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Produtor de soja dos EUA pede que Trump garanta compras da China

A Associação Americana de Soja (ASA, na sigla em inglês) pediu na terça-feira (19), que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, priorize a oleaginosa nas negociações comerciais com a China.

Em carta enviada à Casa Branca, a entidade afirmou que os agricultores dos Estados Unidos estão em um “precipício comercial e financeiro” diante da ausência de compras chinesas para a safra 2025/26. A ASA exige remoção imediata das tarifas retaliatórias impostas por Pequim e compromissos formais de aquisição.

“Os produtores de soja estão sob extrema pressão financeira. Os preços continuam caindo e, ao mesmo tempo, nossos agricultores estão pagando significativamente mais por insumos e equipamentos”, disse o presidente da ASA, Caleb Ragland, na correspondência. “Os produtores de soja dos EUA não podem sobreviver a uma disputa comercial prolongada com nosso maior cliente”, complementou.

Maior compradora de soja

A China responde por 61% de toda a soja importada mundialmente. Historicamente, os EUA eram o fornecedor preferencial de Pequim. Essa posição mudou após a guerra comercial de 2018, quando o país asiático retaliou tarifas norte-americanas e deslocou a maior parte da demanda para a América do Sul.

“Devido à retaliação tarifária em curso, nossos clientes de longa data na China se voltaram e continuarão a se voltar para nossos competidores na América do Sul para atender sua demanda”, afirma a carta. O documento destaca que “o Brasil pode atender a essa demanda devido ao aumento significativo da produção desde a guerra comercial anterior com a China”.

“O país sul-americano ampliou a capacidade produtiva nos últimos anos e hoje consegue suprir sozinho o volume que Pequim necessita”, diz trecho. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) projeta que o Brasil produziu 42% mais soja que os EUA em 2024/25, totalizando 112 milhões de toneladas exportáveis, volume equivalente à demanda chinesa total.

Tarifas pagas à China

A desvantagem competitiva dos americanos está na tarifa. Atualmente, a soja dos EUA paga uma tarifa retaliatória de 20%, além da tarifa de Nação Mais Favorecida (MFN) de 3% e do imposto sobre valor agregado (VAT), que juntos elevam a alíquota total a 34% em 2025.

Embora a nova tarifa seja 5 pontos porcentuais menor que a aplicada durante a guerra comercial de 2018, o diferencial mantém a soja norte-americana mais cara que a sul-americana, limitando novos negócios.

Um estudo da ASA reforça a preocupação. Segundo o documento, Pequim já contratou volumes recordes do Brasil para os próximos meses e ainda firmou negócios inéditos com a Argentina para fornecimento de farelo. Os EUA, em contrapartida, têm zero embarques vendidos da nova safra, situação inédita às vésperas da colheita.

Em anos normais, pelo menos 14% das compras chinesas já estariam confirmadas até agosto, com picos de 27% em safras recentes. A sazonalidade também favorece o Brasil: enquanto o país domina as vendas entre abril e setembro, os norte-americanos tradicionalmente atendem Pequim de outubro a março.

A ausência da demanda chinesa já pressiona as cotações em Chicago. Entre 18 de julho e 6 de agosto, o contrato novembro 2025 caiu US$ 0,51 por bushel (5%) para US$ 9,84/bushel, bem abaixo do custo médio de produção estimado em US$ 12,05/bushel. No cinturão do Norte, a situação é pior: perdas acima de US$ 1,20/bushel em Dakota do Norte.

Cenário semelhante ao 1º mandato de Trump

O cenário atual remete ao episódio de 2018/2019. Durante a primeira guerra comercial, os agricultores americanos perderam em média US$ 9,4 bilhões por ano em exportações de soja, valor que correspondeu a 71% do prejuízo agrícola total com tarifas.

“Agora, o quadro pode ser ainda pior”, avalia a ASA, “pois a China demonstra disposição de manter a dependência do fornecedor brasileiro”.

As perdas vão além do campo. Menor renda agrícola reduz o reinvestimento em comércio, serviços e infraestrutura nas comunidades rurais. A queda nos embarques do principal produto agrícola exportado pelos EUA também amplia o déficit comercial do setor e atinge diretamente a economia de 30 estados.

O apelo de Ragland a Trump teve tom pessoal. “Senhor Presidente, o senhor tem apoiado fortemente os agricultores e os agricultores têm apoiado fortemente o senhor. Precisamos da sua ajuda”, escreveu. A mensagem foi enviada também a líderes do Congresso e membros do gabinete, incluindo os secretários do Tesouro, Comércio e Agricultura.

Cobrança por reabertura de mercado

A ASA cobra que Washington obtenha um acordo que reabra o mercado chinês, seja pela eliminação das tarifas retaliatórias, seja por cotas específicas de importação. “Quanto mais avançarmos no outono sem chegar a um acordo com a China, piores serão os impactos para os produtores de soja dos EUA”, alerta a carta.

O tema ganhou ainda mais visibilidade após postagem recente de Trump no Truth Social. No dia 11 de agosto, o presidente pediu publicamente que a China “quadruplique rapidamente” suas compras de soja dos EUA, ressaltando a robustez da safra americana. A mensagem foi bem recebida pelos produtores, mas a ASA reforçou que, até o momento, não há contratos firmados com o país asiático.

Para a associação, a consolidação brasileira como principal fornecedor representa risco estratégico duradouro. Com a colheita americana iniciando em setembro, cada semana sem progresso nas negociações reduz ainda mais as chances de recuperação do mercado perdido para o Brasil.

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