O grupo judaico ortodoxo Neturei Karta ganhou destaque recentemente no Brasil, depois de participar de um evento organizado pelo Partido dos Trabalhadores (PT) na Câmara dos Deputados.
Durante o encontro, o rabino Yisroel Dovid Weiss, proibido de entrar em Israel, usou a tribuna para defender o fim do Estado israelense.
Os Neturei Karta têm postura radicalmente antissionista e são conhecidos por relações próximas ao Irã. Os religiosos são convidados, por exemplo, para conferências que negam o Holocausto e manifestam apoio à causa palestina.
Suas crenças, baseadas em interpretações religiosas, rejeitam a existência do Estado de Israel. A rejeição os distancia da maioria da comunidade judaica e os coloca em oposição a pautas sociais contemporâneas. Uma delas é o direito das mulheres.
As motivações religiosas dos Neturei Karta
A motivação do grupo é exclusivamente religiosa. Eles afirmam que apenas uma decisão divina pode restaurar a soberania judaica, pois acreditam que o povo judeu está em exílio em razão das punições bíblicas.
Isso difere dos movimentos pró-Palestina, como vistos no Brasil, que geralmente possuem justificativas políticas e ideológicas, como a crítica ao chamado imperialismo.
Em Israel, a rejeição ao grupo Neturei Karta é intensa, já que integrantes do movimento se alinham a adversários declarados do país. Em 7 de julho, o ministro do Interior de Israel, Moshe Arbel, revogou de forma definitiva o visto de Yisroel Dovid Weiss. Isso ocorreu depois de o rabino se reunir no Brasil com Abbas Araghchi, ministro das Relações Exteriores do Irã.


A aproximação entre o grupo e autoridades iranianas ocorre há anos. Inclusive, os religiosos participaram de uma conferência em Teerã em 2006, que negava o Holocausto. Os rabinos também são acusados de se encontrarem com líderes do Hamas, como Ismail Haniyeh, em 2009.
Daphne Klajman, especialista em antissemitismo e coordenadora acadêmica do Hillel Rio, afirmou ao jornal Gazeta do Povo que é preocupante a aproximação entre o governo brasileiro e o Neturei Karta.
Segundo Daphne, a relação sugere que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prioriza alianças contrárias a Israel em vez de dialogar com a comunidade judaica local.


Ela também destacou que, desde o ataque de 7 de outubro de 2023, pedidos de proteção da comunidade judaica aumentaram. O governo federal, contudo, tem minimizado os riscos.
“A melhor resposta que a gente tem do presidente é que antissemitismo é vitimismo, que não é um problema real aqui no país”, disse Daphne à Gazeta. “Ele está trazendo judeus para colaborar com a ideia dele. Ao mesmo tempo, apoiam um regime responsável, em parte, por financiar o dia 7 de outubro. Que cria armas nucleares para destruir o povo judeu.”
Motivo de alerta
Para a especialista, o apoio do Brasil ao Irã e os laços com o Neturei Karta são motivo de alerta. Segundo ela, o grupo rejeita Israel por convicção religiosa, sem ligação com as pautas de justiça social defendidas por setores progressistas.


Daphne considera contraditória a aproximação entre movimentos de esquerda e o Neturei Karta. “Os progressistas falam que sustentam diversas causas”, disse. “Direitos das minorias e igualdade dos povos. Mas diante de um grupo de fundamentalistas religiosos com valores exatamente opostos a 100% de tudo que eles acreditam — também são contra Israel — aí tudo bem.”