O governo do Reino Unido lançou, nesta terça-feira, 24, sua nova Estratégia Nacional de Segurança para 2025, intitulada Segurança para o Povo Britânico em um Mundo Perigoso. O texto é prefaciado pelo primeiro-ministro Keir Starmer.
O documento revela um cenário de “incerteza radical”, alerta para a possibilidade real de confrontos diretos no território nacional e defende o engajamento da sociedade britânica em um esforço conjunto de preparação e resiliência diante das ameaças globais.
+ Leia mais notícias do Mundo em Oeste
“O Reino Unido deve se preparar ativamente para a possibilidade de o território nacional ser diretamente ameaçado, potencialmente em um cenário de guerra”, afirma o texto ao descrever o atual contexto de confrontação com potências hostis, como Rússia, Irã, China e Coreia do Norte.
O primeiro-ministro, em carta que introduz o documento, defende um “endurecimento e afiação” da política de segurança nacional e se compromete a elevar os gastos na área para 5% do Produto Interno Bruto até 2035 — um aumento considerado histórico. “Podemos mobilizar um ‘dividendo da defesa’ que renove comunidades industriais por todo o país”, diz o premiê.
Essa elevação orçamentária é apresentada como não apenas uma resposta às ameaças externas, mas também como uma oportunidade de reindustrialização e criação de empregos. “Segurança econômica é segurança nacional”, resume o primeiro-ministro.
Leia mais:
Os três pilares do Reino Unido
A estratégia se apoia em três eixos principais:
- Segurança interna: O governo promete tornar o Reino Unido um “alvo mais difícil”, com medidas como fortalecimento das fronteiras, combate à imigração ilegal, aprimoramento da segurança cibernética e ampliação da capacidade de resposta a pandemias e desastres naturais.
- Força no exterior: O Reino Unido manterá sua postura de liderança na Otan e em alianças como os grupos G7, Five Eyes e Aukus, além de aprofundar relações com países estratégicos como Estados Unidos, França, Índia e Japão. O apoio à Ucrânia é classificado como essencial para a segurança coletiva da região euro-atlântica.
- Capacidades soberanas e assimétricas: O país buscará reduzir sua dependência externa em setores críticos, com investimentos em tecnologias emergentes, indústria de defesa, energia e infraestrutura espacial. O objetivo é criar vantagens estratégicas mesmo diante da superioridade numérica de potências adversárias.
A segurança das fronteiras é tratada como “pilar vital” da estratégia. O governo britânico afirma já ter investido mais de £ 150 milhões em tecnologia e agentes especializados. Medidas adicionais incluem:
- Reforço na recusa de vistos a países que se recusam a cooperar na repatriação de seus cidadãos.
- Expansão de parcerias para combater o tráfico de pessoas com países como França, Alemanha, Albânia e Iraque.
- Criação de um novo Comando de Segurança de Fronteiras e uso mais rigoroso do sistema de vistos.
As principais ameaças ao Reino Unido
O documento detalha diversas ameaças à segurança britânica:
- Rússia: classificada como a ameaça mais aguda, por sua guerra contra a Ucrânia, uso de espionagem, sabotagem e campanhas de desinformação.
- Irã: acusado de intensificar atividades hostis em solo britânico e ameaçar dissidentes.
- China: vista como desafio estratégico por seu poder econômico e crescente influência tecnológica. O Reino Unido promete manter “pragmatismo cooperativo”, mas alerta para espionagem e ações contra a democracia.
- Ciberataques: considerados frequentes, sofisticados e potencialmente devastadores para serviços essenciais e empresas.
- Terrorismo e extremismo violento: continuam como ameaças persistentes, com destaque para indivíduos obcecados por violência e uso de redes sociais como ferramenta de radicalização.
O documento também menciona “ameaças híbridas”, como o uso de grupos criminosos como intermediários por Estados hostis, além de fragilidades ligadas à dependência de cabos submarinos e infraestrutura digital.
Energia e biossegurança como prioridades estratégicas
A segurança energética ganha destaque. O governo afirma ter banido a importação de petróleo e gás da Rússia, investido em energia eólica, solar e nuclear e criado cadeias de suprimentos nucleares sem interferência russa. Também há investimentos na resiliência a pandemias, como a criação de centros nacionais de biossegurança e de um sistema de radares para bioameaças.
Apesar do tom, o governo afirma manter o compromisso com a cooperação internacional. “A segurança do euro-atlântico e do Indo-Pacífico está interligada”, afirma o texto, que também defende reformas em organismos como a ONU, a OMC e o FMI. O documento confirma a intenção de retomar o patamar de 0,7% do PIB em ajuda internacional “quando as circunstâncias permitirem”.


Ao final, a Estratégia Nacional de Segurança 2025 se apresenta como um “chamado à ação” para toda a sociedade. “Precisamos mobilizar a nação em torno de uma causa comum”, diz o texto. “O futuro do Reino Unido será determinado pelas decisões que tomarmos agora. Devemos agir com coragem e agilidade”.
O governo ainda propõe que a defesa nacional seja compreendida como um dever coletivo, com cidadãos, empresas, universidades e governos locais. A meta é garantir que o Reino Unido esteja em “posição mais forte, economicamente, militarmente e diplomaticamente”, ao final desta década de incertezas.
Leia também: “O Brasil não está longe da fronteira da Faixa de Gaza”, artigo de Alexandre Garcia publicado na Edição 186 da Revista Oeste