
Henrique Wosiack Zulian é conselheiro na área de Urbanismo –
O conselheiro da área de Urbanismo do Grupo aRede, Henrique Wosiack Zulian, explica que Ponta Grossa fala em desenvolvimento urbano, mas segue tratando os moradores de rua como um problema a ser removido – entenda a discussão aqui. Para ele, o acesso à moradia popular e ao emprego podem contribuir com a redução da população de rua do município.
Confira abaixo a opinião na íntegra de Henrique, graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), pós-graduado pela Escola da Cidade e mestre na área de Projeto Arquitetônico pela Universidade de São Paulo (FAU-USP). Ele também tem dezesseis premiações em concursos de arquitetura pelo Brasil, inclusive em Ponta Grossa:
“Quando a gente fala em moradores de rua, normalmente pensa em assistência, acolhimento, comida, banho, abrigo noturno. No entanto, pouco se fala em um dos principais e mais básico dos problemas: falta casa. Falta endereço. Falta pertencimento. E é curioso pensar que, enquanto Ponta Grossa tem terrenos baldios inteiros no Centro da cidade que abrigam placas de publicidade há décadas, os programas de moradia popular continuam sendo construídos a quilômetros dali, nas bordas, longe dos empregos, dos serviços e da própria cidade.
Hoje, o município tem uma rede estruturada de assistência, mas tudo isso ainda funciona como uma porta giratória: a pessoa entra, recebe acolhimento, mas logo volta para rua. Porque não há uma política ou um projeto com autonomia que garanta moradia permanente e o acompanhamento. E o resultado é visível: a rua abriga aquilo que a cidade não quer ver e enfrentar. A gente fala em desenvolvimento urbano, mas segue tratando os moradores de rua como um problema a ser removido – nunca incluído.
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Assista à opinião do conselheiro de Urbanismo | Autor: Colaboração.
Um exemplo que podemos ter como referência foi o ‘Programa De Braços Abertos’, em São Paulo. Em vez de tirar as pessoas da Cracolândia à força, o projeto tinha como prerrogativa a redução de danos, oferecendo moradia, emprego e acompanhamento diário. Muitos chamaram de utopia, mas os dados mostraram o contrário: houve redução real do uso de drogas e melhoria na saúde e nas relações sociais.
A diferença é que lá se entendeu que ninguém se recupera dormindo na calçada. É preciso primeiro garantir o mínimo: um teto, um endereço, um espaço de dignidade. Mas, como todo projeto sério, os resultados não foram imediatos, eles apareceram somente após um tempo e por conta disso, infelizmente o programa foi cancelado.
Enquanto a gente continuar construindo casas longe e empurrando os que mais precisam para a periferia, o problema das ruas vai continuar voltando paro o centro. Porque a rua não é o problema – é o sintoma de uma cidade que tem dificuldade em abrigar a sua própria gente“.
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