A Câmara Baixa do Parlamento russo, conhecida como Duma Estatal, aprovou, nesta terça-feira, 22, uma lei que prevê multas para quem buscar conteúdo considerado “extremista” na internet. Essa medida pode afetar a privacidade digital e ameaçar a permanência de plataformas como o WhatsApp no país. A aprovação da legislação ocorreu com 68% dos votos, com 67 votos contrários (14,9%) e 22 abstenções.
A nova legislação recebeu críticas de ativistas da oposição e até mesmo de alguns aliados do governo. Eles alertam que a penalidade, de até 5 mil rublos (cerca de R$ 354,8), pode abrir espaço para sanções mais severas.
+ Leia mais notícias de Mundo em Oeste
O Ministério da Justiça russo mantém uma lista com mais de 500 páginas de materiais classificados como extremistas. Entre os nomes proibidos por supostas “atividades extremistas” estão o Fundo Anticorrupção do opositor Alexei Navalny, o “movimento LGBT internacional” e a empresa Meta Platforms, dona do WhatsApp.
Na última semana, os parlamentares que regulam o setor de tecnologia informaram que o WhatsApp deve entrar na lista de softwares restritos.
A legislação mira pessoas que buscam deliberadamente conteúdo extremista, inclusive via VPNs, sigla em inglês para o termo Rede Virtual Privada. Milhões de russos utilizam essas redes privadas para driblar a censura e acessar material bloqueado.
Saiba mais: “União Europeia anuncia novo pacote de sanções contra a Rússia”
“Este projeto de lei diz respeito a um grupo muito restrito de pessoas que buscam conteúdo extremista porque elas próprias já estão a um passo do extremismo”, afirmou o chefe do comitê de tecnologia da informação da Duma Estatal, Sergei Boyarsky.
O fundador do grupo Roskomsvoboda, Sarkis Darbinyan, disse à agência Reuters que a nova regra vai estimular o medo e a autocensura. “Acredito que essa seja uma das principais tarefas que foram definidas: criar medo, criar incerteza para aumentar o nível de autocensura entre o público russo da internet”, afirmou.


Já o político de oposição Boris Nadezhdin, impedido de disputar a presidência contra Vladimir Putin no ano passado, protestou contra a medida do lado de fora da Duma. Ele afirmou que continuará tentando barrar a aprovação da lei no Conselho da Federação.
Governo da Rússia alega defesa da ‘soberania digital’
O ministro do Desenvolvimento Digital, Maksut Shadaev, declarou que será necessário comprovar a intenção do usuário ao acessar o conteúdo. Segundo ele, o simples uso das plataformas não resultará em punição. Ainda não está claro como as autoridades vão identificar a intenção por trás das buscas.
Shadaev argumentou, em discurso na Duma, que aplicar multas é preferível a banir plataformas como WhatsApp e Google do país.
Russia is tightening its grip on digital life. WhatsApp is now being pushed toward the exit, with lawmakers saying it should “prepare to leave the Russian market.”
In WhatsApp’s place, the government is rolling out “MAX,” a new state-backed messaging app built by VK, the… https://t.co/ruxpXtRGN7
— Reclaim The Net (@ReclaimTheNetHQ) July 22, 2025
O governo russo defende a “soberania digital” e tem promovido o uso de serviços nacionais, como o aplicativo de mensagens MAX. Mesmo assim, muitos cidadãos ainda dependem de plataformas estrangeiras.