O Santa Cruz dá seus primeiros passos para retomar espaço entre os principais clubes do Brasil. O acesso à Série C do Brasileiro, conquistado há quase dois meses, é reflexo de um trabalho que vem sendo realizado fora de campo e quase ninguém vê.
Más gestões fizeram a Cobra Coral perder protagonismo no cenário nacional. No ano passado, por exemplo, foi a primeira vez em sua história que o clube pernambucano não estava em nenhuma divisão do Campeonato Brasileiro. Parecia o fim da linha.
Até que, em janeiro de 2025, o clube passou por uma assinatura de proposta vinculante para a compra de 90% das ações da SAF. O grupo, liderado pelo empresário Iran Barbosa, terá até 15 anos para investir R$ 1 bilhão.
Escolhido pelo grupo investidor para fazer um trabalho de consultoria, Pedro Henriques acabou se tornando CEO do Santa Cruz. Em entrevista ao ESPN.com.br, o dirigente contou como encontrou o clube.
“O Santa Cruz é o retrato clássico de um clube grande que passou por gestões que não cuidaram adequadamente dele. Uma dívida grande, que está consolidada entre R$ 240 e R$ 250 milhões, entre o que está no RJ (Recuperação Judicial) e dívidas tributárias. Em termos estruturais, diria que há um patrimônio, há uma estrutura, mas está carente de cuidados”, afirmou Pedro Henriques.
“Temos o Arruda, que é um estádio raiz, muito agradável, a torcida tem um carinho muito grande, mas está carente de intervenções, precisa de melhorias. O clube tem o seu CT, o Ninho das Cobras, que tem apenas dois campos. O clube usa o próprio estádio do Arruda pra realizar os treinos do profissional”, continuou.
“O que encontro aqui é um clube que teve, nos anos 90, uma estrutura entre as tops do Brasil, mas que não foi mantida e por isso está defasada”, completou o dirigente.
O próximo passo de Pedro Henriques é ajudar na reconstrução do Santa Cruz, algo parecido com o que ele fez no Bahia. O dirigente assumiu o cargo de vice-presidente em dezembro de 2014, logo depois do Tricolor ser rebaixado para a Série B do Brasileirão. Depois, se tornou diretor-executivo. Foram pouco mais de cinco anos no clube.
O Bahia, inclusive, é quem Pedro Henriques tem como exemplo quando o assunto é SAF. Em maio de 2023, o clube tricolor vendeu 90% das suas ações para o Grupo City, responsável também pela gestão do poderoso Manchester City.
“Na minha concepção, a SAF do Bahia é a melhor SAF do Brasil. Não apenas pelos resultados que vem tendo, mas especialmente pelo parceiro. O Bahia ser uma SAF do Grupo City agrega um valor absurdo. Trouxe um investimento que mudou o Bahia de patamar”, comentou.
No dia 30 de novembro, a Assembleia Geral de Sócios vai voltar para a aprovação ou não da proposta feita pelo grupo de investidores para a compra da SAF. A expectativa é que todo o processo seja concluído no início de 2026.
Os investidores estão confiantes no trabalho que será realizado e projetam colocar o Santa Cruz entre os três principais clubes do Nordeste nos próximos seis anos.
“Eu me lembro, quando comecei o trabalho no Bahia, em dezembro de 2014, o Bahia não era referência no Nordeste. Naquela época era o Sport. Importante a gente ter esses paradigmas pra mirar e buscar. Ninguém inventa a roda, não há nada de errado copiar o que está sendo feito de bom em outros lugares”, destacou Pedro Henriques.
“Acredito que os investidores precisam primeiro olhar internamente, entender a cultura do clube, os anseios dos torcedores, nesse sentido é um clube parecido ao Bahia, uma torcida de massa, apaixonada, talvez uma torcida que tenha sofrido mais. O Santa Cruz chegou a ficar sem série, é uma torcida carente, que merece ser melhor cuidada”, continuou.
“Ter as metas é importante, mas com planejamento estratégico, ter um plano operacional, não só de curto, mas também de médio prazo, pra colocar o Santa Cruz em outro patamar. Em seis anos, as coisas mudam no futebol. Se a gestão for bem feita, acredito que é possível o Santa Cruz se colocar entre os tops da região nordeste. É importante ter referências, entender o que está sendo feito em clubes que já tiveram uma realidade similar do Santa Cruz pra fazer esse crescimento ser o mais acelerado possível”, finalizou o dirigente.
É com bons exemplos que o Santa Cruz vai reconstruindo seu caminho para voltar a figurar entre os grandes clubes do futebol brasileiro.
								

