Quando se fala em liberdade, muitas vezes o conceito parece distante, filosófico, ou até mesmo restrito a debates acadêmicos ou políticos. Mas um grupo de mulheres no Rio de Janeiro provou que é possível transformar esse ideal em prática viva, acessível, concreta e humana.
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O projeto Liberdade para Todas, conduzido pelo núcleo carioca da rede internacional Ladies of Liberty Alliance (Lola), reuniu participantes de diferentes origens para um desafio ousado: cocriar uma palestra sobre liberdade individual, liberdade financeira e fundamentos do liberalismo, feita por mulheres e para mulheres. A missão era traduzir ideias complexas para o cotidiano de quem, muitas vezes, vive a liberdade na pele — ou a falta dela.
Como é o Liberdade para Todas
O grupo se reuniu virtualmente ao longo de dois meses, entre abril e junho, em cinco encontros quinzenais. Os encontros não foram apenas aulas ou exposições: foram espaços de troca, construção colaborativa e emoção. Cada sessão teve um tema, convidadas especiais e dinâmicas voltadas a fazer com que os conceitos saíssem da teoria e ganhassem vida.
Logo no primeiro encontro, as participantes compartilharam o que liberdade significava para elas. As respostas iam de “poder dizer não” a “ter um carro e não depender do marido para abastecer”, como no relato real de uma participante que havia passado em dois concursos, mas não pôde assumir por imposição do companheiro.
Ao longo do percurso, o grupo foi apresentado aos conceitos-chave do liberalismo, como responsabilidade individual, ação humana e limites do Estado, com uma abordagem sensível e didática conduzida pela analista política Yara Haquim. Mais adiante, Débora Pontes, especialista em oratória, preparou as participantes para a fase final: as apresentações públicas da palestra que criaram juntas.


De Jojo Todynho a Mises
O resultado foram apresentações emocionantes, com conteúdo bem estruturado, histórias reais e uma linguagem acessível. Em uma das versões finais, o roteiro da palestra seguia o seguinte caminho: o que é liberdade, por que ela importa, quais obstáculos a ameaçam, e como podemos defendê-la no dia a dia, tudo costurado com experiências concretas de mulheres brasileiras.
Para Sara Ganime, coordenadora do núcleo carioca do Lola e idealizadora do projeto, a proposta vai além da teoria. “As meninas trouxeram histórias reais, acessíveis, emocionantes e exemplos que iam de filósofos a figuras como a Jojo Todynho, que representa para muita gente uma mulher livre, que fala o que pensa e corre atrás do que quer”, destacou. “A gente construiu uma palestra que pode ser apresentada numa comunidade, numa escola, num encontro de mães.”


Lola Brasil em ação
A presidente do Lola Brasil, Letícia Barros, afirma que o projeto aproxima o liberalismo da realidade cotidiana: “O Liberdade para Todas é uma iniciativa muito especial porque transforma tanto quem fala quanto quem ouve”, afirmou. “As meninas que participaram se desafiaram a estudar, a pensar com mais profundidade e a encontrar jeitos simples e didáticos de explicar ideias que a gente defende — mas que muitas vezes ficam distantes da realidade das pessoas. No fim das contas, liberdade é algo que já faz parte da rotina das pessoas, mas quase ninguém chama pelo nome.”


A advogada Carolinsk de Marco, participante do grupo e associada ao Lola Nova Friburgo, conta que a experiência foi transformadora. “O projeto ampliou meu repertório teórico, aprofundou meu olhar sobre realidades diversas e fortaleceu minha atuação como advogada comprometida com o acesso à justiça e com o protagonismo feminino”, contou. “Mais do que falar sobre liberdade, o GT me instigou a vivê-la de forma concreta — como escolha, responsabilidade e prática diária. Essa experiência reafirmou meu compromisso em usar o Direito como ferramenta de transformação e minha voz para abrir caminhos para outras mulheres.”
A ideia agora é que as participantes multipliquem essa palestra em outros espaços: escolas, comunidades, eventos locais. E esse movimento já começou: a primeira apresentação fora do grupo já está marcada e será direcionada a mães de crianças atendidas pelo projeto social Instituto Reescrever, que atua em comunidades do Rio de Janeiro. Talvez o mais importante: cada mulher que participou do Liberdade para Todas sai não apenas com uma palestra pronta, mas com a certeza de que a liberdade, quando compartilhada, se fortalece.

