Produtores brasileiros de suco de laranja, café, carne bovina e frutas frescas poderão enfrentar dificuldades para manter exportações depois da imposição da tarifa de 50% pelos Estados Unidos.
O impacto direto sobre a cadeia do agronegócio nacional pode causar desequilíbrios no mercado interno e afetar a renda dos produtores, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura da USP.
De acordo com a análise do Cepea, o segmento que mais preocupa é o de suco de laranja. Sobre o setor já incide uma tarifa fixa de US$ 415 por tonelada exportada para os EUA. A nova sobretaxa tornaria o suco brasileiro menos competitivo no mercado norte-americano, que é o segundo maior destino dessas exportações.
+ Leia mais notícias de Agronegócio em Oeste
O Brasil responde por cerca de 80% do suco consumido nos Estados Unidos, que importam aproximadamente 90% do total que consomem.
A ameaça recai sobre o setor em meio à expectativa de safra elevada em São Paulo e no Triângulo Mineiro, com 314,6 milhões de caixas projetadas para 2025/26, volume 36,2% superior ao ciclo anterior.
“Com o canal norte-americano sob risco, o acúmulo de estoques e a pressão sobre as cotações internas tornam-se prováveis”, avalia Margarete Boteon, pesquisadora da área de citros do Cepea e professora da Esalq/USP.
Carne bovina


Em relação à carne bovina, os Estados Unidos figuram como segundo principal comprador do produto brasileiro, atrás da China, que absorve 49% das exportações.
Empresas norte-americanas são responsáveis por 12% das vendas externas de carne do Brasil.
Entre março e abril, os Estados Unidos compraram volumes recordes, superando 40 mil toneladas mensais. Os Estados de São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul lideram os embarques para o mercado norte-americano.
Leia também: “A besta quadrada”, artigo de Augusto Nunes publicado na Edição 278 da Revista Oeste
Nos últimos meses, houve queda nos envios aos Estados Unidos, enquanto as exportações para a China aumentaram.
Outros países também ampliaram suas compras em junho, sinalizando oportunidades de diversificação para os frigoríficos, segundo o Cepea.
Impactos sobre o café e a cadeia de abastecimento


O café também pode ser afetado, já que os Estados Unidos são o maior mercado consumidor global e compram aproximadamente 25% do café brasileiro, especialmente da variedade arábica, essencial para a indústria de torrefação local.
Como os EUA não produzem café, o aumento de custos pode comprometer toda a cadeia de abastecimento, desde torrefadoras até redes de varejo.
“A exclusão do café do pacote tarifário é não apenas desejável, mas estratégica, tanto para a sustentabilidade da cafeicultura brasileira quanto para a estabilidade da cadeia de abastecimento norte-americana”, disse Renato Ribeiro, pesquisador de café do Cepea.
Com o cenário de incertezas, produtores têm reduzido o volume das vendas e aguardam definições antes de negociar maiores quantidades.
Frutas frescas e a busca por novos mercados
No setor de frutas frescas, a manga é a principal preocupação imediata, pois a janela de exportação desse produto para os Estados Unidos se inicia em agosto.
Diante da indefinição sobre as tarifas, produtores já adiaram embarques. A safra da uva brasileira, relevante para os Estados Unidos a partir da segunda quinzena de setembro, entrou em alerta.
Leia mais:
Antes da aplicação das tarifas, havia perspectiva de crescimento nas exportações de frutas frescas, impulsionada pela valorização do câmbio e recuperação de diversas culturas. O cenário, porém, agora é de incerteza.
“Além da retração esperada nas vendas aos EUA, há o risco de desequilíbrio entre oferta e demanda nos principais destinos, pressionando as cotações ao produtor”, avaliou Lucas de Mora Bezerra, do Cepea.
Cepea prevê redirecionamento de produção
A expectativa do Cepea é que parte das frutas destinadas aos Estados Unidos seja redirecionada a outros mercados, como a União Europeia, ou absorvida pelo consumo interno nacional, o que pode pressionar ainda mais os preços pagos ao produtor.
O centro de estudos alerta para a necessidade urgente de uma articulação diplomática para revisão ou retirada das tarifas sobre produtos agroalimentares brasileiros, destacando que essa medida é estratégica tanto para o Brasil quanto para os próprios Estados Unidos, cuja segurança alimentar e competitividade industrial dependem do fornecimento brasileiro, conforme nota divulgada.

