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Salário mais alto que Curry, talvez mais famoso que LeBron: por que Shohei Ohtani é um dos maiores atletas da atualidade

Arremessar uma bola de beisebol profissionalmente é difícil, muito difícil. O jogador solta seu braço até parecer que ele vai sair do ombro. Músculos e ligamentos vão ao limite. A bola sai a cerca de 150 km/h, às vezes chegando a 160. E tem de acertar um alvo imaginário preciso, localizado a 18 metros de distância.

É um grande esforço, mas imagine fazer isso de novo apenas 25 segundos depois. E outra vez. E outra. Até chegar perto de cem vezes, com intervalos de dez minutos mais ou menos a cada 15 ou 20 lançamentos. Depois de tudo isso, é preciso quatro dias de descanso antes de voltar a jogar. Não à toa, um ditado americano diz que “o arremesso de beisebol é o movimento mais anti-natural dos esportes”.

Rebater uma bola de beisebol talvez seja ainda mais difícil. Ela tem apenas 7,5 cm de diâmetro e vem a 150 km/h. Entre sair da mão do arremessador e chegar no rebatedor, leva cerca de 0,5 segundo. Sim, meio segundo. E nem sempre vem em linha reta. Às vezes vem fazendo curva de cima para baixo, de um lado para o outro, em diagonal. Para os americanos (eles adoram uns ditados superlativos), “rebater uma bola de beisebol é o ato mais difícil dos esportes”.

Os dois fundamentos são tão complexos que exigem especialização total de quem atua no mais alto nível. Os futuros profissionais começam a focar seu desenvolvimento em uma das áreas já na adolescência, pois apenas muitos anos de treinamento específico e de milhares de arremessos realizados ou rebatidos que é possível chegar a uma liga profissional. A menos que você seja o japonês Shohei Ohtani, porque neste caso uma realidade alternativa está se formando ao seu redor.

A estrela do Los Angeles Dodgers arremessa e rebate ao mesmo tempo. Só de fazer isso já seria um jogador único no beisebol, pois algo assim não acontecia na MLB há mais de 100 anos. Mas ele vai além: ele é um dos melhores do mundo em cada uma das funções. Enquanto um arremessador normal está descansando seu braço entre uma sequência e outra, o japonês está rebatendo bolas a mais de 100 metros de distância. É como se um dos melhores atacantes do mundo fosse para o gol quando seu time perde a bola, e também se provasse como um dos melhores goleiros do planeta.

Essa característica única tornou Ohtani o maior jogador do beisebol – com chance de se tornar o maior de todos os tempos – e o atleta mais famoso do Japão com alguma folga. É muito difícil caminhar por 10 minutos em Tóquio sem ver seu rosto na propaganda de alguma coisa, de material esportivo a chá, passando por relógios de luxo e livros de autoajuda profissional.

Cada jogada que faz do outro lado do Oceano Pacífico é repetida exaustivamente nos noticiários esportivos do Japão, tanto que os Dodgers passaram a faturar milhões de dólares com a venda de patrocínios para empresas japonesas. Mesmo nos Estados Unidos seu impacto é evidente: Ohtani lidera há vários anos como o jogador da MLB que mais vende camisa, memorabília ligada a ele rapidamente ganha valores absurdos e até há quem o considere o atleta mais famoso de Los Angeles no momento, mesmo jogando na mesma cidade de LeBron James.

Por isso, soa natural que a estrela japonesa tenha o maior salário de todas as ligas dos Estados Unidos: US$ 70 milhões (R$ 376 milhões) por ano até 2033. Como referência, o salário mais alto da NFL é de Dak Prescott (Dallas Cowboys), US$ 60 milhões (R$ 323 milhões), e o da NBA é de Stephen Curry (Golden State Warriors), US$ 59,6 milhões (R$ 320 milhões).

Esses milhões não se justificam apenas pelo quanto ele movimenta comercialmente, mas também pelo que faz em campo. Nas oito temporadas que fez na MLB, ele conquistou um prêmio de estreante do ano e três de MVP (é o favorito a conquistar mais um em 2025). No Los Angeles Angels, seu desempenho individual não foi suficiente para carregar um time cheio de problemas aos playoffs.

Pelos Dodgers, porém, conquistou a World Series em seu primeiro ano e levou o time à finalíssima no segundo (a decisão começa nesta sexta, dia 24, com transmissão ao vivo do Disney+). Pela seleção japonesa, foi campeão do World Baseball Classic (a Copa do Mundo do beisebol) em 2023, eliminando Mike Trout, então companheiro de Angels e capitão da seleção americana, e conquistando o prêmio de MVP.

No Mundial, Ohtani pôde trabalhar com o treinador que moldou seu jogo único. Hideki Kuriyama foi o comandante da seleção do Japão no torneio. Ambos haviam trabalhado juntos no Hokkaido Nippon Ham Fighters, time da NPB – a liga japonesa – que Ohtani defendeu no início da carreira. E essa ida aos Fighters para trabalhar com Kuriyama foi fundamental para a estrela dos Dodgers se tornar esse jogador que arremessa e rebate.

Quando começou a mostrar um talento acima da média no beisebol e na natação, Ohtani foi estudar na Hanamaki Higashi, uma escola de ensino médio conhecida pelo trabalho no desenvolvimento de futuros atletas. Lá, o jovem tinha direito a passar apenas seis dias por ano com sua família e, entre as atividades acadêmicas e esportivas, era responsável po limpar o banheiro da escola (cada jovem atleta realizava uma tarefa comum como forma de aprenderem a ser humildes e a respeitar qualquer tipo de atividade).

A Hanamaki Higashi conseguiu disputar o torneio Koshien, o campeonato nacional de beisebol de ensino médio que é uma febre no Japão (equivalente ao March Madness do basquete universitário americano). Ali, Ohtani virou uma figura conhecida nacionalmente e despertou o interesse de vários clubes da liga japonesa e também da MLB.

Com as portas abertas nos EUA, Ohtani declarou que pretendia fazer o salto direto para o outro lado do Pacífico. E aí que Kuriyama e os Fighters apareceram. A franquia ignorou a declaração de Ohtani e o escolheu no draft da NPB. Para convencê-lo a assinar um contrato, propuseram um plano de carreira diferente: arremessar e rebater por igual. O jogador comprou a ideia, pois sabia que teria de escolher uma das funções se fosse para a MLB naquele momento.

A aposta se pagou. Os Fighters conquistaram o título japonês em 2016, com Ohtani de MVP da temporada. Exatamente as mesmas conquistas que o jogador teve nos Dodgers em 2024. E tem a oportunidade de repetir nesta semana. O Los Angeles está a quatro vitórias de um bicampeonato inédito na história do clube e Ohtani a duas semanas de descobrir se receberá pela terceira vez seguida, a quarta em cinco anos, o prêmio de melhor jogador da temporada da principal liga de beisebol do mundo.

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