Não é todo dia que o líder do mundo livre e maior desafeto do establishment global vira porta-voz involuntário de uma parcela significativa da população brasileira. Pois foi o que aconteceu essa semana, com a manifestação de Donald Trump sobre o regime de exceção no Brasil, conduzido pelo consórcio STF-PT. Em seu estilo afiado e direto, o presidente norte-americano bradou: “Leave Bolsonaro alone!” — ou, em bom português, “Deixem Bolsonaro em paz!”.
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Mas não se tratou apenas de uma defesa de Jair Bolsonaro, com quem Trump tem afinidades pessoais e identificação política. A fala consistiu, sobretudo, num claro um alerta ao Partido-Corte para que pare de tratar os apoiadores de Bolsonaro, e os direitistas como um todo, como inimigos do Estado. Trump lançou um petardo contra a juristocracia que tomou o país de assalto, capitaneada por Alexandre de Moraes, com a cumplicidade de todo o Supremo Tribunal Federal (STF). Munido de toga e um arsenal de inquéritos, Moraes transformou o STF num tribunal de exceção, onde a Constituição virou mero adereço e o arbítrio, a regra.
A sabedoria de Trump
Trump sabe bem do que está falando. Ele próprio foi vítima de uma campanha sistemática de lawfare em seu país, promovida pelo deep state norte-americano, uma burocracia aparelhada a serviço de um projeto de poder. Ao olhar para o Brasil, reconhece um padrão familiar: a instrumentalização do Judiciário para fins políticos. Aqui, sob a batuta autoritária de Moraes, e a execução virtuosista do spalla Gilmar Mendes, o STF abandonou a função de guardião da Constituição. Em vez disso, transformou-se num comitê de censura, repressão e imposição da agenda política da extrema esquerda, bloqueando redes sociais, silenciando adversários, intimidando jornalistas e prendendo opositores com base em inquéritos ilegais e permanentes, conduzidos sem qualquer controle externo.
O resultado? Segundo pesquisa recente da AtlasIntel, nada menos que 42,8% dos brasileiros veem o Judiciário como a principal ameaça à democracia — percepção que, embora grave, ainda é subestimada por uma classe política que prefere fazer vista grossa ao avanço da juristocracia e celebrada por uma imprensa amestrada com verbas e petiscos ideológicos.


Os algozes de Bolsonaro
O colapso da democracia brasileira pode ser simbolizado pela fala despudorada de Gilmar Mendes, que, com uma naturalidade advinda da sensação de completa impunidade, elogiou abertamente o regime ditatorial chinês, afirmando que “todos aqui” — e ele se referia aos seus pares de Partido-Corte — “admiram o modelo de Xi Jinping”. A frase revela com clareza o ideal de governança que embala a Nomenklatura de toga: um Estado forte, autoritário, onde o povo obedece e cala — sob risco de ser censurado, preso ou degredado (digital ou virtualmente).
Embora venha de fora, ou especialmente por vir de fora da câmara de eco de Brasília, a contundente manifestação de Trump coincide com o que milhões de brasileiros pensam, mas poucos têm coragem de dizer: o Brasil foi vítima daquilo que estudiosos do assunto costumam chamar de “golpe de Estado jurídico” (juridical coup d’état), uma ofensiva contra o Estado de Direito travestida de legalismo. Não se trata mais de proteger a democracia, mas de eliminá-la, usando as instituições como armas. Só que, agora, ninguém menos que o presidente dos EUA surge como um obstáculo imprevisto.

