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transformar anúncio em ação real

O governo federal lançou, com pompa e discurso de soberania, a medida provisória “Brasil Soberano”, prevendo R$ 30 bilhões em crédito emergencial para exportadores brasileiros afetados pela tarifa extra de 50% imposta pelos Estados Unidos.

A medida tem potencial para evitar perdas expressivas, proteger empregos e preservar mercados estratégicos. No entanto, a falta de definição sobre a taxa de juros, que só será conhecida após reunião do Conselho Monetário Nacional na próxima semana, deixa no ar a pergunta central: quanto custará, de fato, esse socorro?

Entre os setores mais atingidos estão o agronegócio, a indústria de alimentos e bebidas, calçados, siderurgia e eletroeletrônicos de nicho. No caso do agro, as perdas potenciais não se medem apenas em cifras, mas também em diminuição de espaço nos mercados internacionais, algo que dificilmente se recupera rapidamente. Cada dia de incerteza significa oportunidade para concorrentes ocuparem o lugar do Brasil.

O fantasma dos pacotes ineficazes

Não é a primeira vez que vemos anúncios de pacotes bilionários com metas ambiciosas que, na prática, não se materializam como prometido. A burocracia, a morosidade na liberação dos recursos e a falta de critérios claros já transformaram medidas emergenciais passadas em planos frustrados, que chegaram tarde ou nem chegaram aos beneficiários.

No campo, o produtor sabe bem o que isso significa: promessa de crédito que se perde entre ofícios, exigências e formulários intermináveis. Anúncios sem execução são como chuva que cai no mar — fazem barulho, mas não irrigam nada.

O pacote tem também forte componente político. Lula aproveitou o lançamento para criticar o tarifaço de Donald Trump, classificando-o como motivado por “ideologia e retaliação”, e para defender a soberania brasileira.

Mas há um teste de credibilidade em curso: transformar discurso em entrega real. Se o plano não for operacionalizado de forma rápida e eficaz, o governo não apenas perderá a chance de proteger setores estratégicos, como também reforçará a percepção de que o anúncio foi mais retórico do que prático.

O Congresso tem papel central, votando a MP com agilidade, mas também fiscalizando a execução para que o dinheiro chegue onde precisa. Já o setor produtivo, especialmente o agro, precisa pressionar por regras claras, juros viáveis e desembolso rápido, pois, no comércio internacional, o tempo de reação é quase tão importante quanto o valor do auxílio.

O “Brasil Soberano” pode ser um marco na defesa das exportações brasileiras — ou apenas mais um capítulo da longa lista de pacotes que morrem no papel. O resultado vai depender menos das manchetes e mais da capacidade do governo em retirar as amarras da burocracia e colocar o recurso na mão de quem produz e vende para o mundo.

Miguel DaoudMiguel Daoud

*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural


Canal Rural não se responsabiliza pelas opiniões e conceitos emitidos nos textos desta sessão, sendo os conteúdos de inteira responsabilidade de seus autores. A empresa se reserva o direito de fazer ajustes no texto para adequação às normas de publicação.

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