Ao refletir sobre a essência do Brasil na culinária, o icônico Prato Feito surge na minha mente. Arroz, feijão, uma fonte de proteína e uma salada singela. Um almoço diário para milhões, seja em casa, restaurante ou no trabalho. É acessível, nutritivo e, acima de tudo, sinônimo de identidade.
Mais do que isso: precisamos resgatar o orgulho do brasileiro por ter aqui esse prato único, que pode ser chamado de Prato Feito, prato executivo ou qualquer outro nome que receba. Ele é nosso cartão de visitas gastronômico, uma prova de que a simplicidade também pode carregar grandeza.
E o feijão, no coração desse prato. Ele é a base alimentar de verdade, pilar protéico da refeição. Aprendi com especialistas que quem se alimenta com feijão cinco vezes por semana já está cuidando da saúde. Uma fonte de proteínas vegetais, fibras e ferro, ajuda na prevenção e dá energia para o dia a dia.
Produção biológica do feijão
Ainda assim, o mais crucial é pensar como o feijão, o arroz e demais ingredientes são produzidos. Nos últimos anos, uma metamorfose no campo chamou minha atenção. Produtores estão usando cada vez mais produtos biológicos.
Feitos de microrganismos e extratos naturais, esses ajudam a proteger as plantas, fortalecer o solo e enriquecer os grãos em nutrientes. Para o consumidor, isso quer dizer um feijão mais puro, sem resíduos e com qualidade extra.
Gosto de uma comparação bem simplesinha. Nós não tomamos remédios fortes, antibióticos todo dia. No dia a dia, se a gente não está bem, prefere um chazinho, um jeito mais natural, algo levinho. Só no fim mesmo que se recorre a um remédio mais pesado. A ideia é igualzinha no campo. Os biológicos são um tratamento natural para a roça, usados para manter o equilíbrio. Os produtos químicos ficam para os momentos de aperto.
Agora, como se isso não fosse suficiente, o feijão traz uma coisa maravilhosa: tem pouca pegada de carbono. Quer dizer, sua produção manda muito menos gases que prejudicam a natureza do que carne, leite e até outras fontes vegetais de proteína. Isso faz o feijão ser um dos alimentos mais positivos para o planeta.
E quando a gente junta essa pegada de carbono pequena com os biológicos, o feijão fica quase invencível. É tradição, saúde, cuidado com a natureza e sabor, tudo num grão só.
E volto para o Prato Feito. Cada PF servido no Brasil pode ser algo mais que uma refeição ligeira, mas um ato de saúde e um compromisso com o planeta. Quando o feijão desse prato especial é cultivado de forma biológica, transcende a simples função de sustento, transformando-se em um símbolo de esperança para o futuro.
Campos mais equilibrados trazem menos prejuízos, fornecimento garantido e preços mais atrativos. O consumidor talvez não perceba de imediato, mas é essa a base que assegura o grão acessível e presença constante na mesa de milhões.
O feijão é uma lembrança carinhosa, parte da cultura, elemento-chave da identidade nacional. Contudo, com a produção biológica e baixo impacto ambiental, ele também oferece soluções para os desafios atuais.
O Prato Feito não foi oficialmente reconhecido como patrimônio imaterial por órgãos como o Iphan, mas representa a culinária brasileira, um dos principais elementos culturais e de identidade nacional. Diversos pratos e receitas regionais da culinária já alcançaram o status de patrimônio imaterial em suas localidades, como o Virado à Paulista no estado de São Paulo e o bolinho de feijoada no Rio de Janeiro.
Portanto, insisto sempre: consumir feijão cinco vezes por semana é um gesto de cuidado com a saúde. Escolher feijões cultivados com respeito ao meio ambiente é uma forma de zelar pelo planeta. Quando estes dois elementos se unem no Prato Feito brasileiro, vemos a comprovação de que a comida verdadeira está ao nosso dispor, no nosso cotidiano. A comida perfeita já está aqui e ela se chama feijão.


*Marcelo Lüders é presidente do Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe), e atua na promoção do feijão brasileiro no mercado interno e internacional
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