O governo dos Estados Unidos criticou duramente a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro. A medida, tomada na segunda-feira 4, incluiu ainda o confisco do celular do ex-presidente e novas restrições à sua comunicação.
A repercussão acendeu o alerta em Brasília. O Departamento de Estado norte-americano, por meio do Bureau de Assuntos do Hemisfério Ocidental, publicou uma nota incisiva no X: “Deixem Bolsonaro falar!”.
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Segundo o órgão, Moraes estaria usando “as instituições do Brasil para silenciar a oposição e ameaçar a democracia”.
O jornal The New York Times (NYT) divulgou as informações. O veículo norte-americano classifica o episódio como a mais grave crise diplomática entre os dois países nas últimas décadas.
A reportagem destaca que os desdobramentos judiciais que envolvem Bolsonaro ocorrem no mesmo momento em que os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump negociam um acordo comercial sensível.


Na semana anterior, Trump impôs tarifas de 50% a uma série de produtos brasileiros, antecipando o anúncio em dois dias. O gesto foi interpretado como resposta direta à ofensiva do STF contra o ex-presidente brasileiro.
Lula deixou claro que Trump não deveria interferir nos processos judiciais do país. Segundo apurou o jornal norte-americano, o pestista vinha tentando manter o foco nas negociações comerciais.
Fontes ouvidas pelo NYT afirmam que o governo brasileiro tentava retirar produtos, como café, da lista de itens tarifados.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tinha encontro agendado com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent. A prisão domiciliar de Bolsonaro, porém, pode travar o diálogo. Thomas Traumann, ex-secretário de imprensa de Dilma Rousseff, declarou ao veículo que as decisões de Moraes dificultam qualquer tentativa de avanço diplomático.
“Alexandre de Moraes e Lula não são a mesma pessoa”, disse Traumann. “É algo importante para os Estados Unidos entenderem.”


Jair Bolsonaro, de 70 anos, está prestes a ser julgado por acusações de suposta tentativa de golpe depois da derrota nas eleições de 2022. Segundo procuradores, ele teria liderado uma conspiração para se manter na Presidência e delegar poderes especiais aos militares.
No mês passado, o STF obrigou Bolsonaro a usar tornozeleira eletrônica, evitar redes sociais e permanecer em casa durante boa parte do dia.
Moraes endureceu as medidas depois de vídeos mostrarem quando o ex-presidente envia mensagens a apoiadores durante ato no Rio de Janeiro, por meio do celular de seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
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Em contrapartida, Trump classifica as investigações contra Bolsonaro como “caça às bruxas” e exige o fim das acusações. As tarifas aplicadas ao Brasil são as mais altas impostas a qualquer país neste ano — mesmo com os EUA mantendo superávit comercial com o Brasil há mais de dez anos.
Embora tenham excluído produtos, como suco de laranja e aviões, as tarifas atingem setores estratégicos. O café, por exemplo, representa 30% das importações norte-americanas na categoria.
Ministro do STF vira alvo internacional
Moraes se tornou personagem central do embate. O NYT destaca que o ministro já havia gerado polêmica ao bloquear contas em redes sociais e prender usuários por supostas ameaças on-line.
Em alguns processos, o magistrado acumulou as funções de juiz e acusador, o que gerou preocupação sobre garantias legais. Agora, ele passou a ser alvo de sanções econômicas por parte do governo dos EUA.
Mesmo assim, tanto Moraes quanto Lula prometeram não ceder a pressões externas. Nesta terça-feira, 5, por exemplo, o petista endureceu o discurso. Durante evento em Brasília, disse que não pretende conversar com Trump e que levará o caso à Organização Mundial do Comércio.