O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta terça-feira, 5, que vai aumentar “muito substancialmente” a tarifa cobrada sobre as importações da Índia nas próximas 24 horas, devido à continuidade das compras de petróleo russo. A taxa atual cobrada sobre produtos indianos é de 25%.
Em entrevista à emissora norte-americana CNBC, Trump criticou o lucro obtido pela Índia ao revender parte do petróleo russo, além de acusar Nova Déli de insensibilidade diante da guerra na Ucrânia. “Eles estão alimentando a máquina de guerra e, se vão fazer isso, não ficarei feliz.”
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Na véspera, o presidente dos EUA escreveu nas redes sociais que a Índia “não está apenas comprando quantidades massivas de petróleo russo, mas também, para grande parte do petróleo adquirido, vendendo-o no mercado aberto com grandes lucros.”
“Eles não se importam com quantas pessoas na Ucrânia estão sendo mortas pela máquina de guerra russa”, afirmou em seu perfil na Truth Social. “Por causa disso, aumentarei substancialmente a tarifa paga pela Índia aos EUA.”
O governo indiano classificou as críticas como injustificadas. Randhir Jaiswal, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, tratou como “irracional” o direcionamento contra a Índia e explicou que o país optou pelo petróleo russo depois de ter seus fornecedores tradicionais desviados para a Europa.
Segundo Jaiswal, os próprios EUA incentivaram essas importações, para manter o equilíbrio energético global.


Rússia fornece 1/3 do petróleo indiano
Washington já havia informado, na semana passada, a decisão de impor tarifa de 25% sobre produtos indianos. O anúncio veio depois da falta de acordo sobre a redução de taxas para exportações da Índia, diferentemente do que foi feito com a União Europeia e outros parceiros.
Ajay Srivastava, do Global Trade Research Initiative, rebateu as alegações de Trump. Ele diz que “a Índia é importadora líquida de petróleo bruto, e suas exportações globais de petróleo bruto são zero”. No entanto, Srivastava reconheceu a exportação de combustíveis refinados a partir do petróleo russo.
Dados da provedora de dados Kpler mostram que a Índia se tornou o principal comprador de petróleo bruto russo em 2023, com 89 milhões de toneladas adquiridas, número cerca de 50% superior ao da China.
Statement by Official Spokesperson⬇️
🔗 https://t.co/O2hJTOZBby pic.twitter.com/RTQ2beJC0W— Randhir Jaiswal (@MEAIndia) August 4, 2025
No mesmo período, a Rússia representou um terço das importações indianas, cerca de 550 milhões de barris, enquanto os EUA exportaram apenas 52 milhões de barris ao país, conforme dados da provedora LSEG.
Índia e EUA tiveram desgaste diplomático
As relações entre Trump e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, sofreram forte desgaste nas últimas semanas. Em fevereiro, os países anunciaram intenção de criar uma parceria de defesa de dez anos, mas o acordo ainda não foi formalizado. Em 2024, o comércio bilateral superou US$ 129 bilhões, mantendo os EUA como maior parceiro comercial da Índia.
Apesar de sinais recentes de um possível acordo, como sugeriu o ministro do Comércio indiano, Piyush Goyal, um entendimento não foi alcançado. O envolvimento de Trump no conflito Índia-Paquistão em maio, quando afirmou ter intermediado um cessar-fogo, também contribuiu para o esfriamento das relações.


“Adeus ao romance entre Modi e Trump e ao relacionamento supostamente próximo entre dois aliados geopolíticos em ascensão”, avalia Eswar Prasad, professor da Universidade Cornell.
Ao jornal britânico Financial Times, ele disse que o cenário atual representa “um revés duro e doloroso para a Índia, que estava perto de garantir um acordo comercial gradual e esperava benefícios significativos de comércio e investimento por ser vista como aliada geopolítica dos EUA”.
Leia também: “Fracasso e infâmia do Brics“, reportagem de Carlo Cauti publicada na Edição 277 da Revista Oeste