Os salários de políticos e juízes federais do Brasil superam em mais de 20 vezes a renda média da população, o que faz do país um dos mais desiguais do mundo nesse quesito. Os dados, referentes a 2024, apontam que o presidente da República e os deputados federais tiveram remunerações de R$ 44 mil, enquanto a renda domiciliar per capita ficou em R$ 2.069, segundo o IBGE.
O Índice de Disparidade Salarial 2025, elaborado pelo grupo Livres, avaliou 16 países e mostrou que, no Brasil, a diferença salarial entre autoridades públicas e cidadãos é uma das maiores do mundo, atrás apenas de África do Sul e México. No ranking, o presidente brasileiro ganha 21 vezes mais que a média da população, o que supera o registrado em países como Argentina e Chile.
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No Judiciário, a disparidade é ainda mais acentuada. Dados do Conselho Nacional de Justiça revelam que magistrados federais receberam, em média, R$ 48,6 mil em 2024, valor acima do teto estipulado pelo Conselho da Justiça Federal. Em alguns casos, juízes chegaram a receber até R$ 444 mil no ano.
Em comparação internacional, o presidente da Argentina recebeu cerca de 4 milhões de pesos (R$ 16 mil), que representa 9,2 vezes a renda média argentina. No Chile, a remuneração presidencial alcançou 7,5 milhões de pesos chilenos (R$ 42 mil), valor 13,7 vezes superior ao rendimento médio local.
O levantamento indica que ministros do STF, TSE e STJ recebem aproximadamente 22 vezes mais que o salário médio dos brasileiros. O índice é maior do que o registrado nas supremas cortes de países como Argentina, Reino Unido, Suíça e Alemanha, onde a diferença varia de três a 11 vezes.
O estudo utilizou informações da Pnad Contínua, do IBGE, e dados de institutos nacionais da Argentina e da Espanha. Remunerações de servidores concursados ou comissionados do Executivo federal não foram incluídas, mas especialistas destacam que em algumas carreiras, como advogados da União, os valores podem ser ainda mais elevados, acima de R$ 500 mil em honorários anuais.


Disparidade de salário mina confiança nas instituições
Um efeito consequente da disparidade é a desconfiança na população em relação à legitimidade das instituições públicas. Afinal, as elites do setor público não dependem — e geralmente sequer utilizam — dos mesmos serviços utilizados pela maioria dos brasileiros, como saúde e educação públicas.
“Como a população entende que essas pessoas não estão familiarizadas com aquele ambiente, a crença de que elas podem legislar de forma eficiente sobre isso diminui”, avalia Magno Karl, diretor do Livres. “Há potencial de corroer a crença nas instituições da democracia representativa”, disse ao jornal Folha de S.Paulo.
Lulla diz que R$ 46.000,00 de salário é pouca coisa. Não basta isso, além de todas essas regalias, jato particular, comer e se hospedar às custas do povo.
E ainda faz sua matemática freestyle. De onde ele tirou que a”sobra” é de R$ 21.000,00 só ele sabe
pic.twitter.com/4uaAcKTohH— Médicos Pela Liberdade (@MedicoLiberdade) August 5, 2025
Cibele Franzese, professora da FGV, ressalta que os supersalários no Judiciário tornam o cenário mais grave, pois extrapolam o teto constitucional. “O salário maior do que a média faz com que a população tenha um sentimento de injustiça, e isso talvez ajude a minar a legitimidade do Estado”, disse à Folha.
Franzese observa que, apesar de políticos receberem salários elevados, não têm direito aos mesmos benefícios dos magistrados, como verbas indenizatórias livres de imposto de renda e férias duplas anuais. Além disso, políticos precisam ser reeleitos para manter o cargo, ao contrário dos juízes, que possuem cargo vitalício e só podem ser afastados por decisão judicial transitada em julgado.