Lançada oficialmente no último dia 28 de outubro, a SAFiel tentar quebrar barreira dentro do Parque São Jorge. Após chegar até as mãos do presidente do Corinthians, Osmar Stabile, a proposta passou por análise do setor de Compliance (expressão em inglês para conformidade), que levantou três pontos de “questões sensíveis” sobre a Invasão Fiel S/A, empresa que seria a controladora da operação no projeto de SAF (Sociedade Anônima do Futebol).
A análise do departamento do clube, que não inviabilizar a proposta, trata pontos abordados como “requer esclarecimentos” em três chamadas “red flags”: capital social de R$ 3 mil, fundação recente e participação do sócio Maurício Chamati.
“Até o momento não recebemos nenhuma comunicação formal do Compliance do clube, nem sobre aquilo que vazou na imprensa, e nem mesmo após o vazamento. Continuamos sem nenhuma comunicação formal por parte do Compliance do Corinthians”, disse à ESPN Carlos Teixeira, empresário e um dos fundadores do projeto SAFiel.
“A gente percebeu esse episódio com bastante surpresa e com certo espanto. Entendemos que uma proposta como essa precisa e é desejável que passe, sim, pelo Compliance do clube. Então, até aí está tudo certo. O primeiro estranhamento foi o vazamento para a imprensa. Independente do conteúdo, o vazamento já nos estranha bastante. E, depois do vazamento, o conteúdo em si também nos pareceu muito estranho, porque os pontos ali apontados seriam facilmente esclarecidos se fôssemos procurados e tivéssemos oportunidade de responder. Então, de novo, acho que não está sendo até o momento um processo como é de se esperar”.
O que são as red flags apontadas pelo Compliance do Corinthians à SAFiel?
Um dos pontos de esclarecimentos citados pelo relatório elaborado pelo Compliance do clube sobre o projeto da SAFiel está a fundação da empresa Invasão Fiel S/A, registrada em 18 de julho de 2025 e com capital social de “apenas” R$ 3 mil, fato que gerou ressalvas sobre o potencial de arrecadação de R$ 2 bilhões.
“A SAFiel é o nome do projeto que é legalmente representado pela empresa Invasão Fiel S.A., registrada em julho de 2025 em conformidade com os trâmites legais necessários à formalização de uma eventual parceria com o Corinthians. O projeto nasceu a partir da mobilização de torcedores que participaram da vaquinha pela quitação da Neo Química Arena. A data de constituição da empresa foi amplamente divulgada em dezenas de entrevistas e publicações, de forma transparente e pública”.
“O valor inicial de R$ 3 mil segue a prática usual de empresas e sociedades em fase pré-operacional. O projeto da SAFiel não depende desse capital, mas sim de captação estruturada, com auditoria independente e mecanismos regulatórios adequados. O potencial de arrecadação de R$ 2 bilhões refere-se a um plano de investimento escalonado e validado por consultorias especializadas”.
Outro tema apontado como “sensível” pela análise de risco elaborada pelo Corinthians está a participação Maurício Chamati como um dos idealizadores do projeto. Fundador da Mercado Bitcoin, que atua no ramo de criptomoedas, o empresário tem ligação mais próxima recente ao clube paulista.
Chamati integrou o chamado Comitê Independente de Finanças do Corinthians ainda durante a passagem de Pedro Silveira pelo departamento financeiro, ainda em 2024, tendo assinado à época um Termo de Confidencialidade (NDA) por ter acesso a “informações confidenciais e sensíveis do clube”.
Há ainda questionamentos sobre a participação do empresário à frente da Mercado Bitcoin, que estaria envolvida em processos judiciais como uma ação na casa dos R$ 300 milhões e outra demanda por estelionato.
“O empresário, um dos idealizadores do projeto, participou de um comitê consultivo do Corinthians, sem que isso tenha propiciado qualquer vantagem ou conhecimento privilegiado. A proposta da SAFiel foi construída de forma independente, com base em dados públicos e análises de mercado. Todos os processos citados são antigos, já foram arquivados, considerados improcedentes ou vêm sendo devidamente esclarecidos nas instâncias cabíveis”.
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Idealizador da SAFiel revela que conversa com presidente do Corinthians sobre novo encontro
Carlos Teixeira, um dos fundadores da SAFiel, falou à ESPN sobre previsão de reunia com Osmar Stabile, presidente do Corinthians
À ESPN, Carlos Teixeira admitiu desconforto com o vazamento da análise envolvendo o nome de um dos idealizadores do projeto SAFiel.
“Tudo leva a crer que houve uma tentativa de difamação do Maurício. Primeiro porque o que foi vazado é absolutamente fora de contexto e não faz referência diretamente às empresas do Maurício. Depois nós tivemos que entrar em contato com o jornalista que recebeu o vazamento para que ele fizesse as devidas retificações na matéria dele. Então, tudo pareceu afobado, pareceu, vamos dizer assim, com um propósito único de criar confusão. E por isso que eu te disse que a gente recebeu com muita surpresa e até com uma certa tristeza esse tipo de condução de apontamentos que espera-se que um Compliance detecte”.
A expectativa dos integrantes do projeto é de que aconteça uma reunião com Osmar Stabile para que a proposta seja debatida internamente no Parque São Jorge.
Além do presidente do clube, a proposta foi levada também a Romeu Tuma Jr., que preside do Conselho Deliberativo do Corinthians.
“O que nós estamos fazendo agora é buscando uma agenda com o presidente Stabile para que a gente possa fazer uma reunião e avançar no tema”, disse Carlos Teixeira. “A informação que eu tenho é que ele estaria disposto a nos receber para que pudéssemos conversar justamente sobre os próximos passos do projeto. Já trocamos algumas mensagens e estamos compatibilizando as agendas para poder fazer essa reunião”.


