Enquanto parte do mundo já está escolhendo os insetos para se alimentar, o Brasil surge com o bom e sempre presente feijão com qualidade nutricional, sustentabilidade e muito mais proteína. Em um planeta que já ultrapassa os 9 bilhões de habitantes, a demanda por proteínas seguras, acessíveis e sustentáveis cresce rapidamente. Nesse cenário, o feijão brasileiro emerge como alternativa estratégica — tanto como alimento essencial quanto como matéria-prima para a indústria de proteínas vegetais.
Enquanto a América do Norte aposta na ervilha amarela como base de sua indústria de proteínas vegetais, o Brasil conta com cultivares de feijão com teores de proteína entre 22% e 26%, superando, em muitos casos, os níveis encontrados nas ervilhas.
Além disso, o feijão apresenta perfil ideal para formulações industriais: sabor neutro, baixo teor de gordura, índice glicêmico equilibrado, boa digestibilidade e presença de aminoácidos essenciais.
Feijões como o carioca, preto, mungo, caupi, jalo e roxinho estão prontos para ocupar espaço na formulação de hambúrgueres vegetais, bebidas, suplementos e refeições prontas. E mais: são culturas amplamente dominadas pelos agricultores brasileiros, com disponibilidade e escalabilidade.
Um marco importante nesse avanço é o trabalho da pesquisadora Janice Lima, da
Embrapa Alimentos e Territórios (RJ), que vem obtendo excelentes resultados na extração de proteína isolada de feijão com alta qualidade tecnológica e nutricional. A pesquisa reforça a viabilidade do Brasil liderar o mercado global de proteínas vegetais com base em alimentos nativos, como o feijão.
Em maio deste ano, estive na China, onde mantive contato direto com a China Chamber of Commerce for Import and Export of Foodstuffs, Native Produce and Animal By-Products (CFNA). A entidade demonstrou interesse direto nas proteínas vegetais brasileiras, especialmente no feijão. Como desdobramento, a CFNA receberá uma missão institucional brasileira ainda em 2025, e uma missão prospectiva chinesa virá ao Brasil, com foco específico nas oportunidades ligadas à proteína vegetal.
Esse movimento internacional comprova que o feijão brasileiro não é apenas relevante no mercado interno, mas já ocupa espaço nas discussões globais sobre segurança alimentar.
Outro pilar fundamental para tornar o feijão um ingrediente confiável para a indústria global é o uso estratégico da irrigação. O cultivo irrigado, quando bem manejado, garante previsibilidade de colheita, estabilidade de qualidade e uso racional da água. Em um contexto de mudanças climáticas, produzir com irrigação é investir na resiliência do campo e na segurança alimentar mundial.
Além disso, o Brasil avança na estruturação da cadeia produtiva com rastreabilidade, padronização e constância de fornecimento. Regiões como Matopiba e Mato Grosso se destacam com práticas sustentáveis, uso racional de insumos e foco na exportação.
No atual cenário geopolítico — marcado por guerras, quebras climáticas e disputas comerciais — cresce a busca por proteínas alternativas à carne, capazes de garantir segurança alimentar e atender aos novos perfis de consumo. E o Brasil se apresenta como provedor confiável e escalável de ingredientes à base de plantas.
Com duas ou até três safras por ano, infraestrutura consolidada e uma base produtiva experiente, o país pode atender a indústrias alimentícias globais que buscam alternativas à soja. E com uma vantagem: o feijão já é aceito culturalmente em diversos mercados e possui reputação como alimento saudável e sustentável.
O próximo passo é ampliar a cooperação internacional, desenvolver padrões técnicos industriais, e comunicar ao mundo — de forma clara e estratégica — que o feijão brasileiro é tecnologia alimentar, para hoje não para daqui 20 anos, e é solução.
Enquanto alguns países projetam alimentar o futuro com proteínas de insetos, o Brasil já se coloca com uma solução imediata, segura e culturalmente aceita. O feijão brasileiro é comida de verdade no prato e ingrediente nobre nas fábricas de alimentos funcionais.
Se depender do Ibrafe e de seus parceiros, os insetos podem esperar. O tempo do feijão chegou.