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PT foi contra MP que combate fraudes

Parlamentares de esquerda, sobretudo do Partido dos Trabalhadores (PT), foram contra a Medida Provisória 871/2019, que tinha como objetivo combater fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O argumento foi que entidades associativas de aposentados, como a Contag, são fundamentais para a defesa do Estado Democrático de Direito. 

A mesma justificativa também foi usada para embasar o pedido pelo fim da exigência de revalidação anual dos descontos associativos feitos diretamente nos benefícios de aposentados. A apuração é do portal Metrópoles.

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O argumento consta nas emendas apresentadas por deputados e senadores de esquerda para alterar a MP. Embora assinadas pelos parlamentares, as propostas foram redigidas pela própria Contag, conforme revelam os metadados dos documentos. 

INSS: Justiça manda suspender todos os descontos para o ContagINSS: Justiça manda suspender todos os descontos para o Contag
Lula recebe lideranças da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), no Palácio do Planalto | Foto: Ricardo Stuckert/PR

Historicamente ligada ao PT, a Contag é suspeita de envolvimento em descontos indevidos que podem chegar a R$ 2 bilhões. Ao todo, o nome da entidade ou de sua advogada constam na autoria de 96 das 578 emendas apresentadas. 

Segundo o Metrópoles, 15 deputados e senadores — nove do PT — assinaram emendas redigidas pela confederação. A pedido da Contag, os parlamentares retiraram do texto a exigência de revalidação anual de assinaturas e autorizações dos aposentados e pensionistas. A ideia era que a revalidação periódica acabasse com as fraudes atuais e coibisse novos abusos.

Doze dessas emendas tinham como foco o fim da revalidação anual. Elas foram apresentadas por nomes como os então senadores Jean Paul Prates (PT-RN) e Paulo Rocha (PT-PA), e os deputados Marcon (PT-RS), Patrus Ananias (PT-MG), Zé Neto (PT-BA), Celso Maldaner (MDB-SC) e Tereza Nelma (PSD-AL), hoje integrante do governo Lula.

A justificativa apresentada alegava que as associações sindicais atuam na “proteção dos interesses coletivos e individuais dos partícipes desse grupo” e necessitam de recursos para suas despesas. O texto, elaborado pela Contag, defende que a Constituição garante a liberdade associativa como um direito fundamental, e que a exigência de revalidação anual inviabilizaria os descontos, dada a movimentação constante de autorizações.

A Contag foi a entidade que mais recebeu valores via descontos associativos do INSS — aproximadamente R$ 2 bilhões entre 2019 e 2024. Não se sabe ao certo quanto desse montante pode ter sido obtido de forma fraudulenta. 

A Polícia Federal identificou que o presidente da entidade firmou acordos de cooperação técnica com o INSS e solicitou o desbloqueio em lote de 34,48 mil benefícios, o que foi considerado irregular por auditoria interna do próprio instituto. A investigação, parte da Operação Sem Desconto, também apura suspeitas de lavagem de dinheiro de dirigentes e procuradores da Contag. 

A Contag está no centro das investigações da Polícia Federal (PF), que apura fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) | Foto: Divulgação/ContagA Contag está no centro das investigações da Polícia Federal (PF), que apura fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) | Foto: Divulgação/Contag
A Contag está no centro das investigações da Polícia Federal (PF), que apura fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) | Foto: Divulgação/Contag

Há indícios de que R$ 5,2 milhões foram transferidos pela entidade à agência Orleans Viagens e Turismo, que, segundo a PF, recebeu valores desproporcionais e adquiriu veículos de luxo como Porsche 911, Dodge Ram e Volvo XC60. O Coaf também apontou movimentações financeiras incompatíveis com a receita declarada da agência.

Em nota, a Contag afirmou que há mais de 60 anos atua em defesa dos trabalhadores rurais e colabora com propostas no Legislativo, como no debate da MP 871/2019. A entidade sustentou que a medida poderia suspender benefícios, principalmente de segurados rurais com direito ao BPC, e defendeu a revisão apenas de benefícios com indícios de irregularidade.

A Contag repudiou tentativas de associá-la a práticas fraudulentas e disse que continuará na defesa dos trabalhadores do campo. “O movimento sindical rural coordenado pela Contag é legítimo e seguirá na luta pelos interesses da categoria”, diz a nota apresentada pela entidade.

Parlamentares do PT apresentam justificativas

Dos 15 parlamentares que apresentaram as emendas redigidas pela confederação, seis se manifestaram.

O senador Humberto Costa (PT-CE) informou que, como líder da bancada petista na época, apresentou emendas em nome do grupo, “em resposta a solicitações pontuais de categorias, sindicatos e confederações de trabalhadores ligadas ao partido”. 

Já o ex-senador Jean Paul Prates afirmou que as propostas atendiam a demandas de sindicatos e categorias ligadas ao partido, e que o foco era impedir a retirada de benefícios, e não defender irregularidades. Ele assinou 11 emendas redigidas pela Contag.

O deputado Zé Neto declarou ao Metrópoles que agiu em defesa das associações rurais e que suas emendas nem chegaram a ser votadas. Segundo ele, nenhum dos textos tratava de convênios com descontos em folha. Ele foi autor de 11 emendas com metadados da Contag.

O ex-presidente da Petrobras, Jean Paul Prates| Foto: Paulo Pinto/Agência BrasilO ex-presidente da Petrobras, Jean Paul Prates| Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
O ex-presidente da Petrobras, Jean Paul Prates | Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Já a deputada Jandira Feghali (Psol-RJ) disse que seu gabinete recebe diversas propostas de entidades e que só as apresenta quando concorda com o mérito. Ela negou o costume de protocolar proposições redigidas por terceiros, embora tenha apresentado três emendas com texto da Contag.

O deputado João Carlos Bacelar (PL-BA), por sua vez, negou relação com a Contag e disse desconhecer a origem das emendas com metadados da entidade que apresentou. Ele assinou duas propostas.

O senador Jaques Wagner (PT-BA) informou que se opôs à MP por entender que ela promovia cortes injustos em benefícios de populações vulneráveis. Ele destacou que sua trajetória política é marcada pela defesa dos trabalhadores e que “jamais atuou para o relaxamento no combate às fraudes”.


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