No Brasil, a fórmula para fazer açúcar é uma só há séculos. Moer a cana-de-açúcar, aquecer o caldo para tirar toda a água e bater até surgir um pó fácil de dissolver. Nos Estados Unidos, não é bem assim. Lá, a maior parte vem de outras duas matérias-primas: a beterraba e o milho. Donald Trump, presidente norte-americano, disse contar com a Coca-Cola para mexer nesse jogo.
+ Conheça Curiosamente e descubra o que esconderam de você
Trump fez o anúncio nas redes sociais. Segundo o político, a marca concordou em experimentar o açúcar de cana na Coca-Cola nos EUA. “Será uma ótima iniciativa deles — vocês verão”, escreveu. “É simplesmente melhor!”
Açúcar nos EUA
Embora o agro norte-americano também use cana para fabricar o adoçante, a produção local com essa matéria-prima responde por apenas pouco mais de 25% do consumo nacional. São 3,5 milhões de toneladas, diante de uma demanda de 13 milhões. Do adoçante feito com beterraba, vêm mais 5 milhões. Ou seja: mesmo com as duas fontes juntas, o volume fica abaixo da necessidade do país.
Uma parte da carência se resolve com a importação de milhões de toneladas. A outra, simplesmente, com substituições. Esse é exatamente o caso da Coca-Cola atualmente. A icônica marca de refrigerantes usa xarope de milho — um insumo que entrou na mira de Robert F. Kennedy Jr., secretário da Saúde do governo Trump.
Na Casa Branca, o cargo de secretário equivale ao de ministro no governo brasileiro. Kennedy manifestou preocupação com os efeitos do xarope de milho sobre a população. Assim, a mudança de matéria-prima entrou na pauta da saúde pública.
O melhor do mercado
A maior fonte para tornar o mundo mais doce tem nome e sobrenome: o agro do Brasil. Mais do que campeão, o país é praticamente um líder isolado nesse mercado. A produção nacional é de quase 45 milhões de toneladas de açúcar por ano. No mesmo período, os indianos produzem menos de 30 milhões de toneladas — e eles ocupam a segunda posição no ranking mundial. Ao mesmo tempo, a União Europeia precisa da soma de todos os países-membros para gerar pouco mais de 15 milhões de toneladas. O bloco é o terceiro colocado na lista global.
Atualmente, o agro do Brasil exporta mais de 35 milhões de toneladas. Isso representa mais da metade de todo o mercado entre países. Além disso, uma em cada quatro colheres consumidas pela humanidade foi produzida pela indústria brasileira — com a cana cultivada no país.
A Coca-Cola já usa exclusivamente o açúcar dessa fonte em seus refrigerantes no mercado brasileiro. Ou seja: o anúncio de Trump não muda a fórmula nacional. Ainda assim, a indústria local pode se beneficiar, ao menos no curto prazo. A demanda internacional deve aumentar, e ninguém ganha mais com isso do que o Brasil — que emprestadará um pouco do seu gostinho para os EUA.