Com a elevação das tarifas sobre o aço e alumínio nos Estados Unidos, empresas do setor aproveitaram para reajustar os preços. A elevação nos valores dos produtos impactaram indústrias que dependem desses insumos, como a automotiva e a de Defesa.
As medidas tarifárias, determinadas pelo presidente norte-americano, Donald Trump, começaram em março e foram ampliadas em junho. As medidas tornaram os produtos importados mais caros e favoreceram as produtoras nacionais.
Cleveland-Cliffs e Steel Dynamics, duas das principais siderúrgicas dos EUA, informaram, nesta segunda-feira, 21, que praticaram valores mais altos no segundo trimestre deste ano em comparação ao trimestre anterior. Com a tarifa sobre o aço subindo de 25% para 50% no mês passado, a concorrência estrangeira perdeu força, e as companhias norte-americanas conseguiram ajustar seus preços para cima, segundo relatos de compradores da indústria.
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John O’Leary, CEO da Daimler Truck North America, que utiliza grandes volumes de aço na produção de caminhões e ônibus escolares, indicou a possibilidade de o setor encarar mais um reajuste no curto prazo. “Você sempre vê isso como uma das armadilhas de uma tarifa”, disse o executivo, conforme o jornal The New York Times. Ele acrescentou que as siderúrgicas locais agora têm “mais espaço para aumentar o preço”.
Custo para o consumidor


A Daimler Truck repassou parte dos custos ao consumidor e, quando as tarifas estavam em 25%, um ônibus escolar Thomas Built teve acréscimo médio de US$ 3,5 mil (quase R$ 20 mil) no valor final de cerca de US$ 100 mil (mais de R$ 550 mil).
O’Leary explicou que, diante das tarifas atingindo 50%, repassar novos aumentos aos clientes é uma tarefa difícil no cenário atual de mercado. A empresa ainda enfrenta queda na demanda e, na semana passada, reduziu o quadro em cerca de 2 mil funcionários em quatro plantas nos EUA e uma no México.
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No segundo trimestre, a Steel Dynamics comercializou o aço por média de US$ 1,1 mil a tonelada, enquanto no primeiro trimestre o preço era inferior a US$ 1 mil. A Cleveland-Cliffs elevou o preço médio por tonelada de US$ 980 para US$ 1.015 no mesmo período. Dados oficiais mostram aumento de 16% nos preços do aço doméstico na parcial de 2025.
De acordo com o CEO da Cleveland-Cliffs, Lourenco Gonçalves, as tarifas de Trump “desempenharam um papel significativo no apoio à indústria siderúrgica doméstica”. O executivo também defendeu as tarifas, ao alegar que concorrentes estrangeiros contam com subsídios e pagam salários inferiores. Nesse sentido, ressaltou que as medidas beneficiam a indústria automotiva nacional.
Mercado internacional do aço


Economista sênior da S&P Global Market Intelligence, Thomas McCartin comentou a postura das siderúrgicas. “São empresas que maximizam o lucro”, avaliou. “As usinas domésticas vão tentar obter o máximo que puderem;”
Em comunicado, Mark Millett, CEO da Steel Dynamics, afirmou que a alta nos preços elevou os lucros. Mas, de acordo com ele, a incerteza na política comercial segue a afetar o comportamento dos clientes.
De janeiro a maio, as importações caíram 6,2% em relação ao mesmo período de 2024, segundo o Instituto dos EUA de Ferro e Aço. Os principais exportadores para o mercado norte-americano são Canadá, Brasil, Coreia do Sul e México.
Trump introduziu a tarifa de 25% sobre o aço em 2018, durante seu primeiro mandato como presidente dos EUA, amparado pela Seção 232, que trata de segurança nacional. Na época, países que exportavam grandes volumes receberam isenções, mantidas até a administração Joe Biden. Com o retorno de Trump ao cargo, as isenções foram revogadas e a lista de produtos tarifados passou a incluir fios, tubos e eletrodomésticos.
No mês passado, a japonesa Nippon Steel fechou acordo para adquirir a U.S. Steel, grande produtora nacional, concedendo ao governo dos EUA participação com influência relevante sobre a empresa. Trump justificou as tarifas afirmando que são necessárias para garantir o fornecimento a setores estratégicos, como o militar.
Controvérsias e perspectivas futuras


Analistas, contudo, apontam que a indústria norte-americana já tem capacidade suficiente para suprir as Forças Armadas. Documento do ex-secretário de Defesa Jim Mattis, de 2018, mostra que as necessidades militares de aço e alumínio representam cerca de 3% da produção nacional de cada metal.
O aço norte-americano é considerado o mais caro do mundo, e analistas destacam que os produtores domésticos ganharam influência significativa sobre a política comercial, resultando em preços mais elevados. “É puro protecionismo e compadrio”, avaliou Scott Lincicome, vice-presidente do Cato Institute, organização que defende mercados livres, segundo o The New York Times.


Produtos como minério de ferro e ferro-gusa, importantes matérias-primas para o setor, ainda não receberam tarifas. No entanto, Trump cogita aplicar tarifa de 50% sobre todas as importações brasileiras, o que pode afetar esse cenário. Gonçalves, da Cleveland-Cliffs, afirmou, na segunda-feira 21, que a empresa não importa ferro-gusa do Brasil e que não há “nenhuma justificativa para isentar o ferro-gusa importado de tarifas”.
Leia também: “A treta das tarifas”, artigo de Ubiratan Jorge Iorio publicado na Edição 264 da Revista Oeste