A torcida do Botafogo ficou na bronca com o técnico Davide Ancelotti após o empate em 3 a 3 contra o Mirassol – em que a equipe alvinegra conseguiu três gols de vantagem no primeiro tempo. Foi possível ouvir gritos de “Fora, Ancelotti!” e “Time sem vergonha” ao apito final.
David Adams, um dos responsáveis pela formação do treinador botafoguense, pede paciência com seu pupilo, que estará à frente do Botafogo contra o Atlético-MG, neste sábado (20), às 18h30 (de Brasília), pela 24ª rodada do Brasileirão.
“Sempre tem um período em que você precisa respeitar e entender que um novo técnico que nunca desempenhou essa função antes precisa achar a sua maneira de trabalhar naquele ambiente. Tenho certeza que Davide veio com um plano muito claro, mas as coisas nem sempre saem como planejado. Acho que, com o tempo, ele definitivamente se sairá muito bem, porque ele tem todas as habilidades para ser um técnico excelente”, avaliou Adams.
Ele é o diretor de futebol da FAW Coach Education, o programa de cursos para técnicos da Federação Galesa (Football Association of Wales, FAW). Foi nessa espécie de escola que Davide Ancelotti fez as aulas necessárias para obter a licença Pro da UEFA.
À ESPN, o dirigente e ex-treinador contou sobre o período de formação do filho de Carlo Ancelotti, que iniciou a carreira à beira do campo no próprio Botafogo. “Acho que o que ele tentou aprender conosco foi como liderar a si mesmo ao invés de ser um assistente e ficar nas sombras. Era sobre dar um passo adiante e se tornar um líder”.
“O maior desafio quando você passa de assistente para treinador principal é se você é capaz de tomar as grandes decisões sobre a escolha do time e, quando se trata do dia do jogo, conseguir gerenciar o time de acordo com os fatores contextuais que acontecem em um jogo, como quando fazer substituições. Tomar as decisões que, fundamentalmente, significam que você ganha ou perde partidas”.
Adams ressaltou que Davide é um cara “muito sério” a respeito do futebol, comparando esse aspecto a Mikel Arteta, outro ex-aluno da FAW e treinador do Arsenal há quase seis anos.
O diretor galês afirmou que o técnico do Botafogo não tem nada a melhorar. “Se você perguntasse a Davide, tenho certeza de que haveria algumas coisas que todos nós precisamos desenvolver como treinador principal. Mas em termos de educação e experiências, ele provavelmente tem mais experiência do que qualquer um em termos de ser assistente e se preparar para ser treinador principal.
A experiência real da maioria dos treinadores antes de serem treinadores principais normalmente vem de ser jogador e talvez ser assistente por talvez um ou dois anos, ou talvez ser treinador principal em uma equipe de nível inferior. Mas Davide faz isso desde seus vinte e poucos anos, quando estava cursando ciências do esporte. Então, embora ele possa ser relativamente jovem, acho que ele tem mais experiência em termos de conhecimento de futebol e experiência no mais alto nível do que muitos treinadores que estão no cargo há talvez 10 anos”.
Porém, David Adams pontuou que o sucesso de Davide ao longo da carreira passará por outros fatores contextuais, como “quanto tempo de trabalho ele terá, se os reforços serão certos, se terá uma boa relação com o dono”. Ainda assim, ele acredita que “em termos de habilidades, Davide tem tudo que precisa para ser um técnico moderno”.
Quanto ao Botafogo, ele avaliou: “acho que Davide estava apenas esperando encontrar o ambiente certo, onde sentisse que tinha os recursos certos, o nível certo de apoio para começar sua carreira. Ele deve ter escolhido esse clube com base em algumas dessas coisas inegociáveis que ele queria manter quando se arriscou em ser treinador principal. Tenho certeza de que ele se dedicou ao escolher o clube porque, obviamente, sendo quem ele é, a quem estava ligado anteriormente e por seu trabalho no Real Madrid, ele sempre conseguiria um emprego que seria de um nível relativamente alto”.
Nos cursos em Gales, não houve uma aula específica sobre o futebol brasileiro, mas Adams defendeu que, por Davide ter viajado o mundo com o pai, Carlo, e trabalhado por muito tempo em ambientes multiculturais, o novo treinador estava preparado para a função. Só no Real Madrid, a família Ancelotti treinou seis jogadores do Brasil.
Além disso, o diretor ressaltou a fluência de Davide em múltiplas línguas como um ponto a favor dele. O comandante de 36 anos é italiano e chegou à seleção brasileira como assistente, em junho, sem falar português.
Um mês depois, ao assumir o Glorioso, já era falava bem o idioma. “Tenho capacidade de aprender rápido”, justificou o estreante à época.
“Ele é realmente um jovem treinador de primeira linha que precisa de uma oportunidade de ter um pouco de tempo para crescer. Acho que ele vai se sair muito bem”, finalizou Adams.