva o direito de fazer ajustes no texto para adequação às normas de publicação.

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