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Tarifas de 50% dos EUA ao Brasil: cenário e algumas implicações

Eduardo Berbigier*

A recente declaração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre tarifas de 50% em produtos brasileiros, a partir de 1º de agosto, é uma medida drástica com sérias implicações. Vai além da questão comercial.

A decisão do republicano reflete a percepção de Washington de um afastamento do Brasil de sua esfera de influência, com aproximação de China, Rússia e demais países-membros do Brics. Essa postura de Trump provavelmente deriva também das constantes manifestações e ataques do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a ele e seu governo.

Em carta a Lula, Trump justificou as tarifas como resposta ao tratamento dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro. O norte-americano citou que ordens judiciais do Supremo Tribunal Federal “censuram” redes sociais norte-americanas, inibindo a liberdade de expressão de cidadãos dos EUA, entre outros inúmeros motivos.

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A reação do governo brasileiro, defendendo a soberania do país e prometendo corresponder a iniciativa com base na Lei Brasileira de Reciprocidade Econômica, pode elevar a tensão.

Contudo, é importante que o público compreenda o que significa uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros. Na prática, nossos produtos se tornam proibitivamente caros para o consumidor norte-americano, aniquilando sua competitividade.

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O presidente Lula, em discurso na edição 2025 da reunião da cúpula do Brics, que ocorreu neste mês no Rio de Janeiro | Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Situação de exportadores diante da nova tarifa

Os exportadores brasileiros sofrerão grande impacto. Empresas que vendem para os EUA podem enfrentar enormes perdas. Essas corporação terão que reavaliar imediatamente suas estratégias: buscar novos mercados, otimizar custos para tentar absorver parte da tarifa ou, em um horizonte mais longo, considerar a transferência de produção para dentro dos EUA.

Produtos como café, suco de laranja, aço e petróleo, nos quais o Brasil é um fornecedor-chave, terão seus preços inflacionados nos EUA. Isso forçará os norte-americanos a buscarem outros fornecedores, o que pode gerar desafios logísticos e de custo para eles.

Investidores devem estar cientes de que a volatilidade do mercado financeiro tende a aumentar, com provável queda do real e das ações de empresas brasileiras com exposição aos EUA. Será o reflexo direto das incertezas.

A inflação do café atingiu mais de 85% de junho de 1994 a maio de 1995, influenciada pelo último mês antes da nova moeda | Foto: KamranAydinov/FreepikA inflação do café atingiu mais de 85% de junho de 1994 a maio de 1995, influenciada pelo último mês antes da nova moeda | Foto: KamranAydinov/Freepik
Com novas tarifas, o cafézinho brasileiro ficará mais caro para os consumidores norte-americanos | Foto: KamranAydinov/Freepik

Algumas sugestões

Seguem, abaixo, algumas sugestões básicas para que empresários, produtores rurais, exportadores e cidadãos naveguem por esse momento em que a informação e a preparação são as melhores ferramentas.

A volatilidade é natural em momentos de incerteza. Então, a primeira recomendação é evitar decisões precipitadas baseadas no medo, pois essas tendem a causar prejuízos.

  • Diagnóstico urgente de impacto

Empresas exportadoras devem realizar um cálculo imediato do impacto da tarifa de 50% em seus custos, preços e margens de lucro. É fundamental saber qual será o novo custo do seu produto no mercado americano.

  • Análise da cadeia de suprimentos

Verificar se seus fornecedores ou insumos são afetados indiretamente por essa tarifa. Preparar-se para buscar alternativas ou renegociar contratos, se necessário.

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  • Diversificação de mercados

Esta é a oportunidade, ou a necessidade, de acelerar a busca por novos mercados consumidores: países do Brics, da América Latina, da Europa e da Ásia podem se tornar destinos ainda mais estratégicos para exportações.

Analisar cuidadosamente seus contratos de exportação e importação, verificando a existência de cláusulas de força maior ou de revisão de preços que possam ser acionadas diante dessa mudança drástica nas condições comerciais.

  • Diálogo com órgãos e associações

Manter um canal aberto com associações setoriais (agronegócio, indústria e comércio) e órgãos governamentais (Ministério das Relações Exteriores e Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), que são os principais centros de informação e de articulação para medidas de apoio ou contrapartida.

A situação é extremamente fluida e dominada pela política. Mudanças podem ocorrer a qualquer momento. Acompanhar o noticiário por fontes confiáveis e consultar especialistas regularmente.

As empresas podem precisar de assessoria jurídica especializada para contestar a aplicação de tarifas (se houver base legal) ou para navegar por processos aduaneiros e de comércio exterior mais complexos que possam surgir.

É um momento de ação estratégica, planejamento cuidadoso e busca por orientação qualificada para mitigar riscos e, quem sabe, identificar novas oportunidades que possam surgir desse cenário adverso.

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Em suma, a imposição de tarifas por Trump é um desafio complexo para o Brasil. Isso exige uma reorientação estratégica por parte do governo e do setor privado.

Leia também: “A conta chegou”, reportagem de Silvio Navarro publicada na Edição 277 da Revista Oeste

E mais: “O xerife da liberdade contra o totalitarismo”, por Ana Paula Henkel


*Advogado tributarista, especialista em agronegócio, membro dos comitês jurídico e tributário da Sociedade Rural Brasileira e CEO do Berbigier Sociedade de Advogados.

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