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Retaliação a tarifas dos EUA eliminaria 5 mi empregos em 10 anos

Uma intensificação da guerra de tarifas entre Brasil e Estados Unidos pode resultar na eliminação de até 5 milhões de vagas de trabalho e retração de R$ 667 bilhões — ou 6% —no PIB nacional em até dez anos, segundo estimativas da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).

O anúncio das tarifas de 50% dos Estados Unidos, previstas para vigorar em 1º de agosto, representa mais que um entrave ao comércio bilateral. Especialistas alertam para consequências profundas caso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva opte por retaliar.

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O jurista Ives Gandra da Silva Martins, professor da Universidade Mackenzie, afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo que “o Ministério das Relações Exteriores precisará ser muito hábil para negociar e, quem sabe, suspender essas tarifas antes de 1° de agosto”.

Porto de Santos é importante local responsável por importações e exportações do BrasilPorto de Santos é importante local responsável por importações e exportações do Brasil
Porto de Santos é importante local responsável por importações e exportações do Brasil | Foto: Divulgação/Porto de Santos

De acordo com a Fiemg, as eventuais tarifas de 50% sobre produtos dos EUA, cogitadas por Lula na semana passada, provocariam retração de 2,21% no PIB, ou R$ 259 bilhões, e a perda de 1,9 milhão de empregos. Os rendimentos totais diminuiriam R$ 36,2 bilhões e a arrecadação federal cairia R$ 7,2 bilhões.

O cenário se desenrola enquanto as contas públicas seguem deficitárias em grande parte do atual governo. A dívida saltou de 71,7% para 76,1% do PIB desde dezembro de 2022 até maio deste ano.

Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital, alerta que “uma retaliação mal planejada pode gerar efeitos colaterais significativos para a economia brasileira. Setores com alta exposição ao mercado externo seriam diretamente impactados e, com eles, empregos e cadeias produtivas inteiras.” Ao Estadão, ele disse que, “para o consumidor, isso se traduz em insumos mais caros, inflação e possíveis quebras de oferta”.

Se os Estados Unidos responderem com uma elevação das tarifas para 100%, mantendo o Brasil em 50%, a queda no PIB pode atingir 2,49%. Essa possibilidade já foi cogitada pelo presidente Donald Trump, especialmente se o Brasil mantiver relações comerciais com a Rússia, país do qual as importações somaram US$ 5,1 bilhões no primeiro semestre, queda de 4,6% em relação ao ano anterior.

Nesse cenário, as sanções resultariam em cerca de 2,2 milhões de empregos a menos e redução de R$ 40,8 bilhões em rendimentos. No quadro mais grave, com ambos os países aplicando tarifas de 100% e queda de 40% nos investimentos norte-americanos e de 30% dos demais países, o impacto seria devastador: retração de 5,68% no PIB, perda de quase 5 milhões de empregos, R$ 93 bilhões a menos em renda familiar e R$ 18,5 bilhões de queda na arrecadação.

“Os Estados Unidos são um parceiro tradicional e geograficamente estratégico para o Brasil”, afirmou Flávio Roscoe, presidente da Fiemg. “Ambos os países perdem muito com essa medida. Responder com a mesma moeda pode gerar efeitos inflacionários devastadores no Brasil. Por isso, o caminho mais inteligente é a diplomacia”, disse ao Estadão.

Donald Trump faz comentários sobre tarifas no Rose Garden da Casa Branca em Washington, D.C., EUA, 2 de abril de 2025 | Foto: Reuters/Carlos Barria

A Fiemg ressalta que os impactos de uma guerra comercial atingiriam a economia de maneira desigual. Inicialmente, os exportadores seriam os mais prejudicados, mas os efeitos negativos se espalhariam rapidamente, afetando até setores voltados ao mercado interno.

O setor de equipamentos de transporte poderia ter retração de 21,6%, o que praticamente paralisaria investimentos. Siderurgia e produção de ferro-gusa veriam a produção cair 11,7%. Produtos de madeira, essenciais para emprego em várias regiões, sofreriam queda de 8,1%.

Áreas aparentemente distantes do comércio internacional, como educação privada, saúde particular, serviços domésticos e atividades imobiliárias, também teriam retrações próximas a 3%, devido ao efeito em cadeia que reduz renda, emprego e consumo em toda a economia.

Mesmo sem considerar retaliação brasileira, as tarifas iniciais de 50% dos EUA já traria forte impacto. Estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apoiado pela CNI e XP Investimentos, prevê queda de 0,16 ponto porcentual no PIB, o que representa R$ 19,2 bilhões a menos e perda de 110 mil empregos.

Os Estados mais afetados seriam São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Minas Gerais.

Empresas como Embraer, WEG, Randoncorp e Frasle seriam diretamente impactadas. A Embraer, com 25% da receita advinda dos EUA, pode ter custo extra de até US$ 450 milhões anuais. WEG, Randoncorp e Frasle precisariam rever estratégias diante da pressão sobre margens e competitividade internacional.

A WEG é uma indústria global brasileira líder em equipamentos elétricos e automação industrial | Foto: Shutterstock

Segundo Joseph Couri, presidente do Sindicato da Micro e Pequena Indústria (Simpi), a principal consequência seria a redução da demanda, posto que os preços subiriam substancialmente, o que aumenta a inflação e derruba o poder de compra das famílias. “Com menos consumo, especialmente em setores sazonais e de bens não essenciais, a primeira reação das empresas é cancelar contratos temporários, cortar turnos e demitir.”

O agronegócio, responsável por aproximadamente 25% do PIB brasileiro, ficaria vulnerável, com exportações de proteína animal e da indústria sucroalcooleira reduzidas. As vendas de café para os EUA recuariam 6%, o que obrigaria produtores a buscar mercados alternativos em condições menos favoráveis.

A situação mais crítica seria no setor de suco de laranja, já que os EUA são o principal destino. O aumento das tarifas poderia derrubar os preços internacionais, pois seria inviável redirecionar rapidamente volumes tão expressivos para outros mercados.

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