Se Jorge Carrascal virou reforço do Flamengo custando cerca de R$ 77 milhões, muito se deve a Neys Nieto, um ex-olheiro do Millionarios, da Colômbia, que hoje é diretor de scouting do Alianza Petrolera.
Foi ele quem descobriu o meia em um torneio juvenil na cidade de Barranquilla e contou à ESPN os bastidores do que viu naquele jovem, atualmente com 27 anos.
Na época, Nieto deixou Bogotá, capital colombiana e sede do Millonarios, e viajou até Barranquilla para observar um torneio sub-15.
Lá, acompanhou por uma semana as atuações de Carrascal, que jogava pela seleção de Cartagena, equipe da cidade natal do agora jogador rubro-negro.
“Sempre nós, olheiros, tentamos ir a diferentes cidades do país, assim como os ‘pueblos’ ou ‘corregimientos’, que aí (no Brasil) vocês chamam de favelas. E consideramos que, na costa atlântica (região onde fica Cartagena), há jogadores com muito talento, onde se joga muito bem o futebol”.
“Por isso, nós chamamos de ‘Brasil colombiano’, porque são jogadores muito habilidosos.”
Nieto conta que foi justamente essa habilidade técnica que chamou sua atenção e o motivou a levar Carrascal para as categorias de base do Millonarios.
“O primeiro que vi nele é sua condição técnica. O segundo é que, antes de receber a bola, já estava observando. Eu chamo de um radar de cento e oitenta graus, onde ele já estava observando quem era o possível receptor no momento que recebe a bola”.
“Para mim, isso é muito significativo em um jogador de quinze anos. E, sem dúvida, sua capacidade técnica no um contra um que é forte e sua técnica para chutar ao gol”, continuou.
Naquele período, Carrascal ainda vivia em uma situação vulnerável, em um bairro marginalizado de Cartagena. Morava com o avô, que trabalhava como taxista, e com a avó, costureira.
“Ele vem dessas classes baixas onde realmente tem que forjar o caráter, porque há um tema de sobrevivência…Esses sobrevivem nessas circunstâncias hostis”, explica.
Antes de se mudar para Bogotá e ingressar na base do Millonarios, Carrascal fazia parte, inclusive, da torcida organizada do Real Cartagena, ainda com menos de 15 anos. “É algo que ele leva no sangue”.
Já nas categorias de base do Millonarios, Carrascal ganhou o apelido de “Dinossauro”, dado por um colega de Nieto, então coordenador das categorias inferiores do clube. A origem do apelido mistura sua inspiração em Ronaldinho Gaúcho com seu estilo de jogo.
“Postura, quando eu falo de postura é sua expressão corporal. Antes de receber a bola, como coloca suas mãos e como enfrenta o rival no momento de ter a bola. No um contra um faz uma pose como se fosse um dinossauro e, também, por suas passadas largas, de puxar a bola, de arrancar. E digo mais, ele é o fã número um de Ronaldinho, que era seu ídolo.”
Quando chegou aos profissionais, Carrascal começou a deixar até os jogadores mais experientes em dificuldades, especialmente o volante Elkin Blanco, que passou por diversos grandes clubes na Colômbia.
“Me lembro que o Elkin Blanco ia golpeá-lo e ele vinha e fazia chapéu, caneta… Ao final, o Kin disse: ‘não, com esse eu não posso. Com esse não posso e é tanto assim que quem o tocar vai se meter em problemas comigo’. Isso para mim foi muito curioso e ali ele ganhou o respeito do resto dos jogadores profissionais.”
Com o respeito do elenco, aos 16 anos, Carrascal estreou pelo profissional dos Millonarios. Pouco depois, maior de idade, foi vendido ao Sevilla, da Espanha. Na sequência, teve passagens pelo Karpaty Lviv, da Ucrânia, e pelo River Plate. No clube argentino, ganhou destaque e atraiu o interesse do CSKA Moscou, seu último clube antes do Dínamo, do qual se transferiu ao Flamengo.