Nesta Super Quarta, dia em que os bancos centrais dos EUA e do Brasil anunciam suas decisões de política monetária, o mercado volta seus olhos para o gráfico de pontos do Fed (dot plot), projeção que sinaliza os rumos dos juros americanos.
O que é o gráfico de pontos?
Publicado a cada trimestre, o dot plot mostra as expectativas individuais dos dirigentes do Federal Reserve para o nível dos juros nos próximos anos.
- Pontos elevados: indicam manutenção de juros altos.
- Pontos em queda: sugerem cortes.
Embora não seja uma promessa, o gráfico é referência para investidores globais.
Segundo o Barclays, o gráfico deve indicar três cortes de juros até o fim de 2025. Isso mostraria início de flexibilização após um ciclo prolongado de aperto monetário.
Mas há incertezas: a inflação segue resistente e o ex-presidente Donald Trump pressiona abertamente por cortes mais rápidos, gerando questionamentos sobre a independência do Fed.
Enquanto isso, o Banco Central brasileiro deve optar por manter a Selic em 15%, nível já considerado extremamente elevado. A decisão reflete tanto a necessidade de conter riscos fiscais quanto a preocupação com a credibilidade da política monetária.
Essa diferença de trajeto entre EUA e Brasil pode atrair mais capital estrangeiro para o país e fortalecer o real. Nesse cenário, o dólar poderia recuar para a faixa de R$ 4,80 a R$ 5,00.
Impacto no agronegócio
- Efeito negativo: exportadores de soja, milho, café e carnes receberam menos em reais, reduzindo margens já pressionadas por supersafra e crédito caro.
- Efeito positivo: insumos importados (fertilizantes, defensivos, maquinário) ficariam mais baratos, aliviando custos.
O saldo tende a ser adverso: “dólar fraco, agro frágil” resume o risco de perda de competitividade do campo brasileiro.
A Super Quarta mostra dois movimentos distintos: nos EUA, expectativa de cortes graduais; no Brasil, juros firmes em 15%. Para o agro, a equação é clara: dólar mais baixo reduz receita e exige planejamento financeiro mais sofisticado para enfrentar um ciclo desafiador.


*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural
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