José Miguel Castro Gutiérrez, ex-gerente municipal de Lima e colaborador no processo judicial que investiga a atuação da Odebrecht no Peru, foi encontrado morto em sua residência no último domingo, 29. O Ministério Público confirmou o falecimento e iniciou diligências preliminares para esclarecer as circunstâncias da morte.
Castro era economista e ocupou a gerência municipal durante a gestão de Susana Villarán, entre 2011 e 2014. Nesse período, segundo o Ministério Público peruano, ocorreram pagamentos ilícitos realizados por Odebrecht e OAS para financiar campanhas políticas em troca de benefícios contratuais.
+ Leia mais notícias do Mundo em Oeste
O ex-representante da Odebrecht no país, Jorge Barata, afirmou que Castro solicitou contribuições para a campanha contra a deposição de Villarán e para sua reeleição. As investigações mostram que essas doações foram condicionadas ao favorecimento das empreiteiras em contratos públicos, como o projeto Rutas de Lima e a ampliação da Linha Amarela.
O caso tornou-se um dos maiores desdobramentos da Operação Lava Jato fora do Brasil. As apurações sugerem que a Odebrecht estruturou uma rede de pagamentos irregulares a autoridades peruanas, modelo que se repetiu em outros países da América Latina.
Leia mais:
Atuação da Odebrecht no financiamento político
Em maio de 2019, Susana Villarán admitiu que sabia dos aportes da construtora e declarou que a decisão de aceitá-los foi conjunta com Castro. “Tomei a decisão junto com ele”, declarou na ocasião.
No mesmo ano, Castro passou a colaborar com a Justiça. O fiscal José Domingo Pérez explicou que a colaboração possibilitou abrir novas frentes de investigação contra gestores da empresa municipal responsável pela Linha Amarela e permitiu o pedido de suspensão na cobrança de pedágios.
“Tudo o que o senhor Castro entregou, as provas que se puderam obter como consequência de sua colaboração, foram oferecidas e admitidas para serem apresentadas no julgamento que vai começar contra a ex-prefeita Villarán”, afirmou.


Castro figurava como testemunha-chave e também como réu. A acusação contra ele incluía organização criminosa, corrupção de funcionários e lavagem de ativos, com pedido de pena de 25 anos de prisão. O julgamento está previsto para começar em 23 de setembro no Terceiro Juizado Penal Colegiado Nacional.
Na semana anterior à sua morte, Castro esteve na promotoria para tratar da fase final do processo de colaboração, que deveria ser concluído em julho. O fiscal relatou que ele não mencionou nenhuma adversidade. “Não manifestou naquela oportunidade nenhuma situação de risco, temor ou ameaça”, declarou Pérez. “É por isso que o que ocorreu nos tomou de surpresa.”
A promotoria informou que, com a constatação da morte, a equipe de Medicina-Legal e os peritos da Polícia Nacional compareceram ao local para realizar o levantamento do corpo e as perícias iniciais. Com a morte de Castro, a promotoria pretende solicitar que seus depoimentos sejam lidos durante o julgamento, conforme prevê a lei peruana em casos de falecimento de testemunhas.
Leia também: “A volta dos Irmãos Petralha”, reportagem de Augusto Nunes e Eugenio Goussinsky publicada na Edição 239 da Revista Oeste