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‘Quem é que vai parar esse time?’

Os números podem explicar muita coisa no futebol. Se você espremer até o último insumo uma estatística ela pode te oferecer argumentos, que sem um devido contexto, servem para virar uma discussão em uma mesa de bar ou grupo de Whatsapp. Mas nesse negócio chamado futebol os números ainda não explicam tudo quando queremos evoluir essa conversa física ou virtual. É preciso ver. Acompanhar fervosoramente. Sentir. E no campo das sensações que esse esporte desperta, são raras as vezes que vimos um time tão dominante, que passa a sensação de ser imparável, como esse Paris Saint-Germain de Luis Enrique.

A final da Champions coroou com requintes de crueldade um trabalho espetacular de Luis Enrique / Crédito: Selcuk Acar/Anadolu via Getty Images
A final da Champions coroou com requintes de crueldade um trabalho espetacular de Luis Enrique / Crédito: Selcuk Acar/Anadolu via Getty Images

Antes mesmo do famoso Sextete a sensação já era aquela que todo amante do futebol fica de boca aberta, os amigos se entreolham e dizem em uníssono: “Quem é que vai parar esse time?”. E naquele ano de 2009 aquele Barcelona perdeu para o rival catalão Espanyol no auge da temporada e no fim dela, quando La Liga já estava garantida, para os modestos Mallorca e Osasuna. Foram 5 derrotas naquele ano, mas a sensação de quem via jogo a jogo ou a maioria deles, dado o que faziam Messi, Xavi, Iniesta, Henry, Eto’o e companhia quando queriam, na boca do povo é de que seria impossível parar aquele time.

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Em 2015 um certo Luis Enrique ainda com Messi, Xavi e Iniesta, mas com Suárez e Neymar também tirou essas frase da boca de André Henning, já com a Tríplice Coroa conquistada, em um jogo contra a Roma. Foi um dos maiores jogos daquele Barça. 6 a 1 em um amasso completo, de uma Roma que seria semifinalista da Champions três anos depois, com uma triangulação do Trio MSN que entrou para história. Ao narrar o gol André se questionou, questionou a gente em casa: “Quem é que vai parar esse time?”

Tudo, até mesmo o que é bom, como o Trio MSN, uma hora ou outra, tem seu fim, né, Neymar? O próprio Guardiola com o Manchester City extremamente subjugante na Inglaterra e que conquistou a Europa também com uma Tríplice Coroa em 2023 já não parece ter mais o mesmo pique de antes. O Bayern de Munique em 2020, no meio da pandemia, repetiu o Barça de 2009 e também teve o seu considerado ano perfeito, com uma Champions com 100% de aproveitamento na conta. O time imparável de Hansi Flick só perdeu de 4 a 1 para o Hoffenheim em setembro daquele ano. Mas quem lembra disso? O que ficou na história foi o “Rolo Compressor” dos Bávaros. Assim como é a versão francesa desse PSG de Luis Enrique.

Um time que, por exemplo, nos números de derrotas não foi tão soberano como a maioria dos citados. Inclusive, é bem verdade, derrapou e muito na abertura da temporada europeia, no segundo semestre de 2024. Por muito pouco não chegou ao mata-mata. Já perdeu mais jogos que o Bayern de 2020 e, apenas no ano de 2025, já soma cinco derrotas, a mesma quantia que teve o Barça do Sextete em 2009.

Mas para quem acompanhou a trajetória, quem parou para ver o mata-mata da Champions, sabe que essa rara sensação voltou. O Real Madrid de Vini Jr. em 2022 e 2024 não despertou tais sentimentos. Nem mesmo todas as conquistas fascinantes e heroicas do Real de Cristiano Ronaldo conseguiram. Muito menos outros campeões recentes ou até mesmo desse século.

O auge é claro foi a final da Champions League, justamente o jogo mais importante e assistido da temporada. O que foi executado contra a Inter de Milão nem mesmo os Barças e Bayerns citados conseguiram. E a sensação é de que virou normalidade quando vemos Atlético de Madrid e Real Madrid serem goleados da mesma maneira. Vitórias superlativas nessa Copa do Mundo que engrandecem ainda mais a decisão do trono da Europa, em Munique. O “feeling” é de que foi muito menos demérito da incrível Inter dos últimos quatro anos [de Simone Inzaghi, ou seja, não mais a do Mundial de Clubes] e de que o Paris fez um jogo ainda maior. De fato, insuperável.

A torcida do Botafogo orgulhosa e merecidamente vai recordar a vitória aguerrida de 1 a 0, apesar de todo o contexto de jogadores poupados, fim de temporada e a queda de ritmo de jogo dos europeus no início do Mundial. Assim como ficou para a história as derrotas do Barça de Guardiola em 2010 para o ônibus da Inter de Mourinho e em 2012 para o surpreendente Chelsea do surpreendente interino Roberto di Matteo.

Mas para a história isso será apenas uma gota dentro de um vasto oceano. Um oceano de sensações que faz ecoar, como quando colocamos uma concha em nossos ouvidos, para amplificar a pergunta, sem pensar em números ou estatísticas: “Quem é que vai parar esse time?” O tempo com certeza. O Chelsea quem sabe. Mas a sensação nesse momento não é essa.

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