“Bad Beat” é o nome que se dá nos jogos de cassino a um erro do jogador. Trump é empresário de cassinos e fez uma jogada errada por ignorar o complexo agroindustrial de agribusiness, fundamento criado em Harvard (academia que Trump também não entende) e que gerou a expressão agronegócio no Brasil.
Um sistema de “input e output”, cadeia de valor onde a originação dos alimentos, fibras, energias renováveis para entrar no sistema de produção das corporações que chegam nos supermercados, fast food, cafeterias, restaurantes e nas mesas do mundo tem compliance, certificações, exigências ESG, hoje um “agroconsciente”, portanto não se substitui mais matérias-primas, insumos, ingredientes semi-processados originados na agricultura por agricultores que constituem o supply chain de uma marca de alimentos, bebidas, roupas, energia, beleza, numa canetada à moda antiga.
Trump jogou errado: “Bad Beat”. No caso do agronegócio, o maior prejudicado direto são as cadeias de valor do complexo agroindustrial norte-americano, pois o que vendemos para os Estados Unidos são produtos agropecuários com segurança agroambiental, com nível de processamento inicial, mas que receberão gigantesca agregação de valor lá nos Estados Unidos, um agronegócio que significa de US$ 5 trilhões a US$ 6 trilhões versus o nosso, em torno de US$ 500 bilhões. São 10 vezes maiores lá. Trump erra para lá e para cá.
Agregação de valor é lá
Por exemplo, o total das exportações de café do Brasil para os Estados Unidos está na casa de US$ 2 bilhões. E quanto esse montante é transformado em agregação de valor na indústria de café dos Estados Unidos, hoje o maior consumidor mundial, e nas redes das cafeterias? Apenas para dar um exemplo para erguer nossos pensamentos acima das polarizações políticas, apenas uma rede de cafeterias, a Starbuck, fatura por ano acima de US$ 36 bilhões. Quer dizer, se olharmos o total das exportações brasileiras para os Estados Unidos, de tudo o que exportamos, total de US$ 40 bilhões, somente uma rede de cafeterias, a Starbuck, movimenta quase o total de dólares de todas as nossas exportações.
E sobre o café, o nosso maior item exportado aos Estados Unidos, conversei com o CEO do Conselho de Exportadores de Café (Cecafé), Marcos Antônio Matos, e ele me disse: “O Cecafé acompanha com muita atenção as discussões das tarifas nos Estados Unidos e é importante mencionar que os EUA é o país mais importante em termos de consumo de café, ao redor de 24 milhões de sacas, e o Brasil é o principal fornecedor nesse mercado, com mais de 30% do market share. Nós estamos fazendo todo um trabalho, uma agenda positiva, junto aos nossos parceiros, a National Coffee Association, e membros dessa associação junto à administração Trump porque existe uma agenda positiva nesse sentido. Importante lembrar que o café gera muita riqueza nos Estados Unidos, que é um país que importa café e agrega valor na industrialização. Para cada US$ 1 de café importado são gerados US$ 43 na economia americana, são 2,2 milhões de empregos, 1,2% do PIB norte-americano, uma vez que são gerados US$ 343 bilhões na economia; 76% dos americanos tomam café. O café é muito mais consumido do que qualquer outra bebida hoje no mercado. Nós temos a esperança de que o bom senso prevaleça, a previsibilidade de mercado, porque nós sabemos que quem vai ser onerado é o consumidor norte-americano e tudo que gera impacto sobre o consumo é ruim para o fluxo do comércio, para a indústria e para o desenvolvimento dos países, para produtores e consumidores. Portanto, estamos esperançosos de que nós tenhamos uma condição muito mais apropriada e adequada para o comércio de café do Brasil para os Estados Unidos”.
Portanto, como bem coloca o Matos, CEO do Cecafé, há uma gigantesca agregação de valor na industrialização, comércio e serviços realizada lá pelos norte-americanos. Para cada US$ 1 importado de café pelos Estados Unidos, são gerados US$ 43 de valor agregado na economia americana.
Os outros setores, da mesma forma. Não vendemos produtos para o consumidor final dos Estados Unidos. Vendemos matérias-primas, insumos e semiprocessados como sucos, e o suco de laranja que representa um pouco mais de US$1 bilhão, entra nos mercados em misturas sob marcas de grandes multinacionais como da própria Coca Cola e outros.
Agronegócio virou agroconsciente. A agricultura decide a preferência do consumidor e o valor das marcas
Algo que o presidente Trump ignora, com certeza, o que o levou a fazer essa “Bad Beat” no cassino planetário que ele manipula das taxações, está no fato de que agronegócio é um sistema agroindustrial hoje sob total vigilância e compliance ESG. Para um processador industrial de alimentos ou bebidas incluir matérias-primas oriundas de qualquer fornecedor, esse originador precisa realizar e provar todas as suas práticas ambientais e sustentáveis.
Portanto, não é mais possível substituir de uma hora para outros fornecedores das indústrias, das grandes corporações mundiais que dominam os supermercados, e serviços de alimentos e bebidas numa canetada. Isso é um erro, um “Bad Beat”, presidente Trump.
No mundo da moda a originação ESG é sagrada
O couro, no mundo fashion, vendemos cerca de US$ 330 milhões. Essa cadeia produtiva é toda rastreada e controlada, certificada.
Assim para todos os demais produtos brasileiros vendidos nos Estados Unidos: produtos florestais, açúcar, carnes, nozes, castanhas, cacau, mel, óleos, mate, hortícolas, lácteos, fumo, até plantas e flores, toda essa originação brasileira para ser substituída por outros países exigirá rigores de procedência ESG impossibilitando a prática a curto prazo dessa “Bad Beat”, jogada equivocada do presidente Trump.
Portanto, não tenho dúvida: os setores empresariais dos Estados Unidos e do Brasil, com a diplomacia a serviço dos estados reunidos, irão reverter e resolver esse engano, que se serviu para atiçar raivas e ódios de facções políticas, não servirá para estragar cadeias de valor fundamentais tanto para os Estados Unidos e para o Brasil com 200 anos de sucesso, inclusive maior para os americanos, pois compramos mais deles do que vendemos para eles. Os agronegócios USA & brasileiro jogarão as jogadas certas da inteligência comercial para ambos.
Foi mal essa Mr. Trump, “Bad Beat”. Cuidado o “TACO” está pegando. Vale a pena ouvir Beat it, sucesso de Michael Jackson: “Beat it” onde a amizade vence a violência. E vamos para a agenda positiva.


*José Luiz Tejon é jornalista e publicitário, doutor em Educação pela Universidad de La Empresa/Uruguai e mestre em Educação Arte e História da Cultura pela Universidade Mackenzie.
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