Com a aproximação da COP30, marcada para novembro em Belém, a polêmica sobre os preços das hospedagens na cidade ganhou destaque internacional. O Hotel COP30, situado no centro da capital paraense, virou símbolo da polêmica ao anunciar diárias que chegaram a R$ 7 mil, valor que surpreendeu participantes e delegações estrangeiras.
O estabelecimento, antes chamado Hotel Nota 10, era conhecido por tarifas a partir de R$ 70 a diária. Depois de uma reforma e troca de proprietários, em agosto de 2024, o local recebeu novo nome e modernizou sua estrutura, que agora inclui ar-condicionado, nova mobília e decoração regional. Segundo a equipe, a mudança tinha a COP30 em vista.
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A fachada renovada do hotel veio junto com o anúncio de diárias superiores a R$ 6 mil. O gerente, Alcides Moura, explicou que a estratégia foi um “teste de mercado” e garantiu, ao portal G1, que “nenhuma diária foi vendida por esse valor”. Posteriormente, a administração do hotel informou que revisou as tarifas: passou a oferecer diárias de R$ 2.275 para um quarto duplo com banheiro privativo.


O hotel possui 17 quartos distribuídos em três andares, acessíveis apenas por escadas. Os dormitórios são compactos, com cama de casal, cama de solteiro, armário e banheiro privativo. O terraço no topo do prédio serve como área comum para refeições, onde são oferecidos café da manhã regional e, na semana da conferência, pratos típicos, como maniçoba e pato no tucupi.
Apesar da grande procura, Alcides Moura afirmou que ainda não há reservas confirmadas para o período da COP30. Segundo ele, a maioria das consultas veio de estrangeiros interessados em alugar todos os quartos. “Colocamos no Booking para sentir como o mercado ia reagir”, disse. Ele destacou que, caso haja uma diretriz oficial sobre preços, a administração está disposta a se adaptar.


Reação internacional e impacto na COP30
A crise dos preços em Belém repercutiu na ONU. O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, reconheceu que o valor das hospedagens pode dificultar a participação de países em desenvolvimento e comprometer a legitimidade do evento. “Há uma sensação de revolta, sobretudo por parte dos países em desenvolvimento, que estão dizendo que não poderão vir à COP por causa dos preços extorsivos que estão sendo cobrados.”
Durante uma reunião de emergência do órgão climático da ONU, países africanos sugeriram transferir a conferência para outra cidade, devido à elevação das tarifas, que em alguns casos chegaram a ser 15 vezes superiores ao normal. “Recebemos a garantia de que revisitaremos isso no dia 11 para ter certeza se a acomodação será adequada para todos os delegados”, disse o diplomata Richard Muyungi, da Tanzânia.
Entrei no Site do Booking pq achei que era zoeira 😂
70 K por 2 diárias em Belém, nesse lugar que parece uma Lan House dos anos 90 #COP30 https://t.co/TWnDhQdi0N pic.twitter.com/Jxb2QpXkuz— Pétala (@DVareIa) August 1, 2025
O Brasil assumiu o compromisso de apresentar um relatório sobre soluções para o problema. Até o momento, o governo federal anunciou a contratação de dois navios de cruzeiro para fornecer 6 mil leitos adicionais e abriu reservas com diárias de até US$ 220 para países em desenvolvimento. Mesmo assim, esse valor ainda está acima do auxílio-moradia de US$ 149 concedido pela ONU para delegações mais pobres.
A cidade de Belém, com 1,3 milhão de habitantes, conta com cerca de 18 mil leitos de hotel. A expectativa é receber aproximadamente 45 mil participantes durante a COP30. Relatos de diplomatas apontam que tarifas de hotéis chegam a US$ 700 por pessoa, forçando países a reduzirem suas delegações.
2023 – Hotel Nota 10 custando R$70 a diária
2025 – Hotel COP 30 custando R$6300 a diáriaCriatividade e inflação freestyle total em Belém!
Cada um coloca o preço que quiser, mas no geral o gringo não é idiota a esse ponto. pic.twitter.com/hkqK0wcPJ8— Mochilando na Aviação (@MocAviacao) August 1, 2025
“Não temos acomodações. Provavelmente teremos que reduzir a delegação ao mínimo”, afirmou o vice-ministro do Clima da Polônia, Krzysztof Bolesta, à agência Reuters. Várias lideranças globais pediram a troca da cidade-sede da COP30 devido aos preços exorbitantes das acomodações na capital paraense.
O presidente da Áustria, Alexander Van der Bellen, cancelou a participação do país no evento. Segundo ele, o valor das hospedagens é incompatível com o Orçamento público atual do país europeu.
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