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Revolução no futebol? O Flamengo de Filipe Luís e o que fazer com a bola

Há pouco mais e dois meses, na entrevista após o jogo entre Flamengo e Bahia, o diálogo entre o técnico Filipe Luís e a repórter Raisa Simplicio chamou a atenção. Ela queria saber o porquê da insistência na escalação de Bruno Henrique como titular, já que ele não vinha jogando bem. Recebeu uma pergunta como resposta – “Hoje, como o Bruno foi?” Ela disse que mais uma vez a atuação havia sido ruim. Filipe riu e emendou – “O Bruno foi incrível hoje… fez um jogo impecável: foi até à exaustão, correu tudo o que podia, fez todos os movimentos. Só não fez o gol”.

Naquela partida, Bruno Henrique esteve em campo por 80 minutos e realizou 13 ações com a bola, o menor número entre os titulares do Flamengo. Apenas uma das suas duas finalizações foi na direção do gol e ele não criou chances para os colegas. Os números defensivos também não mereceram destaque: recuperou apenas duas bolas.

É bem possível que a exaltação ao ex-colega de time tenha feito parte de um movimento de apoio especial ao jogador, que vivia um momento de turbulência pela acusação de ter participado de um esquema de apostas. Mas também revelou que para Filipe, um técnico da nova geração, o que um jogador faz ‘sem a bola’ é muito importante.

A gente está acostumado a avaliar o desempenho de atacantes pelas suas ações ofensivas. Finalizações precisas, dribles geniais, velocidade e intimidade com a bola sempre foram os critérios para dizer se um ‘avançado’ fez uma boa partida. Mas esse padrão está mudando. É uma espécie de revolução.

A capacidade de pressionar a saída de jogo dos adversários, encurtando o espaço de ação dos goleiros, zagueiros e laterais, é fundamental na ideia de jogo de Filipe. Esse foi um dos argumentos para a contratação do desconhecido Juninho Vieira, que até hoje não se firmou no grupo. Por outro lado, o habilidoso goleador Pedro perdeu espaço ao longo das últimas semanas, depois que voltou de um longo tempo de inatividade devido a uma lesão, justamente pela sua dificuldade ‘sem a bola’. Esse caso chegou a outros níveis de desgaste e virou o principal assunto do clube depois do Mundial de Clubes.

Mas Filipe Luís não é o único a pensar desta forma. No cenário mundial, Jurgen Klopp construiu a frase que rege este pensamento: “a pressão alta é o meu camisa 10”. O futebol ‘Heavy Metal’ do alemão o levou do Borussia Dortmund para o sucesso no Liverpool. Aqui no Brasil, a gente ouviu muitas vezes a expressão “perde-pressiona”, usada por Tite em seu período na seleção brasileira.

Este conceito está na ordem do dia entre as equipes mais vencedoras do futebol europeu nesta última temporada. O Paris Saint-Germain de Luis Enrique ganhou a Champions League a partir do momento em que conseguiu ajustar este conceito de marcação na saída de jogo da equipe adversária. Entretanto, este mesmo PSG, que não conseguiu pressionar o Chelsea na final do Mundial de Clubes, teve como grande mérito o complemento à pressão.

O que fazer com a bola uma vez de posse dela? É este segundo passo que falta à maioria dos nossos times que decidem apostar na intensidade da pressão alta.

Quando a bola é recuperada na pequena área, óbvio até, basta chutá-la no gol, mas nem sempre é assim. O Flamengo, exemplo inicial deste texto, faz a maior parte de suas recuperações na zona central do campo e, embora tenha o ataque mais produtivo do Campeonato Brasileiro (26 gols), às vezes carece de ações coletivas para gerar situações de gol. A organização coletiva ofensiva segue sendo um débito do futebol brasileiro, em geral. E este é o passo seguinte, o dever de casa dos nossos treinadores. Para que se possa avaliar o desempenho dos atacantes não apenas pelo tanto que eles correram, mas pelo que efetivamente produziram com a bola.

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