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Superávit de US$ 6,1 bi na balança comercial mostra força do agro

O Brasil encerrou agosto com um superávit comercial de US$ 6,133 bilhões, avanço de 35,8% em relação ao mesmo mês de 2024. O resultado foi impulsionado pelo agronegócio e pela indústria extrativa, que compensaram a forte queda nas vendas para os Estados Unidos, agora submetidas ao tarifaço de 50% imposto pelo governo Donald Trump.

As exportações totais somaram US$ 29,8 bilhões, com alta de 3,9% frente a agosto do ano passado. A agropecuária contribuiu com US$ 6,6 bilhões (+8,3%), enquanto a indústria extrativa alcançou US$ 7,2 bilhões (+11,3%). Já a indústria de transformação mostrou leve retração de 0,9%. As importações, por sua vez, caíram 2%, para US$ 23,7 bilhões, aliviando a balança.

O dado que chama mais atenção, porém, é a queda de 18,5% nas exportações para os EUA, que somaram apenas US$ 2,76 bilhões, gerando um déficit bilateral de US$ 1,23 bilhão no mês. Entre os produtos mais afetados estão minério de ferro, açúcar (-88%) e aeronaves (-84,9%).

Se por um lado a perda de mercado nos EUA preocupa, por outro, a China se consolidou como principal destino dos embarques brasileiros. Em agosto, as vendas para o país asiático avançaram quase 30%, com destaque para soja, milho, carnes e ouro, garantindo superávit de US$ 4,06 bilhões. A Argentina também apresentou recuperação, com aumento de 40,4% nas exportações brasileiras.

No acumulado de janeiro a agosto, o Brasil registra superávit de US$ 42,8 bilhões, com corrente de comércio de US$ 412,3 bilhões. O desempenho reforça a resiliência do comércio exterior brasileiro, mas deixa claro que a dependência de poucos mercados — e a fragilidade da relação com os EUA — pode se tornar um ponto crítico em meio à instabilidade política e econômica global.

O resultado de agosto mostra, mais uma vez, a força do agronegócio e da indústria extrativa como pilares da economia brasileira. No entanto, também evidencia nossa vulnerabilidade diante de decisões políticas externas, como o tarifaço imposto pelos Estados Unidos.

Na minha visão, esse episódio precisa ser entendido como um alerta estratégico. O Brasil não pode depender da boa vontade de Washington, nem aceitar passivamente que sua competitividade seja atacada por medidas arbitrárias. A reação deve vir em duas frentes:

  1. Diversificação de mercados, aprofundando laços com a Ásia, América Latina e União Europeia.
  2. Agregação de valor às exportações, reduzindo a dependência da venda de commodities brutas e ampliando a inserção internacional com produtos processados, de maior valor agregado.

O superávit de US$ 6,1 bilhões em agosto é, sem dúvida, uma vitória conjuntural. Mas se não transformarmos esse resultado em estratégia estrutural, continuaremos sujeitos a choques externos. O agro mostrou sua resiliência, mas o futuro exige mais do que resistência: exige visão de longo prazo, coragem política e protagonismo nas negociações internacionais.

Miguel DaoudMiguel Daoud

*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural


Canal Rural não se responsabiliza pelas opiniões e conceitos emitidos nos textos desta sessão, sendo os conteúdos de inteira responsabilidade de seus autores. A empresa se reserva o direito de fazer ajustes no texto para adequação às normas de publicação.

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