Em resposta às crescentes preocupações com as mudanças climáticas globais, a Embrapa Agropecuária Oeste (MS), em parceria com a Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), lidera uma pesquisa no Brasil focada em mitigar as emissões de gases de efeito estufa (GEE) na aquicultura.
O estudo, com foco inicial na criação de tilápias, visa aprimorar a formulação de rações para peixes com o objetivo de melhorar o aproveitamento da dieta e reduzir resíduos, diminuindo, assim, a pegada de carbono dessa importante cadeia produtiva. Outra parte diz respeito ao manejo da piscicultura e seus resíduos com o mesmo objetivo.
A pesquisadora Tarcila Souza de Castro Silva, da Embrapa Agropecuária Oeste, conta que o principal objetivo desta pesquisa é aumentar a eficiência alimentar das tilápias. Assim, minimiza a quantidade de sobras de ração, fezes e carcaças que se acumulam na água e nos sedimentos dos sistemas de cultivo.
“Estudos indicam que apenas 20% a 60% da matéria orgânica e nutrientes da ração se transformam em biomassa de peixes, com a maior parte se tornando resíduo e contribuindo para a emissão de GEE”, acrescenta a pesquisadora.
Luis Antonio Kioshi Aoki, também pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, destaca que um dos principais resultados esperados com a pesquisa está relacionado à redução dos impactos ambientais diretos das emissões de GEE.
A otimização da alimentação dos peixes e formas de reaproveitamento dos resíduos gerados proporciona, ainda, mais sustentabilidade aos sistemas aquícolas.
“A redução da pegada ambiental é considerada essencial para que os produtores brasileiros possam competir em mercados internacionais com normas ambientais rigorosas e estamos trabalhando para contribuir com esses resultados ainda melhores”, afirma Inoue.
Avanços do estudo
Os cientistas acreditam que existe uma relação crucial entre a nutrição dos peixes e as emissões de gases.
“A alimentação dos peixes representa o maior aporte de matéria-orgânica e nutrientes nos ambientes aquícolas. Uma menor parte desses são retirados dos sistemas, por meio da retirada dos peixes na despesca. O restante desses materiais nem sempre são possíveis de serem removidos, o que podem representar as maiores fontes para as emissões de gases efeito estufa”, salienta Tarcila.
Ela informa que os gases que estão sendo estudados, atualmente, incluem dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O). Segundo a especialista, “quanto maior o volume de sobras, fezes e carcaças na água, maior é a emissão de gases, em especial, o metano. Por isso, estamos empenhados em otimizar a alimentação dos peixes com ingredientes e formulações que atendam às suas necessidades, melhorem seu desempenho e reduzam os resíduos na água.”
Para ela, nesta pesquisa estão sendo dados os primeiros passos para analisar o aproveitamento de cada ingrediente e a quantidade de GEE gerados. Tarcila ressalta a importância de estudos anteriores que revelaram que a cada tonelada de tilápia produzida, eliminam-se 320 kg de resíduos sólidos da água, e explica “precisamos diminuir esse volume, pois excesso de fezes na água podem prejudicar a sustentabilidade da atividade”.
Reutilização de resíduos
Paralelamente, a equipe explora outras possibilidades para lidar com os excessos de resíduos. O pesquisador Inoue conta que toda a equipe do Laboratório de Piscicultura da Embrapa tem se dedicado a explorar formas de coletar e reutilizar os resíduos gerados pelos peixes, especialmente em sistemas de produção mais intensivos, como os tanques elevados.
Dessa forma, a intenção é viabilizar informações que possibilitem a utilização desses resíduos na produção de bioinsumos ou biogás.
“As boas práticas de manejo tornam-se fundamentais para a aquicultura, especialmente na redução dos impactos ambientais, incluindo a diminuição das emissões de GEE. A adoção de estratégias, como alimentação apropriada, monitoramento frequente da qualidade da água e manejo eficaz dos efluentes, são essenciais para minimizar esses impactos e fomentar a sustentabilidade da atividade”.
O pesquisador Laurindo André Rodrigues salienta que a pesquisa realizada pela Embrapa Agropecuária Oeste está diretamente alinhada ao Plano Estadual MS Carbono Neutro, que visa neutralizar as emissões de gases de efeito estufa em Mato Grosso do Sul até 2030.
O estado, com grandes áreas voltadas para as atividades agropecuárias vem desenvolvendo estudos e políticas públicas, buscando incentivar a adoção de práticas agropecuárias que contribuem com a redução das emissões de GEE. “A pesquisa na piscicultura, portanto, contribui para essa meta estadual”, acrescenta ele.
*Sob supervisão de Victor Faverin