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Produção de algodão une histórias de fibra no Oeste da Bahia

A Bahia já colheu cerca de 40% da safra de algodão 2024/25. Considerada de alta qualidade, a fibra produzida no estado tem uma trajetória marcada por desafios, mas também de resiliência dos produtores, especialmente da região Oeste, onde a cotonicultura se consolidou como uma das mais relevantes do país e do mundo.

No município de Barreiras, a artesã Rosanete Reis conta parte da história da cultura por meio de bonecos feitos com sementes de jatobá, vestidos com peças de algodão.

As figuras homenageiam os trabalhadores de quando, há décadas, a colheita era 100% manual. 

“É isso que a gente quer trazer, a história e manter ela viva, porque não pode apagar como tudo começou.Coletado um a um, colocado nos cestos e levados para a sede das fazendas, e assim, a gente sabe que as culturas antigamente eram diferentes das de hoje. Hoje a gente utiliza máquinas, antigamente não, a plantação era diferente. Então, tudo mudou muito”, afirma Rosanete.

Imagem: Felipe Carvalho/Canal Rural BA

Esses retratos do passado se conectam com a transformação da atividade agrícola no estado. Segundo o produtor e pesquisador Celito Breda, que veio à Bahia de Jacutinga, no Rio Grande do Sul, a cotonicultura no Oeste baiano começou no início do século XIX, impulsionada por iniciativas pioneiras como as do coronel Antônio Balbino. 

“Ele conseguiu colocar uma pequena descaroçadeira e uma tecelagem. Assim, deu início ao algodão aqui no Oeste”, conta.

A cultura passou por momentos difíceis, principalmente com a infestação do bicudo-do-algodoeiro, praga que quase dizimou a produção tradicional.

A virada veio nos anos 1990, com a introdução do algodão anual, mecanizado, e o fortalecimento da pesquisa e do investimento por parte dos produtores. 

“Esse tipo de algodão, que não era algodão anual, eram outras plantas arbóreas, e se colhia vários meses do ano, em várias etapas. Com o bicudo, esse algodão foi dizimado, e aí nós tivemos que introduzir, na década de 90, o algodão anual, mecanizado, Upland, que temos hoje aqui. No primeiro ano já arrancamos com 150 arrobas de média. No terceiro ano, lá na Fazenda Mizote chegamos a 305 arrobas por hectare. Foi talvez a maior produtividade do Brasil em 1998”, recorda Breda.

Desafios e produtividade

De acordo com a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), nesta safra 2024/25, são mais de 413 mil hectares cultivados, um aumento de 20% em relação ao ciclo anterior.

A expectativa de produção é de 787,6 mil toneladas de algodão beneficiado — 14% acima do volume da safra passada.

Apesar disso, os primeiros resultados indicam uma produtividade menor: 1.783 quilos por hectare, o que representa uma queda de 6,5% em relação ao ciclo anterior. 

A presidente da Abapa, Alessandra Zanotto Costa, atribui, neste primeiro momento, a redução à falta de chuvas em um período crítico do ciclo da planta, em março. 

“Ainda é cedo para falar de números gerais, mas acreditamos que as lavouras de sequeiro terão uma produtividade um pouco mais baixa”, explica.

Contudo, mesmo diante dos desafios, a qualidade da fibra baiana segue sendo reconhecida. Consultores do setor destacam a facilidade de comercialização do algodão da Bahia devido ao alto padrão do produto.

Na Fazenda São Francisco, foram plantados 18.200 hectares de algodão em sistema de sequeiro. A produtividade atual está em 328 arrobas por hectare, com expectativa de fechar acima de 330.

Foto: Guilherme Soares/Canal Rural BA

“Com tecnologia, gestão e foco na fertilidade, conseguimos ter um saldo muito positivo nesta safra”, afirma Rafael Zacarias, diretor de produção da fazenda.

A Bahia se mantém como o segundo maior produtor de algodão do Brasil, atrás apenas do Mato Grosso. Um feito que reforça o potencial produtivo do estado e a importância da continuidade em boas práticas agrícolas.

Por fim, na agricultura uma premissa é certa: o passado te faz ser melhor no futuro e mais suave, como uma pluma de algodão.


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