Estudo inédito liderado pela Embrapa gerou mapas de estoque de carbono orgânico do solo englobando todo o estado do Rio de Janeiro.
O mapeamento foi feito em duas profundidades: 0-20 cm e 30-50 cm, na resolução espacial de 30 metros, o que equivale a aproximadamente uma escala de 1:100.000.
Na primeira profundidade (0-20 cm), foram quantificadas cerca de 189 milhões de toneladas de carbono. Já na segunda (30-50 cm), aproximadamente 119 milhões de toneladas. Esses dados podem subsidiar políticas públicas e inventários em larga escala, além de fomentar o mercado de créditos de carbono no estado.
Os valores de entrada do estoque de carbono do solo foram obtidos do Inventário Florestal Nacional no Estado do Rio de Janeiro (IFN), desenvolvido pelo Serviço Florestal Brasileiro (SFB) entre 2013 e 2016, a partir da análise de cerca de 200 pontos de amostragem de solos distribuídas por todo o estado, totalizando quase 400 amostras.
Os mapas de estoque de carbono no solo são fruto de um acordo de cooperação técnica entre a Embrapa Solos (RJ) e a Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade do Rio de Janeiro (Seas-RJ). Os dados estão disponíveis para a sociedade na plataforma da Infraestrutura de Dados Espaciais da Embrapa (Geoinfo).
A parceria também irá gerar uma publicação com um conjunto de cenários que favorecem o sequestro de carbono pelo solo no Rio de Janeiro. Esta trará com recomendações de práticas sustentáveis de manejo do solo, além de uma biblioteca espectral de solos e uma estratégia de modelo de negócio para o mercado de carbono no estado.
“Para gerar um mapeamento que cobre todo o estado, utilizamos dados de quase 400 amostras de solo coletadas no estado para treinar modelos de predição do estoque de carbono do solo. Usando geoprocessamento e sensoriamento remoto, conseguimos informações de satélites e de mapas já publicados”, diz o pesquisador Gustavo Vasques, da Embrapa Solos.
Segundo ele, posteriormente foi feita uma superposição desses pontos amostrais com diferentes camadas de informação, como altitude, declividade e concavidade do terreno, temperatura média anual, precipitação anual, uso e cobertura da terra, geologia e tipos de solo.
“Usamos, então, um modelo de estatística multivariada para, a partir da correlação entre essas covariáveis com o estoque de carbono do solo medido no campo, gerar o mapa no estado todo.”
Locais mais favoráveis
Os mapas mostram quais ambientes são mais favoráveis para acumular ou perder carbono no estado.
De acordo com Vasques, as serras possuem historicamente carbono acumulado no solo. Isso se dá por conta do clima frio, que desfavorece a decomposição da matéria orgânica e também ajuda na alta produtividade. “No Rio de Janeiro são, principalmente, a Serra do Mar, onde ficam a Serra dos Órgãos e a Costa Verde, e a Serra da Mantiqueira, onde fica o Parque de Itatiaia”, enumera.
O pesquisador também aponta áreas encharcadas como outro local que acumula bastante carbono no estado. Especialmente nos manguezais próximos à costa, no delta do Rio Paraíba do Sul, na região norte fluminense. Isso acontece porque o solo saturado com água não tem o oxigênio que muitos microrganismos precisam para decompor a matéria orgânica.
“Esse cenário é típico de turfeira, solo lamoso, rico em matéria orgânica. São locais que já sabemos que devem ser preservados para não perder carbono. Drenar uma área de turfeira e transformar em uma área produtiva fará com que o carbono acumulado seja liberado na forma de dióxido de carbono (CO2) para a atmosfera após a entrada do oxigênio no ambiente, degradando a paisagem”, detalha.
Na outra perspectiva, baixos estoques de carbono foram observados no Norte-Noroeste do estado. A região possui muitas pastagens em estágio moderado a severo de degradação pela ausência de um bom manejo e de adubação, o que ocasiona a queda de carbono e diminuição da saúde do solo.
“São áreas onde há um carbono relativamente baixo. Medidas de manejo, conservação, correção e adubação do solo apropriadas podem incrementar o sequestro de carbono pelo solo. Quando o carbono aumenta, significa que todo o sistema produtivo e ambiental melhora a sua qualidade, com mais biodiversidade, maior sustentação de plantas, animais, microrganismos. Isso acaba ajudando todo o ambiente”, analisa Vasques.
Carbono estocado nos solos


De acordo com o pesquisador, entender a quantidade de carbono no solo é importante, pois atualmente trata-se de uma commodity comercializada no mercado global. Isso porque uma das estratégias para mitigar os efeitos das mudanças climáticas é promover o sequestro de carbono no solo e manter o seu armazenamento a longo prazo.
A prática pode ser alcançada por meio da melhoria da matéria orgânica do solo a partir da adoção de boas práticas de manejo, restauração de solos e paisagens degradadas ou intensificação de sistemas agrícolas com o plantio de árvores, por exemplo.
“Essa estratégia pode ser combinada com programas e acordos de compensação para monetizar o carbono sequestrado do solo por meio da venda de créditos de carbono. E para que os programas de compensação funcionem, é preciso ter um valor inicial do estoque de carbono do solo como base para calcular a quantidade sequestrada após um período de avaliação”, pontua Vasques.
Outro ponto a ser destacado é que a medição pode ser mais cara do que o próprio valor negociado pelo carbono estocado no solo. Portanto, nesse cenário, é relevante estabelecer funções preditivas para medição do carbono em todo o território a partir de amostras de solos já existentes, como é o caso do que foi feito para a geração dos mapas do Rio de Janeiro. Isso reduz o custo da medição e amplia a informação disponível sobre o carbono no solo.
Além da importância para o mercado de créditos, os pesquisadores ressaltam que a informação do estoque de carbono também indica a saúde do solo. Dessa maneira, os mapas poderão contribuir para entender se os estoques de carbono nos solos no Rio de Janeiro têm aumentado ou diminuído, indicador da melhora ou piora da saúde do solo com o passar dos anos.
*Sob supervião de Victor Faverin